Acho que aqui cabe uma observação: Thelema não é um sistema denso, ao contrário, trata-se de algo absolutamente simples, expresso da maneira mais sucinta do mundo pelo axioma “Faz o que tu queres há de ser o todo da Lei. Amor é a lei, amor sob vontade.”, ou seja, age em conformidade com a tua Verdadeira Vontade. Eis Thelema, seu coração, exposto… e oculto.
Densos, variados e multifacetados são os caminhos capazes de levar você a consecução desse simples adágio, e sobre isso cabe mencionar que uma pessoa pode ser levada pelo influxo da diretriz sem jamais ter ouvido uma palavra sobre ela. Com isso quero lhe dizer que existem muitas ordens (de cunho thelêmico ou não), a A.’.A.’. é apenas uma delas. Thelema não é propriedade dessa ordem, aliás de ordem alguma, Thelema é a palavra do Aeon, é um legado dado à Humanidade inteira.
Como cumprir com o que Thelema preconiza? Pela via do autoconhecimento e do autodomínio. E é isso o que uma ordem faz nos seus graus mais fundamentais, ensina você a conhecer quem você é e como dominar seu corpo e sua mente de maneira a que você tenha a capacidade de descobrir o que você quer (sua Verdadeira Vontade). E depois é com você, uma vez descoberta a sua V. V. nada te é permitido fazer senão cumpri-la (e há neste um mandamento perigoso!). As ordens são caminhos para chegar a um determinado fim, e a A.’.A.’. é um dos mais árduos, mas aparentemente dá certo e, no final das contas, é o que deveria importar para o Buscador sincero. O Probacionista coloca-se à disposição para ser testado, como diz o nome do grau, ser colocado à prova é sua Vontade.
Entenda, thelema, em última instância, é uma experiência íntima, ou seja, não pode ser ensinada porque não é igual para todos. A relação instrutor/instruído é superestimada por alguns e subestimada por outros. Na minha opinião ela é importante, mas não fundamental; a Vontade, a obstinação, o empenho, a disciplina são fundamentais.
Até onde sei não existe um manual para o magista autodidata. Acho que um primeiro passo importante é ler de tudo com o devido senso crítico, e um segundo passo seria selecionar conhecimentos para começar a colocar em prática (nada diferente do que indica a A.’.A.’.), sempre tendo em vista os pontos já destacados: autoconhecimento e autodomínio. Iniciações cerimoniais por si só não são nada, não passam de ritualística vazia se você não for capaz de ver o mundo com outros olhos de maneira permanente, e o que é mais importante, modificar a si mesmo mediante essa nova capacidade de enxergar a vida.
A vida é a maior de todas as iniciações, pelo menos para alguns. Porque no final das contas, a única coisa que muda é o jeito como você entende, encara e se comporta perante o Universo. Esses tempo li em algum lugar algo muito ilustrativo a respeito que dizia: “Antes de alcançar Samadhi eu varria o pátio e tirava água do poço; agora, depois de alcançar Samadhi, eu varro o pátio e tiro água do poço”. E é bem assim, não tem glamour nenhum, ao contrário, é só pedreira, mas não é um caminho obrigatório, você opta, e que seja feita a sua vontade, seja ela qual for.