Cosmovisão Thelêmica

Não sou iniciado em nenhuma ordem thelêmica nem escola de linha inglesa, estou estudando o sistema individualmente, sem uma orientação.

Gostaria de entender um pouco melhor quais compromissos são assumidos, acerca da estrutura da realidade, pela filosofia thelêmica.

Refiro-me aos acordos metafísicos tácitos, tais como em que consiste a existência e que tipos de entes e categorias existem.

Vou exemplificar para para tornar meu ponto um pouco mais claro:

Martinez de Pasqually não acreditava na existência objetiva da matéria. A Ordem Cohen tomava a natureza como uma representação sustentada pelos espíritos como um emblema figurado daquilo que fora perdido na Imensidade Divina (Queda e Reintegração). Ou seja, os elementos e animais e eventos naturais seriam representações alegóricas que ilustram, de uma maneira sensível, significados essenciais (Assinatura das Coisas) guardados por analogia, isto é, a Criação é um retrato metafórico da Emanação (que seria a realidade divina em si mesma)

Saint-Martin, em seu tratado Dos Signos, acreditava que os entes realmente fundamentais são os espíritos (eixos monádicos de pensamento-vontade-ação), enquanto que os sentidos seriam um “véu” que encobre o invisível e que aparecem apenas para a experiência desses mesmos espíritos, ou seja, o que tomamos como real seria uma aparência que surge na mente dos espíritos prevaricadores (em privação), de maneira que um espírito reconciliado obteria imediatamente impressões sensíveis completamente distintas, de acordo com sua regeneração.

Jacob Boehme (Jakob Böhme) acreditava que o mundo visível era a exteriorização de um mundo arquetípico interior composto de sete forças (Contração, Expansão, Rotação, Explosão, Luz, Tom e Substância) que ele associava aos sete planetas (Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio, Lua). O universo físico teria surgido como uma externalização dessas sete leis, passando da unidade para a multiplicidade, de maneira que trazemos os traços e signos destes planetas em nossas almas e até na fisionomia. Para dentro dessas leis e por trás delas estaria a trindade: as Trevas do Pai, a Luz do Filho e o Fogo do Espírito Santo. Para além da própria trindade, somente o “Abismo” (Bythos) da Unidade Primordial pré-criacional.

Os três autores acreditam que o mundo temporal, histórico, teve início com a Queda de Lúcifer, evento que curiosamente chamam de “Explosão do Caos”, no sentido literal de que o mundo físico teria tido origem nesse acontecimento cósmico (e começado literalmente com a explosão do caos), especialmente o estilhaçamento do corpo glorioso de Adam Kadmon, de maneira que nós e tudo o que existe consiste nos cacos quebrados deste vaso original que deveria receber a luz divina e transbordá-la para o “Outro Lado”. Falhando nessa missão, veio o próprio Reparador (Hely), emanado pela Imensidade Divina para realizar a “Reparação do Mundo”.

Dito isso, enfim, minha questão é: qual seria - para Crowley, para Thelema, para a AA, para a OTO, etc. - a natureza deste universo em que nos encontramos? A realidade consiste em quê? Qual seria a razão da existência do mundo físico e em que consistiria o papel da humanidade? Quais entidades e dimensões são objetivamente existentes e qual seria a relação delas conosco?

Agradeço pela oportunidade!

Para A Maior Glória do Eterno,
R+ (VERSELEL)

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Boa tarde Revelles!

Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei.

Acredito que a Thelema em si seja mais um prenúncio de tudo que ocorreu e do que virá, do que um sistema complexo em si com uma cosmogonia. Crowley foi um indivíduo que fez a junção do oriente com o ocidente de forma prática, incluindo o que gerava resultados e excluindo o que não gerava, no quesito prático.

Em Thelema, creio eu, o objetivo seria mais entender o interior do que o exterior, de forma que nos libertaríamos desse ciclio vicioso guiado por moralismo secular e hipocrisia dos aeons anteriores. Tudo o que ocorreu antes é aproveitado, e tudo o que ocorrerá depois é reformulado. Tá bem resumido, mas creio que dê para entender o “porque de Thelema hostilizar os por quês”.

Já na A∴A∴, acredito que o objetivo é descobrir a Verdade, e atingir o miolo a partir da casca, o texto a partir do comentário. A aplicação da palavra “por quê” é o longo e curto do que foi chamado Iluminismo científico, ou ciência de aprender a não dizer “sim” até saber que é SIM, e como não dizer não até que você saiba que é NÃO.

Pode parecer contraditório aqui Thelema subjulgar o por que, sendo que a própria A∴A∴ adota ele como pedra angular, ou como citam no livro do “Templo do Rei Salomão”, “É a palavra mais importante de nossas vidas, a pedra-chave da abóboda, o mangual que bate o trigo do joio, a peneira por onde passa a falsidade e onde permanece a verdade.”

Em resumo, creio que A∴A∴ e Thelema em conjunto sejam mais uma reconciliação de paradoxos que um sistema cristalizado de crenças. Como foi dito acima, o objetivo seria pegar o que funciona e descartar o que não. Se basear no passado para corrigir o futuro. A base para o entendimento dela é a experiência, a aplicação. O entendimento de tudo isso pode ser subjetivo em alguns aspectos, então só passando pela experiência é possível observar e tirar conclusões.

Como Crowley costumava citar, “Todo homem e toda mulher é uma estrela”. Sendo assim, cada pessoa é um universo imenso a ser descoberto por si mesmo, e é nessa linha de evolução que a A∴A∴ e a Thelema trabalham. Utilizando Thelema para dominar a o espírito, e a A∴A∴ para dominar o corpo. Até mesmo o sistema de instrutor/aluno da AA implica em mostrar que esta é uma torre construída sob si mesmo.

Neste caso, a realidade consiste na experiência de cada um, investigada sob um espectro prático testado, formulado e reformulado pela A∴A∴. Já sobre o papel da humanidade, levando em conta que a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, segundo Crowley, consiste em atingir a Unidade com o Todo (conferir diário pessoal do Crowley), corroborando com a ideia de que o Todo fragmentou-se no objetivo de conhecer a si mesmo, o papel mais provável seria essa evolução em busca de si-deus-Todo. O mundo físico seria uma consequência da manifestação dessa vontade de se manifestar de forma fragmentada. O elo com as entidades suposta ou obviamente existentes seriam espectros de energia compreendidos por cada um através do seu nível de conhecimento e discernimento das coisas. Aplica-se aqui os princípios tão conhecidos na hermetica, o da vibração e polaridade.

O compromisso então, bem resumida e genericamente, seria consigo mesmo. Faze o que Tu queres, pois é o Todo da Lei. Amor é a Lei, Amor sob Vontade.

93,93/93!

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