Iniciação & Loucura

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Primeiramente boa noite.

Há um assunto que ja me fez filosofar muitas vezes, e agora mais do que nunca. É simples: A iniciação é uma espécie de loucura?

Quando eu digo Loucura, quero dizer a exaustão mental e do sistema nervoso que parece sempre acompanhar aqueles apaixonados pelo infinito.

Até há pouco tempo eu não achava que o caminho da Magia e do Misticismo fosse "perigoso" de um ponto de vista psiquiatrico/psicologico. Agora eu estou completamente adepto da idéia oposta: Magia e Terapia deveriam caminhar junto.

Em primeiro por que Magia é um assunto que mexe com os seus mais intimos fundamentos, e em segundo, que a Terapia ajuda a revelar a si mesmo nu e crú, além de colocar muita coisa da "Sombra" em seu devido lugar - isto para não mencionar a clara "profilaxia" contra a verdadeira loucura.

Deixo essa em aberto então: Vocês acham que praticar magia poderia enlouquecer alguém?

"Vocês acham que praticar magia poderia enlouquecer alguém?"

Com absoluta certeza. Conheço uma pessoa que enlouqueceu depois de algumas imprudentes praticas de goétia.

Oath;

Fascinante não? Mas eu vou até um pouco além: Goétia é parcialmente inofensivo. Você no máximo pode se ver preso em um círculo com "espíritos" - quer seja do baixo astral ou quer seja espíritos antigos "re-apresentados" em outras formas.

A loucura à qual eu quis fazer menção é aquela que altera a sua percepção sobre as coisas ao seu redor. Veja bem, eu tive, creio eu, três grandes "iniciações" em minha vida - i.e. experiências que alteraram severamente o meu modo de conceber o universo - e cada uma delas foi extremamente aterrorizante à início. É compreensível que seja assim pois o Ego é Apego (à qualquer coisa, principalmente à seu ponto de vista).

Um exemplo prático. Liber III vel Jugorum - alguém que consiga levar ao mais alto grau a prática do anel irá enlouquecer. E isso é uma afirmação modesta. Mas é uma loucura... "contida", "homeopática" - muito diferente de sair correndo pelado no centro. Liber III faz com que você perca à si mesmo e encontre Mil Faces - pressupondo que você se empenhe de corpo e alma ali, pois lá existe uma das mais altas Iniciações à se conseguir, em meu ponto de vista.

Outro fato curioso. Quando você estuda Misticismo e conhece vários sistemas de consecução. Existe uma quebra no processo de Adoração extremamente poderoso. É aquela sensação de que todas as religiões estão certas e todas as religiões estão erradas. E o que é fascinante é que isto se espalha para todos os aspectos da sua vida. Uma certa imparciabilidade à lá "Humpty-Dumpty" talvez. O que também não deixa de ser loucura. Eu particularmente acho extremamente fascinante ser um Observador do Mundo do que um Participante do Mundo (profano, no caso).

"Quando o mundo não te vê, você vê o mundo".

93,93/93

Eu não quis dizer que goetia seja perigoso, só especifiquei com que pratica exatamente ele enlouqeceu, e loucura é algo relativo, pelomenos na minha opinião nada é real senão a totalidade das coisas; nesse sentido, qualquer concepção do universo que não seja completa seria loucura.

Me faz lembrar o lema do grau de magister templi: "nada é verdadeiro, tudo é permitido"

Ou seja, o unico "ponto de vista" real, é justamente todos ao mesmo tempo se anulando

Com toda a certeza, se não houver preparação para tal, pode induzir a loucura sim.

Uma conhecida minha não foi e não é iniciada. Não conhecia nem mesmo a palavra Ocultismo, tampouco Éliphas Lévi, e acabou comprando o livro Dogma e Ritual da Alta Magia, depois que conversamos um pouco sobre algumas "coisas".
Tempos depois veio até meu amigo (o autor do tópico) e perguntou sobre Goétia. Dias depois veio à mim dizendo que lera sobre Goética.
Dei graças por não ter entendido nada sobre o assunto.

Agora tente imaginar, por um segundo, o assuntos aprofundados poderia causar nela, cuja não tem iniciação e conhecimento algum.
Se pegasse um estudo profundo para começar a conhecer, não entenderia nada além de sua própria confusão e loucura..

Sem duvida, invocar uma parte especifica de seu subconciente, embreagando sua mente com perfumes, formulas e uma atmosfera especifica correspondente, para uma pessoa não iniciada é a receita para a loucura, eu imagino até que, possivelmente, a morte de alguma maneira.

Voltando a questão principal: "iniciação e loucura", ao meu ver, poderiam ser considerados antagonicos

Senhores...

93!

Se me permitem uma palavras a respeito, “loucura” é um termo genérico e bastante leigo para se designar as mais diversas formas de neuroses e psicoses, inclusive a esquizofrenia, no entanto, sabe-se que muitos fatores podem ser determinantes para que esse fenômenos ocorram, entre estes os fatores genéticos, ambientais, biológicos e farmacológicos, assim sendo, creio que reduzirmos o complexo ao simples numa sentença de efeito, do tipo “prática mágica pode enlouquecer”, seja algo um tanto precipitado.

Existem pessoas predispostas à enfermidades mentais, isso é fato, e o gatilho para o início dos sintomas poderá ser a prática magico/ritualística tanto quanto poderá ser uma forte decepção amorosa, ou um grande estresse profissional, o consumo de álcool ou alguma outra droga, uma experiência místico/religiosa avassaladora, uma briga com o vizinho por causa do futebol, qualquer coisa... mas não é a coisa em si a causa, ela é apenas, com já disse, o gatilho.

Não me deixarei adentrar mui profundamente em questões como “o que é a loucura e até onde ela é ou deixa de ser real”, pois essa é uma selva densa demais para ser tratada assim de maneira irresponsável como me é habitual, sobre isso apenas direi que aquilo que nós chamamos de “sanidade e realidade” não é senão um consenso baseado segundo a concepção da maioria; não é esta uma crítica e sim uma observação, já que não imagino uma civilização pautada em outros valores e parâmetros. De toda forma, cabe salientar que o “louco” (o termo politicamente correto é “pessoas em estado de sofrimento psíquico”, dizem) é tão somente aquele que percebe o mundo de forma diferente, ainda que drasticamente diferente, em muitos casos.

Se a iniciação é uma espécie de “loucura”? Eu diria que sim e não, pois ainda que ela deva colocar o homem em um estado ímpar no qual ele é capaz de passar a ver, sentir e compreender o mundo com uma profundidade muito maior do que até então, ao mesmo tempo ela não estreita os horizontes, ele não deixa de perceber o que percebia antes, ele só ganha, não perde (me refiro às minhas próprias experiências pré abissais, de Däath pra lá não posso afirmar nada), de forma que a experiência iniciática (leia-se magica, mística, religiosa, ritualística...) em pessoas sem predisposição a enfermidades psíquicas e com a bioquímica cerebral equilibrada, creio que, na pior das hipóteses, não acrescenta nada, não prejudica e nem faz mal algum.

Aliás, já que mencionei O Abismo, não posso deixar de registrar que estranhei ler a respeito do pretenso lema do Magister Templi, até onde eu sei essa coisa de “nada é verdadeiro, tudo é permitido” é lema de alguns (e apenas alguns) magistas do Caos ligados à I.O.T.

E para finalizar gostaria de salientar que temer as forças com as quais se está trabalhando sim é perigoso, na minha opinião, não porque elas possas enlouquece-lo, mas porque o medo é um dos sentimentos mais perigosos que eu conheço, ele é móvel, crescente e abrangente feito o câncer. Se você tem medo fique longe da Magia; fique longe do trânsito, da altura, da eletricidade, dos insetos, da rua, do barulho, das pessoas, dos esportes, das drogas, dos palhaços, dos loucos e dos filmes de terror...

93,93/93

Com "nada é verdadeiro", eu quiz dizer exatamente essas palavras, que você mesmo as escreveu :]

"aquilo que nós chamamos de “sanidade e realidade” não é senão um consenso baseado segundo a concepção da maioria"

Encontrei essa "comparação" (que me parece coerente, por isso citei), nesta pagina: http://www.ordoaa.com.br/arquivos/ht/bios_yohe.htm

"Uma outra versão de sua saída (de Austin Osman Spare), seria de que ele, de alguma maneira, descobriu o significado principal do grau de Magister Templi e decidiu revela-lo, fazendo-o se indispor com Crowley. O segredo reside no lema hoje usada pela Chaos Magick: "Nada é verdadeiro, tudo é permitido".

Afinal, para algumas pessoas esse tipo de assunto nem existe, a palavra magia é abominada pelo senso comum da maioria; não seriamos loucos neste sentido, e possuímos sanidade naquele outro? No entanto, como eu usei o exemplo, uma pessoa que não tem nem uma base nem ideia do que ela é, o que é o universo, que consiga fazer um ritual e ter algum resultado, pode se perder em uma concepção falsa, ou uma confusão conceitual que possa ser considerada loucura. Você nega isso? "loucura é algo relativo" é o suficiente para me absorver.

Aluvaia & Oath;

Fascinantes comentários! Hahaha, além do que eu espeava!

Devo dizer que a escolha da palavra loucura foi pobre. O que eu quis deixar implícito é exatamente este contraste que parece existir sobre a percepção da realidade e do mundo que há entre aqueles que passam por algum tipo de iniciação e aqueles que vulgarmente podem ser chamados de "profanos". É claro que eu disserto sobre isto utilizando a mim mesmo como base - afinal de contas, conheço - mesmo que pouco - apenas à eu mesmo.

Quanto à "Nada é Verdadeiro, Tudo é Permissível" - é uma boa descrição do caminho mágicko inteiro, eu creio. Afinal de contas, o que é a Iniciação além de Destruição de Paradigmas e Reconstrução em Novos Princípios? Mas devo dizer que eu nunca havia visto também esta associação com o grau de M.'.T.'.

E sim, concordo com o que você disse Oath; seriamos loucos neste sentido (partido da visão do mundo profano), e seriamos sãos também (a partir da visão dos mais "esclarecidos"). E é exatamente esta divisão que a meu ver deixa as coisas ainda mais belas. Aquela história de que são apenas lados da mesma moeda.

Aluvaia, você citou um ponto muito interessante. Eu acho que o estudo da magia altera sim o funcionamento do sistema nervoso do indivíduo, principalmente o seu equilibrio bioquímico de algum modo. Por quê? Bem, por exemplo, é sabido que para manter-se "parado", isto é, "estático", o cérebro utiliza-se do neurotransmissor Dopamina através da via nigro-estriatal. Agora, olha que curioso: As práticas de Asana, que são práticas onde o Aspirante deve colocar-se em uma posição e permanecer PERFEITAMENTE IMÓVEL, é além de uma prática que induz a sobrecarga da via nigro-estriatal, como também aumenta a sua potência de funcionamento. Podemos até presumir que nos picos místicos que acontece quando o Aspirante consegue alcançar a perfeição de Asana, na realidade, há uma grande explosão de dopamina por esta via - o que pode até mesmo explicar os fenômenos que acontecem neste tipo de experiência.

93,93/93

Aff, eu sabia que deveria ter prestado mais atenção àquelas aulas de neuroanatomia, daí agora poderia falar de forma a parecer uma cara mais bacana, conhecedor dos neurotransmissores dopaminérgicos e da via nigro-estriatal... rsrsrsrsrsrs ; )

Mas falando sério, estes são mais alguns indícios de que algumas "experiências" podem ser muito mais "orgânicas" do que desejam os esquisotéricos de plantão... experiências místicas, mas que nem por isso deixam de ser dependentes de glândulas, hormônios, circuitos cerebrais e toda a parafernalha inerente ao corpo.

Acredito que revelar um Juramento mágico pode causar alguns problemas.

Acredito também que quando a pessoa começa a ouvir vozes e ver coisas, ela pode surtar também.

Acho que o maior perigo de loucura é o Juramento do Abismo (este, no meu modo de ver, não pode ser revelado pra ninguém, de modo algum). Não só o Juramento mas todo o caminho do Abismo.

A pior loucura é o engano. É a auto-ilusão. Atribuir significados mágicos e ocultos a acontecimentos rotineiro e normais. Pensar-se atacado. Pensar-se poderoso. Pensar-se influenciado.....

Há perigo na Magia, isso, acredito, é consenso.

Bom é claro que uma iniciação em um sistema mágico deve levar alguém a alguma espécie de loucura já que implica levar o corpo a novos tipos de percepções mais profundas do mundo( transes, visões , sonhos, exploração do subconsciente...).

A questão é que a pessoa que se mete com isso tem que estar preparada para voltar ao mundo "normal" de percepção das coisas, o mundo normal também é uma ilusão, é o resultado da pressão psíquica dos outros sobre a nossa percepção, mas é necessário para que possamos ter algum ponto de referência . O desafio do mago é justamente manter a sua "loucura" controlada, sabendo ir e sabendo voltar, mudando estados e estágios de percepção conforme a necessidade.

Ao praticar viagem astral, meditação, invocações e evocações , sempre levo comigo que não devo ir a um lugar que não consiga voltar depois para a percepção normal do mundo.

O problema reside justamente nisso, pessoas que se entregam totalmente a visões, a utilização de drogas para entrar em estados "mágicos"( vide a própria Besta), quando ultrapassam o circulo de proteção para viverem exclusivamente no mundo "mágico", mas também não podemos julgar, pois não sabemos até que ponto essas pessoas não estão fazendo tudo o que querem e nem se de alguma forma estão felizes em viver nesse estado, uma vez que a morte chega pra todos e com ela novas transformações.