A respeito da iniciação de um Neófito

Olá a todos.

Após alguns meses de leitura interessada em materiais da A∴A∴ e de ocultismo em geral, me encontro inclinado a entrar em contato com uma das linhagens e solicitar minha iniciação como Estudante dos Mistérios. Porém, há algo que me aflige.

No site da ordem é mencionado que ao final do período de Probação é realizado o Ritual DCLXXI, vel PYRAMIDOS. Embora eu tenha a noção que ainda existe um longo caminho para que eu chegue nesse estágio, a passagem "cuts a cross with the Daggar upon his breast" muito me incomodaria, uma vez que tenho total aversão a este tipo de prática.

Embora eu já tenha lido em alguns lugares que uma vez iniciado na ordem, eu não seria forçado a agir contra a minha própria vontade, me pergunto se isto também seria válido neste caso, uma vez que se trata de um ritual tão importante. Considerando, claro, que o ritual menciona um corte literal, e não alguma metáfora que eu ainda não compreenda devido ao meu pouco conhecimento.

Ademais, algum membro da tradição poderia discorrer sobre suas experiências pessoais sobre este assunto?

Grato de antemão pelas respostas.

Não tenho certeza se todas as chamadas “linhagens” fazem uso desse ritual em específico, entretanto, quando você se propõe a entrar para uma Ordem você deve entender que ela tem a sua sistemática de ensino, assim como sua ritualística, e isso você não irá mudar. É claro que você pode optar por não se submeter, mas nesse caso estará fazendo as coisas de acordo com seu próprio juízo e não em conformidade com o que está sendo ensinado/solicitado, e nesse caso não precisa de Ordem alguma.

Outros rituais fazem uso desse mesmo recurso, como é o caso da Missa da Fênix, quando você deve fazer verter uma gota de sangue do peito num determinado momento do ritual (uma gota, não um chafariz!). Há também exercícios, como Jugorum, em que cortes na pele são infligidos durante o controle do discurso/ação. Nesse último caso você ainda poderia trocar a punição por algo menos aversivo, no entanto seria menos efetivo, posto que o desconforto é parte fundamental no processo.

Suas aversões dizem muito sobre você, e o domínio de si mesmo e de seus próprios limites é uma parte imprescindível do trabalho. Corpo e mente são bestas selvagens; ou seu Espírito e capaz de domá-los e fazer deles instrumentos sob vontade, ou estará eternamente à mercê do caprichos dessas reses.

Caro Aluvaia, meu muito obrigado por sua disposição em esclarecer minha dúvida. Caso seja possível, peço novamente por iluminação.

Você mencionou que "e nesse caso não precisa de Ordem alguma.". Já ponderei muito sobre esta opção, uma vez que minha hesitação perante algumas práticas da A∴A∴ me mostra que talvez eu não esteja preparado a me por em provação por seus caminhos. Porém, algumas questões me vem a mente.

Como o Thelema é um sistema muito denso, e baseado em diversas práticas e culturas, tais como cabala, yoga etc, me pergunto se existe um documento de alguma espécie que tenha sido escrito por, ou para, alguém que deseja buscar a iluminação através de seus próprios meios. Eu sei que existem muitos materiais pela internet, mas sua enorme abundância me impede de visualizar um norte concreto para que eu possa iniciar meus estudos.

Outra questão é a respeito do ego. Como exposto no Publication for Probationers:

"Pois o verdadeiro conhecimento é obtido pela experiência, e este método põe nas mãos do Probacionista os meios de aquisição dessa experiência para si mesmo; enquanto ao mesmo tempo o ensina a se proteger evitando assim todo medo de se tornar obcecado, uma vítima da loucura, ou um escravo da ilusão."

Imagino que a principal ferramenta para tal seja a tradição guru-shishya parampara, de forma que um magista mais experiente auxilie um magista menos experiente a se tornar senhor de seu poder, não seu escrevo. Existe alguma prática efetiva para os autodidatas?

Novamente, grato de antemão pelas respostas.

Se você não está disposto a fazer isso, fique sabendo que as ordálias da iniciação são 10x piores do que um simples corte. Assumir a posição de iniciado temendo um pequeno corte é algo que não faz sentido. Recomendo que desista. No momento em que você assume o titulo de propacionista ou neofito, você está declarando que o universo venha a testar você. E posso lhe assegurar que tais "testes" são muito piores do que um corte. Aconselho que desista imediatamente. Você não parece saber o que está fazendo.

Caro Nelsonricardo. Obrigado por sua resposta.

Como eu demonstrei em meu comentário anterior, estou repensando minha afiliação à Ordem.

Espero que não interprete minha fala a seguir como sendo prepotente ou ríspida. Se faço questionamentos a você ou a qualquer outro membro deste fórum, os faço com o mais solene respeito e com a mais profunda curiosidade de encontrar meu caminho de evolução. Mas como todo leigo, minha falta de compreensão pode fazer com que minha fala soe arrogante, o que não é o caso.

Mas, baseado apenas em minha aversão à prática de ferir-me com objetos cortantes é possível dizer que eu não seria capaz de suportar as ordálias de um iniciado? Digo isto no sentido de que você não conhece minha história, o que eu já fui capaz de superar ou minha personalidade.

Ademais, as dificuldades do caminho não seriam diferentes para cada um que o trilha? Você menciona "um simples corte". Não seria o corte simples em sua perspectiva?

Grato pela oportunidade de obter conhecimento.

Icarus, converse sobre o Pyramidos/Throa com o Neófito que te receber na ordem. Acredito que adaptar não seja um problema.

Para você ter ideia, a maioria das pessoas que eu conheci que praticaram Jugorum usaram outro método, e não cortes, para causar dor.

Acho que aqui cabe uma observação: Thelema não é um sistema denso, ao contrário, trata-se de algo absolutamente simples, expresso da maneira mais sucinta do mundo pelo axioma “Faz o que tu queres há de ser o todo da Lei. Amor é a lei, amor sob vontade.”, ou seja, age em conformidade com a tua Verdadeira Vontade. Eis Thelema, seu coração, exposto… e oculto.

Densos, variados e multifacetados são os caminhos capazes de levar você a consecução desse simples adágio, e sobre isso cabe mencionar que uma pessoa pode ser levada pelo influxo da diretriz sem jamais ter ouvido uma palavra sobre ela. Com isso quero lhe dizer que existem muitas ordens (de cunho thelêmico ou não), a A.’.A.’. é apenas uma delas. Thelema não é propriedade dessa ordem, aliás de ordem alguma, Thelema é a palavra do Aeon, é um legado dado à Humanidade inteira.

Como cumprir com o que Thelema preconiza? Pela via do autoconhecimento e do autodomínio. E é isso o que uma ordem faz nos seus graus mais fundamentais, ensina você a conhecer quem você é e como dominar seu corpo e sua mente de maneira a que você tenha a capacidade de descobrir o que você quer (sua Verdadeira Vontade). E depois é com você, uma vez descoberta a sua V. V. nada te é permitido fazer senão cumpri-la (e há neste um mandamento perigoso!). As ordens são caminhos para chegar a um determinado fim, e a A.’.A.’. é um dos mais árduos, mas aparentemente dá certo e, no final das contas, é o que deveria importar para o Buscador sincero. O Probacionista coloca-se à disposição para ser testado, como diz o nome do grau, ser colocado à prova é sua Vontade.

Entenda, thelema, em última instância, é uma experiência íntima, ou seja, não pode ser ensinada porque não é igual para todos. A relação instrutor/instruído é superestimada por alguns e subestimada por outros. Na minha opinião ela é importante, mas não fundamental; a Vontade, a obstinação, o empenho, a disciplina são fundamentais.

Até onde sei não existe um manual para o magista autodidata. Acho que um primeiro passo importante é ler de tudo com o devido senso crítico, e um segundo passo seria selecionar conhecimentos para começar a colocar em prática (nada diferente do que indica a A.’.A.’.), sempre tendo em vista os pontos já destacados: autoconhecimento e autodomínio. Iniciações cerimoniais por si só não são nada, não passam de ritualística vazia se você não for capaz de ver o mundo com outros olhos de maneira permanente, e o que é mais importante, modificar a si mesmo mediante essa nova capacidade de enxergar a vida.

A vida é a maior de todas as iniciações, pelo menos para alguns. Porque no final das contas, a única coisa que muda é o jeito como você entende, encara e se comporta perante o Universo. Esses tempo li em algum lugar algo muito ilustrativo a respeito que dizia: “Antes de alcançar Samadhi eu varria o pátio e tirava água do poço; agora, depois de alcançar Samadhi, eu varro o pátio e tiro água do poço”. E é bem assim, não tem glamour nenhum, ao contrário, é só pedreira, mas não é um caminho obrigatório, você opta, e que seja feita a sua vontade, seja ela qual for.

Acho que isso não passa de besteira. Em um estágio ou outro vc deverá desconstruir tudo isso, dependendo de onde você quiser chegar. Eu não disse que se cortar é algo obrigatorio, mas comparado à tragetoria de um iniciado, isso não é nada. Eu acho que um ponto de vista sevéro é sim muito útil e eu nem sequer espero reconhecimento por isso. Praticamente todas essas aversões deveriam ser enfrentadas um dia. Você não deve deixar nada. Uma coisa só que você cogitar, é uma falha.

Galera qual seria o objetivo completo deste ritual? Alem de iniciar o probacionista na ordem é claro…