Aluvaia . Boa tarde irmão , seria ignorancia de minha parte , pedir-lhe uma breve explicação dos reais perigos da Goecia , ou seria extremamente apedrejado , praguejado , insultado , e recebendo ordens de ir estudar mais e mais e não fazer perguntas idiotas . Gratidão pela atenção .
Que isso, irmãozinho?! Eu jamais faria nenhuma dessas coisas com você... com os outros, pode ser, mas com você, nunca! rsrsrsrsrsrs
Brincadeira, não faria isso com ninguém, e muito menos com alguém que vem pedir informações. Você é (e todos vocês são!) muito bem vindo(s) e bem quisto(s) por mim, pergunte(m) sempre o que quiser(em). Claro que pode acontecer de eu não saber, e nesse caso eu falo com todas as letras. : )
Mas enfim, vamos ao que interessa...
O pessoal do oculto gosta de botar banca e dar uma assutada em quem está chegando novo no pedaço falando dos “perigos da magia”. Eu, particularmente, detesto essa mistificação toda e acho que, na esmagadora maioria dos casos, isso serve para dar uma infladinha no próprio ego dizendo pra o outro o quanto EU, o Grande Mago da Cara Amarrada Sou Fodástico porque lido com forças perigosíssimas e além da sua compreensão... Tudo bobagem, claro! Magia é pra ser um caminho de autoconhecimento e de satisfação pessoal, e um direito inalienável da humanidade.
Entretanto, existem de fato alguns procedimentos dentro do universo mágico que requerem algum cuidado; a Goécia é um deles.
Trabalhar com Goécia é trabalhar com Demônios, e isso acho que todos sabemos. Discutamos brevemente o que são esses “seres”:
Se para alguns tratam-se de criaturas de outro mundo/reino/esfera/dimensão, ou seja lá o nome que queira se dar para o lugar de onde eles venham, para outros tratam-se de aspectos obscuros do inconsciente, porções de nós mesmos que podem (e devem) ser trabalhadas no momento certo, ou seja, quando tivermos maturidade para fazê-lo.
Eu estou pendente a encarar a coisa segundo a visão destes últimos. De toda forma, não importa, os homens costumam ser prisioneiros de suas crenças, e elas, por sua vez, tem a tendência de serem autodemonstrativas e autorrealizadoras.
Seja como for, para finalidades pedagógicas, vamos imaginar por um momento que ambos estejam certos, e que aspectos obscuros do seu inconsciente quando devidamente estimulados produzam (ou libertem) “seres” capazes de executar tarefas. Mas, como bem você já deve ter previsto, “demônios” são “criaturas” tendentes ao descontrole, e não é nada raro que, de fato, se descontrolem.
Ainda fazendo associações com seus aspectos inconscientes, cabe dizer que estes constituem uma parte tremendamente maior da sua psiquê do que aquilo que está na superfície, e que quando este reservatório de sombras más e perigosas é estimulado a se manifestar, ele costuma fazê-lo de maneira selvagem. Lá estão seus medos, seus traumas, seus desejos reprimidos e toda a sorte de tralhas que seu psiquismo decidiu jogar no porão (ou no inferno) porque você não tinha muito como lidar com elas... incitar essas coisas a se personificarem e agirem no mundo não é uma tarefa nem fácil e nem segura.
Mesmo que este seja um formidável caminho de autodescoberta, pode deixar um rastro de sofrimento e marcas para toda a vida. Não é um caminho sereno e quem não tem uma estrutura muito forte pode ruir pelo peso da pressão do inconsciente maciço sobre uma consciência frágil. E a esquizofrenia é exatamente isso, uma ruptura do ego e a abertura dos portões do inferno.
Repito: o trabalho com Goécia (ou qualquer outro modo que encontre para lidar com seus demônios) pode e deve ser feito, entretanto, maturidade e conhecimento são necessários para que as coisas não degringolem. E com relação a isso, ninguém vai bater na sua porta e lhe dizer que está na hora, cabe a você gerir sua própria vida e decidir quando é o momento.
Já aqueles prodígios que esse arcaico tratado propõe, tipo encontrar tesouros, aprender líguas instantaneamente, comandar as bestas, conquistar dozelas, se teleportar... isso são desejos e delírios de homens medievais; eu não contaria com isso.