Sobre uma questão filosófica, vocês acham que andar no dia-a-dia em constante alerta como os felinos seria algo ideal? A maioria de nós ocultistas estamos dentro de uma ideia de não abuso e uso adequado do poder. Sendo assim, essa questão acaba se tornando algo de importância para alguns.
Quanto mais atento e concentrado enquanto desperto mais atento e concentrado se estará nos Sonhos. Um dos requisitos para se ter Sonhos Lúcidos é a atenção quando em vigília. Esta atenção na vigília deve ser uma atenção sensorial, pelos sentidos, observando tudo que lhe cerca, as paisagens, os cheiros os sons. Observando sem pensar. A atenção na realidade afasta os pensamentos. Pensar é divagar, "sonhar acordado", o oposto da concentração e atenção na realidade circundante. Estar atento ao aqui-agora, sem pensar, somente observando o arredor é uma prática extremamente importante para se desenvolver os Sonhos normais e os Sonhos lúcidos.
Se esta prática de observação e atenção sensorial sem pensamentos for fortificada pela pergunta sincera e profunda "será que não estou sonhando agora?" ela abrirá as portas dos Sonhos Lúcidos. E, os benefícios dos Sonhos Lúcidos são inefáveis.
Não é disso que se trata. Estava me referindo a outro termo. Estava falando em concentrar-se e afastar o pensamento sim, mas estava falando de outra coisa.
Percebi que se permanecermos constantemente no plano mental, somos mais vulneráveis a influências desarmônicas, e pelo que eu vi, geralmente são assim: não perceber elas por estar vagando em desatenção e assim ser mais vulnerável a ações como feitiços, entidades, etc... Essa concentração em minha teoria seria um impulso para banir a desarmonia em geral, em casos que se tem possibilidade.
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Como se trata de uma questão filosófica, abordarei esta questão através da visão filosófica do Yoga e Samkhya. A perspectiva do Yoga, principalmente, oferece uma posição muito mais prática em relação ao problema da atenção. Vamos lá.
A atenção é a intensa aplicação da mente sobre alguma coisa, seja ela qual for. Assim, no caso dos felinos, que você havia citado, a atenção é dirigida para fora, isto é, os sentidos são aplicados para perceber as manifestações do ambiente como, por exemplo: os sons, a temperatura, a movimentação de outros animais e entre outras coisas. Sendo assim, creio que o tipo de atenção dos felinos, e dos animais em geral, não nos serve de modelo a ser seguido, pois duvido que eles detenham um mundo mental como o nosso, que é povoado por ideias, conceitos, símbolos e imagens; cabe a eles maior capacidade de sensibilidade, o poder deles é este.
Para nós, humanos, a atenção também é dirigida para fora da mente para perceber as manifestações do ambiente, os sentidos cumprem a função de experimentar o mundo e trazer as informações para a mente, como um todo, analisar. Porém, para nós, a capacidade de se concentrar sobre o mundo mental é possível, ou seja, retirada do poder da atenção dada aos sentidos, que se direcionam para fora da mente, e força-los a retornarem para a mente. No yoga, os sentidos são considerados como extensões da mente, a retirada dos sentidos do mundo exterior é uma pratica chamada de Pratyahara. Logo após Pratyahara vem Dharana, que no yoga é um termo que designa a capacidade de concentração.
Mas existe aí uma dúvida implícita: se no Dharana nós estamos experimentando o mundo mental, quem está fazendo as observações? Pois para realizar a experiência e obter conhecimento é preciso o sujeito e o objeto. Já sabemos que o objeto de observação é o mundo mental, então não somos o mundo mental e o que há nele, pois apenas existiria objeto e nenhum conhecimento. Quem é o sujeito que realiza a experiência?
Para esclarecer esse questionamento, o yoga postula que toda a aparelhagem pela qual a consciência funciona é um produto de Prakriti, a matéria eternamente variável e criadora; o universo físico e psicológico são meros aspectos de prakriti e de diferentes configurações dos guna sattva, rajas e tamas. Por sua vez, Purusha é o ser eterno, tido como princípio único da consciência, o espírito imutável por trás disso tudo. Percebe-se que, evidentemente, o yoga tem uma visão dualista, isto se deve pelo fato de que o yoga, pelo menos o yoga de Patañjali, retira as bases filosóficas do sistema Samkhya. È justamente Purusha o sujeito que realiza a observação daquela indagação que havíamos feito anteriormente sobre sujeito e objeto durante o processo de experiência e conhecimento do mundo mental. Destarte, o yoga de Patañjali pode ser considerado como a aplicação prática do sistema filosófico do Samkhya. Além disso, o sistema samkhya admite a pluralidade de espíritos, o homem é um purusha.
Este mundo mental do qual estamos falando, no yoga de Patañjali, é designado como Chitta. É em chitta que existe todo o fluxo de conteúdos como ideias, conceitos, símbolos e imagens. O surgimento e fluxo destes conteúdos mentais em chitta, ou mundo mental, é designado como Vrtti. Agora, podemos ter uma ideia do que Patañjali realmente diz quando enuncia: *yogash chita vrtti nirodha *(Yoga é o domínio das instabilidades da mente).
Mas onde é que o conceito de atenção pode entrar aí? Para começar a responder isto, é preciso levar em conta que o yoga admite cinco estados de espírito diferentes que se relacionam diretamente com as instabilidades mentais, os vrttis. Os estados de espírito são:
- kshipta: perturbado, caótico, descontrolado.
- mudha: cansado, vagaroso.
- vikshipta: estado em que a atenção é facilmente deslocada para outros objetos, que podem ser tanto de ordem externa ou interna, tanto um pensamento (vrtti) quanto um fenômeno no mundo externo. Neste estado, a atenção passa de um objeto ao outro, sem focalizar por muito tempo, é como você citou: “vagando em desatenção”. Este é o estado de espírito das pessoas em geral.
- ekagra: estado de espírito focalizado, concentrado. É neste estado que a meditação real se inicia, o fluxo de chitta torna-se muito mais manipulável. Este estado poderá começar a ser obtido através das práticas yóguicas.
- niruddha: estado de espírito dominado, tal estado de espírito é apenas inteligível quando se é realmente obtido, é incomunicável. O que pode ser dito é que consiste na evolução de ekagra.
É conveniente lembrar-se sobre o enunciado de Patañjali sobre a definição do que o termo yoga designa: yogash chita vrtti nirodha (Yoga é o domínio das instabilidades da mente). Mas, ao contrário deste estado de domínio das instabilidades ou vrttis, existe o descontrole, vagarosidade e dispersão.
O que havíamos visto sobre o papel de Purusha? Não era ele o responsável por observar tudo o que há no plano mental? Aliás, não é dado à Purusha o título de imutável e princípio único da consciência? O que aconteceria se purusha se identificasse com os vrtti, as instabilidades do plano mental?
Assim como o próprio nome indica, o observador tem o papel de apenas observar, mas, por diversas razões, ele acaba se identificando com aquilo que esta sendo observado. É como se um espectador, muito ignorante, de determinada peça teatral se tornasse muito impressionado com o drama desenrolado no palco e decidisse, subitamente, intervir na peça e, deste modo, tomasse para si um papel que não poderia ser tomado, criando uma imensa confusão no desenrolar da peça e para si mesmo.
Para solucionar este erro do observador, Patañjali, no Yoga-sutra, recomenda a Abhyasa e Vairagya. Abhyasa é a prática dos diversos membros que compõe o yoga e seus ensinamentos, visa a alcançar o estado de ekagra e, posteriormente, niruddha. Vairagya é o termo sânscrito que designa o desapego, desprendimento, o que interessa é apenas Purusha, imutável, e não outra coisa diversa que serve apenas como acessório.
Através de abhyasa e vairagya, o yogui vai adquirindo também Viveka, que designa o discernimento entre aquilo que é eterno e imutável e o transitório e mutável. Sendo assim, o yogui, pelo estado de espírito que ele cultiva (ekagra e niruddha) e o discernimento que realiza (viveka) está apto a lidar com as manifestações do plano mental ou, em outros termos, lidar com os vrttis que surjam em chitta.
Existe um ditado muito interessante que diz: o primeiro passo para um feitiço se tornar manifesto consiste em fazer com que a vítima acredite estar enfeitiçada.
O yoga de Patañjali é uma doutrina que se aplica exclusivamente para a mente e dá grande ênfase ao uso da atenção. A atenção pode estar dispersa e, deste modo, a mente não pode exercer todo seu potencial sobre algo, o que quer que seja este algo. Uma analogia apropriada seria a lente de aumento que reúne os raios solares em um único ponto, ocorrendo aí determinado fenômeno, que é impossível de acontecer sem a condição da concentração dos raios em um único ponto.
Nota: as palavras em negrito servem para melhor identificação dos termos no texto.
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Totem .'.
93,93/93
Totem, em relação ao felino, não estava perguntado sobre uma atitude absolutamente igual à dele, mas só quis falar do fato de estar em alerta, ou seja, levando uma consideração parcial.
Jacky, seria a atitude do mestre zen deste conto que você quer dizer?
- Surpreendendo o Mestre
Os estudantes em um mosteiro ficavam espantadíssimos com o monge mais velho, não porque ele fosse rígido, mas porque nada parecia irritá-lo ou perturbá-lo. Na verdade, eles o consideravam alguém sobrenatural e até mesmo um tanto assustador. Um dia eles decidiram fazer um teste com o mestre. Um grupo deles escondeu-se silenciosamente em um canto escuro de uma das passagens do templo, e esperaram o momento em que o velho monge iria passar por ali. Num momento o velho homem apareceu, carregando um copo de chá quente. Exatamente quando ele passava, todos os estudantes pularam na sua frente, gritando o mais alto que podiam:
"AAAAAAHHHH!"
Mas o monge não demonstrou absolutamente nenhuma reação, deixando todos pasmos de espanto. Pacificamente fez seu caminho até uma pequena mesa no canto mais afastado do templo, gentilmente pousou o copo, e então, encostando no muro, deu um grito de choque:
"OOOHHHHH!"
Sim, frater_oculto. Era a isso que eu me referia sim!