Algumas considerações sobre os três Véus do Negativo (Ain, Ain Soph e Ain Soph Aur)

Algumas considerações sobre os três Véus do Negativo (Ain, Ain Soph, e Ain Soph Aur)

Considero o Nada um dos principais assuntos do século XXI. Tanto em Ciência, com o entendimento do Espaço Infinito e sua Substância e uma possível relação desta substância com a Substância presente no Espaço (a existência, o ser). Tanto em filosofia Contemporânea, com Heidegger, presente em seus escritos que falam sobre Metafísica (“O que é Metafísica” e “Posfácio e introdução a O que é Metafísica” e em Sartre, com sua compreensão da Consciência como Nada, conforme seu livro “O Ser e o Nada”). O Nada também está presente no Ocultismo, como um entendimento deste assunto após o Abismo de Daath, ou mesmo a concepção de Nada no conceito de Tao, para os chineses, e também na Cabala Judaica com estes três véus do negativo. E também como presente no Livro AL Vel Legis.
Este pequeno Texto fará um comentário sobre os Três Véus do Negativo da Cabala Judaica Ain, Ain Soph, e Ain Soph Aur, embora, muito o que será escrito neste comentário destoa de algumas interpretações destes três véus por alguns comentadores.

Então, começarei a apresentação de uma explicação sobre O Nada, (Ain), o Nada como sem limites, (Ain Soph), o Nada- Luz-ilimitada (Ain Soph Aur)

O Nada como o vazio (Ain), pode ser admitido pela Razão. O Vazio pode ser admitido enquanto espaço-sem-ser. Este Nada como Vazio é o primeiro fundamento de Tudo; para haver Ser tem que haver este Nada fundamental onde o Ser está (habita), que seria o Espaço Infinito Vazio. Na escala do mais importante, do mais essencial, do primeiro fundamento, no “antes de qualquer coisa” (não no sentido causal, ou cronológico, ou criacional, mas, antes, como o mais profundo fundamento para haver qualquer coisa, até mesmo o tempo e o ser), para mesmo haver qualquer coisa, é necessário este Nada, vazio, onde o Ser (qualquer existência) está. Mas (aqui existe uma ressalva teórica e uma crítica ao criacionismo ou a qualquer teoria que formule a origem do Ser por este Nada), este Nada não existe como o primeiro existente, como se dele saísse a existência; como se pudesse haver em um momento este Nada e não o Ser, e, em um instante misterioso e inexplicável o Ser “brotasse” deste Nada. Este Nada é simplesmente o “primeiro” e mais essencial fundamento da existência (base), e não o primeiro no sentido de causalidade, de precedência em relação à existência. Simplesmente, para haver existência é necessário este Nada enquanto Vazio (Ain). Junto com esta tese aqui apresentada (além deste Nada Vazio como fundamento absoluto) há a tese da existência ser Eterna, ou seja, alguma coisa deve, necessariamente já sempre ter existido (o Ser é eterno); sempre houve uma existência. Até mesmo para a teoria criacionista, a existência não surgiu do Nada, mas, antes, de Deus, Deus (um existente) é eterno (sempre existiu). Ou seja, a existência não pode surgir, absolutamente do Nada Absoluto. Isso seria, racionalmente, logicamente, impossível. A tese de que houve um Nada primeiro e originário da existência pode ser criticada através de algumas simples perguntas: Por que o Ser surgiu naquele momento da criação e não antes? Como pode algo surgir do Nada Absoluto? Como pode o Não-movimento, produzir o Movimento? De onde se tiraria a primeira “motiva-ação”?

O Nada Absoluto (Ain), produz necessariamente, conceitualmente, o Ain Soph (sem limite), mas não o Ain Soph Aur.

Ora, este Nada Absoluto (Ain) deve ser ilimitado (Ain soph), pois, senão, teria fronteiras, teria limites, e, assim, seria alguma coisa extensa. Aquilo que existe e que é ilimitadamente existente é a própria Substância do Espaço Infinito ilimitado, ou seja, o Ain Soph Aur (Nada-Luz-Ilimitada). Logo, segue-se que o Ain (enquanto vazio absoluto) é também o Ain Soph ao mesmo tempo, pois este vazio deve ser ilimitado em sua vastidão vazia infinita.

O Ain Soph não produziu as Sephirot. As Sephiroto não emanaram deste Nada-Luz-ilimitado. O Ser sempre existiu eternamente no corpo deste Espaço Infinito Ilimitado, ou Nada-Luz-Ilimitado.

A substância que preenche este Nada sem limites (Ain Soph) é o Nada-Luz-Ilimitada (Ain soph Aur). Este Nada-Luz-Ilimitada existe sobre este Nada ilimitado. Aqui se separa o Nada enquanto vazio da sua própria Substância , pois, se tirarmos toda esta substância do Espaço Infinito Ilimitado (Ain Soph Aur) ainda sobraria o Nada Absoluto Ilimitado (Ain, Ain Soph). A substância que ocupa todo o Vazio ilimitado do Nada é, também, ilimitada. Este Nada-Luz-Ilimitada é infinita, sem fim (o que já está contido no próprio conceito de ilimitado), sendo assim, não possui uma quantidade; não possui uma origem de onde é vertida; também não foi criada, produzida em um momento; o Ain Soph Aur sempre existiu junto com o Ain e o Ain soph. Estes três Véus do Negativo são três mais são Um. Inseparáveis, um presumindo e necessitando do Outro (ha não ser pelo fato de que, se pudéssemos esvaziar o Espaço de sua Substância, ou seja, o Ain Soph Aur do Ain Soph, ainda sobraria o Ain Soph, ou seja, o Ain Soph é mais necessário e fundamental que o Ain Soph Aur, e por isso, é posto como o terceiro na escala dos Véus do Negativo.

Este Nada-Luz-Ilimitada (Luz sem limites, Ain Soph Aur) é chamada de luz. Mas, por que Luz? Toda luz se manifesta de um ponto. Como, por exemplo, a luz de uma lâmpada se origina da lâmpada, e a luz da terra do Sol. Mas esta luz ilimitada não se origina de um ponto emissor da luz. Ela está por tudo presente e sem origem. Este é um dos motivos de se chamar também de Nada, pois não possui origem, não é um ponto, ou uma ausência, é uma presença ilimitada e infinita. É o Nada porque justamente é ilimitada e infinita, não pode ser definida ou apreendia em sua Totalidade. Ora, uma luz sem ponto de origem, uma luz com nada para iluminar, uma luz sem objetos e olhos para vê-la, é escuridão. Uma luz sem objetos para iluminar e sem olhos para vê-la é Negra e não Brilhante.

Tudo aquilo que existe. Seja um deus, seja a Natureza, o Universo, ou seja, o Ser em sua totalidade, existe dentro de Ain Soph Aur, e possui dele a base e primeiro fundamento de sua existência.

Ain Soph Aur é aquilo que possibilita o Movimento. Se o espaço fosse vazio de substância não haveria movimento no Espaço. No Vazio Absoluto nada pode se movimentar. O movimento presume “se movimentar sobre um lugar”, este Lugar cósmico de movimento dos corpos celestes é o Espaço Infinito Ilimitado e sua Substância onde os corpos se movimentam. Assim como um peixe se movimenta pelas águas, o Homem pelo ar, os corpos celestiais se movimentam pelo Ain Soph Aur. Acredito que este a Substância do Espaço Infinito (Ain Soph Aur), não se movimente assim como se movimenta as águas para o peixe, ou o ar para o Homem. Acredito que não há um abalo devido ao movimento nesta substância; não há um deslocamento. O corpo não ocupa o lugar, como o peixe ocupa o lugar onde estava a água ou o Homem ocupa o lugar onde estava o Ar. Sobre o Espaço Infinito não há este deslocamento de Matéria, pois a substância do Espaço é ilimitada. Não pode se movimentar, se deslocar, ceder lugar e ocupar outro espaço. Sendo assim, o movimento do corpo celeste seria como se o peixe ao se movimentar não movimentasse a água, ou seja, a água seria tão tênue, tão suave e penetrante ao extremo que atravessaria todo o peixe, e seus átomos e partículas, atravessaria completamente o peixe, como um pano que fosse jogado no mar, e as águas do mar encharcariam e tomariam completamente este pano, infiltrando em todas as suas partes, atravessando todo seu ser.

Esta seria a natureza desta Luz Ilimitada que é a Substância do Espaço Infinito. Ela não seria uma partícula, mas toda homogênea, repleta, e tão tênue que penetraria e atravessaria todo o Ser.

Poderíamos falar de vários tipos de Nada. A Consciência como Nada, explicação presente no Ser e Nada de Sartre, mas já pressuposta desde Husserl com a teoria da Intencionalidade da Consciência. Sartre até mesmo, na introdução do Ser e o Nada, já formula a hipótese da Consciência como algo infinito e ilimitado por não possuir um ponto, por não ser um “algo”, um ente, assim, não possuindo um limite, ilimitada.
Poderíamos falar, também, como o Nada como a União do Todo. Como presente em Heidegger. Que formula a hipótese de que o Ser é insignificante pois possui todas as significâncias, e não é nenhuma delas, e, ao mesmo tempo, é todas elas (aqui a meditação do meditador deve meditar até o limite). O que se equivale, por exemplo, a conta Thelêmica 0=2; ou Tudo=Nada; e até mesmo uma das formas de se entender Nuith como Nenhuma e Todas como Espaço e as Estrelas.
Ou Nada de Sentido (não existe de onde, não existe da onde). Ou o Nada como impossibilidade do Conhecimento (definição). Enfim, o Nada pode ser pensado de múltiplas maneiras em nossos dias e cada uma delas guarda um segredo tanto pra ciência, como pra filosofia como para o ocultismo.