Dúvida sobre correspondências astrológicas da Goetia.

Na versão de Goetia traduzida por Samuel Macgregor e editada por Aleister Crowley, este divide os 72 espíritos em 2 grupos, os do dia e os da noite. Isso dá origem a duas tabelas com correspondências astrológicas que se encontram no final do livro.

Assim, por exemplo, o espírito Bael é classificado como um demônio do dia e tem os seguintes dados astrológicos:
- Planeta: Sol;
- Decano: 1;
- Signo Zodiacal: Áries;
- Elemento Zodiacal: Fogo;
- Chave Escala 777: 28.

Alguém sabe qual a finalidade dessas informações para a prática da Goetia?

Desde já, obrigado.

Bom dia, colega. Como ninguém mais te respondeu vou tentar fazê-lo, ok? Mas já aviso que não sou expert no assunto.

Bem, até onde eu sei há certa controversa sobre o uso das correspondências astrológicas diretamente na prática. Quero dizer, muitos acham desnecessários o rito ser feito no exato dia, na exata hora, no grau correspondente ao espírito regente, compreende? Não dúvido que os iniciados da G.'.D.'. do Mathers tenham utilizado este sistema.

O que eu acho mais interessante, por outro lado, não diz respeito à prática mas sim à teória da Goécia. Bem, suponho que você leu o Lemegeton, então sabe que Crowley relaciona cada Espírito com uma "parte" do cérebro e do inconsciente, sim? Baseado nisto o estudo fica interessante, pois sabendo a correspondência astrológica o sistema da Goécia funcionaria com o objetivo de auto-conhecimento. Obviamente que não funcionaria apenas de modo teorico, os rituais deveriam ser feitos, o magista precisaria entrar em contato com estas forças para compreendê-las.

Agora, se os espíritos da goécia já são inerentes à consciência do homem, bem, ai é de você refletir se deve ou não seguir à risca as correspondências para a evocação em si, ou em outras palavras, até que ponto deveria seguí-las.

Muito obrigado pela sua resposta amigo. No entanto, confesso que minha dúvida não era exatamente essa. O que eu realmente gostaria de saber são as consequências de tais correlações no ritual. Por exemplo, seguindo estritamente as regras do grimório, o espírito Bael tem como planeta o Sol e isso tem como consequência dia e hora adequados para a realização do ritual; tem como elemento o fogo, isso tem como consequência que o triângulo deve apontar para o Sul. Assim, gostaria de saber quais as consequências ritualísticas de se ter como decano o nº 1, como signo Áries e como chave escala 777 o nº 28?

Eu conheci o Ars Goetia a mais de dez anos atrás, por meio de uma tradução muito ruim. Na época, havia pouquíssima informação sobre o tema, tanto em livros quanto na internet, razão pela qual eu planejei evocar uma determinada entidade seguindo à risca as instruções do grimório (em verdade eu nem conhecia outra forma de evocar tais entidades). Antes mesmo de eu realizar o ritual a entidade se manifestou (me acordava todas as noites no mesmo horário e as vezes eu via pontos brilhantes de luz), mas eu só fui entender que isso era a própria entidade se manifestando muitos anos depois, quando vi relatos de algumas pessoas que evocaram tal entidade e tiveram exatamente os mesmos "sintomas" (insônia constante e visão de pontos de luz).

O problema é que, na mesma época (eu tinha uns 16 anos de idade), comecei a estudar espiritismo kardecista (na verdade eu encontrei a Goetia pesquisando sobre espiritismo) e, consequentemente, enchi minha cabeça de besteiras. Não passava pela minha cabeça que aquilo era a própria entidade (achava que ela só se manifestaria no triângulo durante o ritual), e passei a achar que estava sofrendo um ataque de espíritos obsessores, razão pela qual fiz vários banimentos e passei a frequentar o centro espírita (e os "sintomas" desapareceram).

Em 2014 voltei a me interessar por Goetia. Já tentei evocar a mesma entidade duas vezes sem sucesso e agora estou pensando em tentar seguir o livro à risca, exatamente como comecei a fazer no passado.

(Comentário removido pelo administrador)

Será?

Acho que as culturas espiritualistas tem muito a dizer sobre isso. Theurgia, etc. Tudo bem que é um “sistema de práticas mais abrangentes”, mas o foco é no contato com o outro lado. "Abrir-se" ao sagrado. As referências aos estágios, ao yama e ao nyama, são coisas cíclicas e que de certa forma vão te levando ao contato com N. São amplificações, ou reduções, você vai criar um ‘momento’ específico. Você ja viu o True Grimorie?

Sobre as horas, acho que o importante é tentar. Pra alguns faz diferença, pra outros não. Com certeza, fisicamente falando, isso só vai ser relevante de uma maneira muito pessoal e que só quem tenta descobre, sendo assim, não faz diferença.

Abraço.
Z.

João, deixa eu tentar me focar na sua questão...

A goécia, creio, deveria funcionar quase como um mapeamento do inferno (leia-se “subconsciente”) com regiões obscuras a serem exploradas e dominadas (ou harmonizadas) sob a baqueta da vontade. E toda essa correspondência astrológica deveria servir como uma codificação relativa à natureza da região subconsciente.

Mas isso não quer dizer que necessariamente certas operações devam ser realizadas apenas e tão somente em horários e datas específicos para que se obtenha sucesso, mas é assim ensinado ortodoxamente por uma questão didática e também como um sistema de auto-ilusão (ou fé, mesmo); quero dizer, é muito mais fácil fazer com que as coisas aconteçam magicamente se você achar que seu sucesso depende de condicionantes alheias a você e das quais ele simplesmente não depende, pois você tira (ou tem a ilusão de tirar) a responsabilidade dos seus próprios ombros e a coloca em circunstâncias externas. Então, se eu fiz à risca o deveria, se eu usei as palavras certas, as cores certas, aromas certos, na hora certa do dia certo... as coisas “obrigatoriamente” devem acontecer conforme o esperado. Mas será necessária toda essa “parafernalha” ritualística?

O sul só é o sul, a terça-feira só é a terça-feira e janeiro só é janeiro por uma questão de convenção... e mesmo a astrologia é muitíssimo mais mental do que física. “O Universo é Mente”, e se assim é, nós criamos (coletivamente) a realidade em conformidade com o que acreditamos ser real.

Pois, se como foi dito, “para uns faz diferença e para outros, não”, é porque não deveria fazer diferença nenhuma para ninguém, e a “diferença” que faz é condicionada pela própria crença de que alguma diferença deveria se fazer. Claro que cada um tem seu sistema mas, na minha opinião, enquanto Buscadores do, assim chamado, “Iluminismo Científico”, deveríamos tentar fugir do auto-engano e ver as coisas como elas são e não apenas como se parecem, ainda que possamos tirar proveito da forma como elas “se parecem”, desde que a ilusão esteja sob nosso controle e não nós sob o controle da ilusão.

Oi joao_p. As atribuições definem a natureza do espirito. Isso significa que o efeito que você quer gerar fora de si e dentro de si pode ser expresso na forma de uma atribuição planetária, zodiacal e elemental. Você escolhe o espirito pela associação das atribuições dele com o a do seu desejo de mudança. Paralelo a esta abordagem, existe também a explicação de que a manifestação do espirito com determinada atribuição irá também destacar tudo que também for de acordo com a atribuição do espírito, um exemplo: Você invoca algo que é do sol, existe uma parte do corpo associada ao sol, um caminho da arvore da vida associado ao sol, uma carta do tarot e etc. Agora o mais importante é entender a atribuição, porque ela é simbólica. Atribuir algo ao sol pode denotar a ideia de algo que rege, o primeiro de todos ou o centro, ou doador de luz; essa parte eu acho bem complicada, porque pode depender do sistema. Para mim (atenção! Isso é uma opinião minha) existe um ponto importante na atribuição que denota a natureza da mudança. Vou dar um exemplo. Você tem um desejo que algo ocorra, se este desejo for trabalhado a nível de elementos (Ex: Terra) a forma como ele pode ocorrer (os caminhos que as entidades podem usar para realização dele) podem ser várias. Seguindo o exemplo, para o elemento terra, podemos ter 3 opções: Touro/Vênus, Virgem/Mercúrio, Capricórnio/Saturno. De cada opção o planeta diz a natureza da mudança macrocósmica (fora de você) e o signo a mudança microcósmica (dentro de você). O perigo disso é que você não estabeleceu como você quer que o desejo ocorra de forma mais específica, só deu o nível elemental então por causas dos caminhos existentes que podem ser extraídos pela atribuição eles podem ocorrer de forma não esperada (até indesejada). A mesma forma ocorre se for trabalhar a nível planetário, por exemplo se eu escolher algo da natureza de Júpiter, eu tenho os caminhos de Saturno e Peixes. Não sei te dizer se isso ocorre em todos os sistemas. Quando você encontra a descrição da entidade em todos os 3 níveis, eu não saberia dizer como operar para que ela trabalhe especificamente a nível planetário, zodiacal ou elemental, você pode considerar que o quanto geral for seu desejo ele pode se encaixar em um determinado nível. Espero ter ajudado.

A relação com a astrologia pode ser entendida de duas maneiras:

A primeira é com relação ao oráculo da astrologia e seus ramos. O ramo inicial é o da astrologia natal. Vou dar o exemplo do próprio Crowley. Ele escreveu certa vez que Belial era o goético particular dele. Ele não explica o motivo disso até onde eu saiba mas eu imagino que isso era uma referência ao mapa natal dele: Belial é um goético do segundo decano de Aquário e Crowley tinha Saturno no segundo decano de Aquário, Saturno é o Satã dos planetas, o Grande Maléfico, então essa é uma das possíveis conexões com a Astrologia. Ainda dentro da relação oracular pode ser que você queira tirar um oráculo para identificar a causa espiritual de uma doença, você pode traçar um mapa médico - era o que os médicos medievais faziam - e tentar identificar qual o goético que “aflige” o paciente para depois exorciza-lo.

A segunda relação astrológica é com a magia cerimonial. É um equívoco interpretar que por ser um rei Bael tenha alguma conexão com o movimento celeste do Sol. Em astrologia é a relação entre os planetas que dá a nós o significado de cada planeta, por exemplo Marte é o planeta da guerra porque dentre os planetas ele tem a coloração vermelha, o Sol é o planeta régio porque ele se comporta como um rei entre os planetas etc. Um goético ser relacionado ao Sol não significa que ele só pode ser chamado quando o astro estiver no primeiro decanato de áries por exemplo mas sim que aquele goético desfruta de imenso prestígio na “sociedade” dos demônios tal como um rei entre os homens.
A aplicação na prática dos elementos astrológicos na magia cerimonial poderia ser feita com rituais conforme Crowley explica no 777.
Por exemplo, Bael está relacionado com Áries e o regente de Áries é Marte. Então eu consulto o 777 nas atribuições de Marte para a construção de um ritual nesses moldes. Outros praticantes podem argumentar que é melhor seguir os atributos do Sol como o indicado no Ars Goetia: o selo de um rei é feito com ouro que é um material solar por exemplo.
Um ritual do hexagrama pode ser feito no qual traçamos um hexagrama planetário do Sol ou de Marte. Um ritual do pentagrama aonde traçamos os pentagramas do fogo e inscrevemos o glifo de Áries no centro etc;
De um ponto de vista invocatório podem-se criar invocações a Bael que o saúdem com essas características etc. Perfumes e cores podem ser usadas relacionadas ao 777, enfim as analogias são diversas e o estudante tem que cuidar para não se perder na vastidão de ideias que surgem. É comum haver confusão sobre as características astrológicas e as funções que os goéticos têm em suas descrições ou as suas formas, há também goéticos que são atribuídos a um decanato mas cujo texto diz que só aparecem quando o Sol está num signo nada a ver. Essas coisas são caóticas e não podem ser completamente organizadas; acredito que a melhor maneira de se estabelecer um “panteão” goético particular seja verificar no seu mapa natal quais os goéticos correspondem aos signos das cúspides das casas e partir daí tentar descobrir as funções deles para você. De um ponto de vista thelemico (Crowley) os goéticos são projeções de poderes dormentes em nós afinal.