Clavícula Salomonis - Goetia ou Teurgia?

Uma dúvida que me vem à mente: afinal, a chamada Chave Maior de Salomão é um grimório de magia goética ou teúrgica?

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A "magia goética" não seria um tipo de magia teúrgica?

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A Goethia em si já enseja uma questão filosófica enorme. Eu, pessoalmente, conheço círculos de Magia Goética que não utilizam o Triangulo, justamente pensando nisso, que os Daemonos são em verdade Deuses (theoi - de Teúrgia) que foram demonizados pelas culturas religiosas proselitistas. Eu penso que tratam-se de emanações da incontinência do mágico - como todo resto do universo, e sendo o Homem Deus, porque naõ chamá-la de Teúrgia sim. Todavia, há quem diga que trata-se de Demiurgia, já que essas energias estarias "mortas", "inexistentes" até invocadas.

Pelo meu histórico, que vc pessoalmente conhece, entendo que tratam-se de deidade - sem acepções de boas ou ruins - que dependendo do superioridade da vontade do mago, simplesmente seguem suas volições. RESPONDENDO, sim, é uma evocação E invocação teúrgica, sobretudo se seguirmos o conceito de Joseph Campbell "Mitologia é a religião do Outro!"

Deixo uma questão, egrégoras e ritos a parte, seriam tão diferentes dos Exus das religiões afrobrasileiras? Um amigo meu francês me disse uma vez: "vcs - brasileiros - tem uma Magia viva e funcional" mas necessitam das teorias européias pq não creem que sua grama possa ser ainda mais verde.

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Anatta,

"Deixo uma questão, egrégoras e ritos a parte, seriam tão diferentes dos Exus das religiões afrobrasileiras? Um amigo meu francês me disse uma vez: "vcs - brasileiros - tem uma Magia viva e funcional" mas necessitam das teorias européias pq não creem que sua grama possa ser ainda mais verde."

Será mesmo? Eu tendo a ver isso como, se você não nasceu em BA, MA, SP, RJ, RS fica difícil ter contato com essas raízes. Não que nos outros estados não existam centros, mas existem centros e centros. Tenho a impressão de a magia brasileira não está disponível a qualquer brasileiro de forma abrangente pelo simples fato não há informação suficiente que combata a desinformação. Acontece inclusive que os europeus estão vindo aqui pra pesquisar essas raízes e publicando trabalho.

Quais são as linhas de pesquisa que um estudante interessado nessa magia brasileira pode seguir pra sair da desinformação?

Abraço,

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Pois é, você usou uma palavra interessante: “desinformação”.

Sair da desinformação é bem fácil. O que existe de informação a respeito é de um volume absurdo. O difícil é conseguir informação de qualidade.

O próprio termo usado pelo Anatta, “Exus”, no plural, é uma fonte de divergências.

Existem duas vertentes principais quando se fala em religiões afro-brasileiras. O Candomblé e a Umbanda. Aliás, a respeito da origem. mesmo o Candomblé que se pratica no Brasil é muito mais brasileiro do que africano e Umbanda nem se fala.

No início, ainda na África, havia o cultos aos deuses africanos (lógico!). Cada aldeia, cada família, cada região cultuava um deus. E estes, não diferiam muito de outros deuses quaiquer panteões em outras partes do mundo. Deuses da caça, da guerra, da agricultura, da comunicação, da fecundidade, dos rios, e por ai vai...

Com a situação da escravidão do negro, exportou-se junto toda uma gama de deuses e deusas das mais diversas naturezas, tipos, cores e sabores. Com o tempo, nasceu o que viemos a chamar de Candomblé, que é uma aglutinação desses deuses (normalmente em torno de dezesseis) num mesmo corpo litúrgico. Claro que não é beeemmm assim, variando conforme a nação, mas enfim...

Depois, para que o culto fosse socialmente “aceito” (outra vez não é beemm assim, pois não é socialmente “aceito” até hoje) ouve o sincretismo com os santos católicos, a demonização de alguns deuses negros, a desexualização de algumas deusas, a efeminização de alguns deuses, a incorporação de elementos indígenas, um pitada de espiritismo e lá pelas tantas nasceu a Umbanda.

Acrescentou-se demônios, linhas (branca/cinza/negra/cor-de-rosa), falanges: Quimbanda.

A verdade é que magicamente quaisquer destes segmentos pode ser utilizado, pois creio que magia esteja sempre muito mais ligada à capacidade do operador do que ao corpo de crenças dele. E uma vez que estas pretensas “entidades” sejam plasmadas no astral, passam a existir.

E ai é uma questão de preferência pessoal. Escolher o jogo, aprender as regras, jogar.

A bibliografia é vastíssima. Só depende do que se quer aprender.

@aluvaia "A bibliografia é vastíssima. Só depende do que se quer aprender."

Concordo. Passei seis anos estudando sobre Candomblé e Santería, inclusive viajando pelo país. Há muito material descartável, mas há uns bons títulos que merecem ser lidos. Zozimo, se seu interesse for nessas vertentes, posso indicar-lhe algum material de qualidade.

Ih, escrevi errado: Zosimo.

Aluvaia,

Eu estava tentando apontar uma característica é importante, até por conta da descoberta imprensa, na Magia Cerimonial (Cabala) a partir do que foi escrito principalmente na europa e possibilitou um reviver, ampliando a abrangência, o sincretismo, o que permite que qualquer pessoa mais ou menos interessada se debruce em alguns livros e possa tirar de lá uma seqüência mais ou menos universalmente conhecida de iniciação. Acredito, e tenho visto, que os cultos e energias utilizados pelas raízes afro também possam ser colocados e entendidos em consonância com as tantas outras formas de iniciação nesse sistema, mas ainda não passei por nenhuma literatura, e aqui gostaria da indicação dos colegas, que trata o culto não apenas como algo 'exotérico', analisando as colunas de energia, mas sim nas suas questões esotéricas, ou seja, na aplicação das forças na transformação e iniciação do indivíduo. Resumindo, qualquer um pode se aproximar, por exemplo, de vertentes conhecidas como a magia da Aurora Dourada, Tantrismo, Gnosticismo, etc e ter um respaldo prático particular sem que dependa de uma iniciação formal em um 'centro'. Agora, quando o trabalho é apresentado dentro dessas raízes religiosas parece haver necessidade de uma hereditariedade da iniciação, tem que ser realmente passada, o sujeito é introduzido no culto. Entendeu meu ponto? O amigo francês do Anatta diz que nós temos uma "magia viva", como se fosse uma exclusividade e uma coisa de fácil acesso dentro da nossa cultura e esse não é o caso e ainda como se a magia 'européia' fosse simplesmente 'européia' e não um aspecto humano em geral.

luonnotar,

Manda ai, bibliografia é sempre uma coisa bem vinda. Se você tiver indicação de centros sérios pelo pais fora dos grandes centros (os culturalmente reconhecidos) também, compartilhe...

Z.

Entendi, Zosimo...

O que posso lhe dizer é que quase a totalidade do conhecimento “esotérico” deste tipo de cultura é passado “da boca ao ouvido”. E é dessa forma também deturpado, pois não existem registros daquilo que se chama de "fundamentos". Havendo inclusive discrepâncias gritantes entre “vizinhos”.

O que costuma-se manter são registros manuscritos guardados à sete chaves. Nesse tipo de mundo conhecimento é poder. E falo de grana entre outras coisas.

Também não existe uma unidade. É cada um fazendo a coisa do seu jeito, do jeito que aprendeu daquele que veio antes dele e assim por diante.

Mas o ponto a que eu me refiro é que não sei até onde essas minúcias da técnica sejam imprescindíveis para fazer com que as coisas aconteçam. Nem tampouco levo fé nesta ou naquela casa ou sacerdote.

Ok. Estes quatro títulos são muito bons: Os Nagô e a Morte, de Juana Elbein dos Santos; Santos e Daimones, de Rita Laura Segato; O Duplo e a Metamorfose, de Monique Augras; a Cidade das Mulheres, de Ruth Landes.

Realmente, a questão da iniciação é fundamental quando tratamos das religiões de matriz africana. Só pude ter acesso a várias informações e vários conhecimentos depois de passar pela iniciação, mesmo sem o que os antropólogos chamam de “transe de possessão”. E mesmo sem seguir a religião. Isso se deve à oralidade característica desses cultos. Era assim na África, pois antes da colonização inglesa, na Nigéria, por exemplo, não havia escrita. E, como o Aluvaia mencionou, muito fica restrito aos mitológicos "caderninhos" dos pais e mães de santo.

@aluvaia “Mas o ponto a que eu me refiro é que não sei até onde essas minúcias da técnica sejam imprescindíveis para fazer com que as coisas aconteçam. Nem tampouco levo fé nesta ou naquela casa ou sacerdote.”

Também confesso que não sei até onde sejam imprescindíveis.

Casas como Opô Afonjá, Gantois, Bogum, por exemplo, são rígidas mantenedoras da tradição. Problema: algumas delas não iniciam pessoas que não residam na cidade e/ou que não possam comparecer regularmente. O Opô Afonjá do Rio de Janeiro não faz essa ressalva. Sei que estão nos grandes centros, mas, realmente, fora daí não conheço quem possa indicar.

O amigo francês do Anatta diz que nós temos uma "magia viva", como se fosse uma exclusividade e uma coisa de fácil acesso dentro da nossa cultura e esse não é o caso e ainda como se a magia 'européia' fosse simplesmente 'européia' e não um aspecto humano em geral.

Realmente. Onde vivo terreiro é coisa rara e desconfio que vários deles possam ser embuste.

A maior parte da população aqui é de descendentes de europeus, católicos ou luteranos, então é muito mais fácil trabalhar com um sistema como o da GD e com os grimórios clássicos do que com a “magia brasileira”. Na minha família circulava uma lenda criada sobre o grimórios do sexto e sétimo livros de Moisés, mas Exú ninguém sabe o que é.

Alguém me disse (talvez o próprio Anatta) que isso não estava “no sangue”, i.e., que não sou afrodescente, e daí não seria a minha praia. Acho que isso tem mais a ver com a cultura sulina, mas enfim dá no mesmo.

Eu sou descendente indígena e sou negro, mas nossa cultura "nativa" definitivamente não me entra...
Acho que linhagem sanguinea não tem a ver com isso não.
Eu inclusive já participei de uma "desenvolvença" mas sem sucesso! -_-

Também penso que não tenha a ver com linhagem sanguínea. Já vi muitos europeus iniciados no Brasil, sem qualquer ascendência africana de que tenham conhecimento. Meu falecido marido, que era sacerdote do Candomblé, tinha ascendência européia.

Obrigado pelas indicações.

Não por isso. :)

Realmente as clavículas não são teurgicas , se fossem quem realmente pratica , Crowley por exemplo , teria descrito assim. Teurgia estão em obras como a operação de Paris.

O que acho engraçado é a quantidade de especuladores teóricos no site , vai lá pratica e aprende , magia não esta em especulação mas na prática, e isso que separa um iluminado de uma besta, esses caras aqui são preguiçosos e medrosos, melhor pesquisar.em outros aires

Não posso falar pelos outros, e mesmo que pudesse não o faria.

Mas confesso que sou mesmo meio preguiçoso às vezes. Tendo a fazer as coisas simples e não me desgasto com bobagens. Sou magicamente econômico porque acredito que "quem poupa, tem". Tenho sempre objetivos muito bem definidos e como em alguns estilos de kung-fu, procuro empregar apenas a dose necessária do tipo certo de força.

Mas medroso, irmão...

Medroso, não! Nunca. Sob nenhuma circunstância.