Continuação.
Conforme mencionado, o Islam se ergue sobre cinco pilares. Primeiro comentei algumas relações que podemos observar em Thelema com o primeiro pilar, a sahada ou fé. Agora, o segundo dos pilares descritos no Hadith de Gabriel: salat ou oração. A oração do salat é uma prece ritualística, não é a oração a que estamos familiarizados, como a evangélica, que é um espontâneo pedido de ajuda ou uma adoração. A Salat é feita cinco vezes ao dia. O praticante deve voltar-se para a direção de Meca, ou se estiver em Meca para a Kaaba. É provável que a origem dessa prática derive dos cultos ao Sol ou então da Amidah judaica, voltada para Jerusalém.
A Salat dos thelemitas é muito fácil de identificar: trata-se do Liber Resh vel Helios.
Nesta prática somos instruídos a fazer quatro adorações ao Sol, sendo que três dos atributos do Sol são tradicionalmente nomes egípcios dados a Rá pelo sacerdócio de On: Rá no leste, Tum no oeste e Kheperi no norte. Ao meio dia, no sul, sauda-se Ahator. Após as adorações o praticante é aconselhado a recolher-se em santa meditação.
Essa prática considera como Quiblah - direção de oração ao ponto foco da egrégora - o quadrante elemental do Sol segundo a escala elemental da G.D. Ao invés dos sinais da Salah são feitos os sinais de grau. Para não degenerar em um culto meramente solar Crowley orienta que o magista assuma a forma-deus adorada e através dessa forma-deus adore a DEUS ou seja ao Criador do Sol.
O Liber Resh também é considerado por Crowley um “lembrete da Grande Obra”, que é o mesmo princípio por trás da Salah, o de lembrar-se de Allah.
O thelemita pode se dedicar a uma prática devocional similar ao da Salat com o Resh por um período pré-fixado, ou por toda a vida.
O Resh pode espelhar a salah, é bem simples:
Obedecer às regras: pronunciar em árabe, a língua magicka do oriente médio. o devoto deve estar voltado para à quiblah. os horários devem ser obedecidos.
Salah - primeiro limpar-se com água e então inicia-se recitando o niyya ou intenção, segue-se recitando o takbir.
Resh - a purificação pode ser realizada através do RMP ou também com a água. Se usarmos a água, voltando-nos para o quadrante do Sol, por exemplo o leste se for na aurora, ou para Boleskine, iniciamos recitando uma breve intenção de prática que ficará a critério do praticante. Sugestões são os axiomas: faz o que tu queres há de ser tudo da lei. Interessante seria pronunciar em inglês:
“Do what thou wilt shall be the whole of the Law”
Note que existe uma certa semelhança sonora entre a frase thelemica e a shahada islâmica, observe:
La ilaha ilah allah
Do wilt be whole law
Após a intenção o Resh pode ser recitado, pois equivale ao takbir Allahu Akbar.
O próximo passo:
Salah - recita-se o Al Fatiha, a primeira Sura do Corão.
Resh - pode-se recitar um dos poemas de Crowley ou um dos capítulos do AL, por exemplo: “És o Senhor de Tebas e eu o vate inspirado de Montu” etc.
Salah - apoiar as mãos sobre os joelhos, dizer Subhana Rabil al Adhim.
Resh - dar os sinais do grau, se não tiver grau faça os sinais de LVX ou os do neófito. Ao concluir diga “Love is the law, Love under will”.
Próximo passo:
Salah - realiza-se o sujud, a prostração. Na prostração deve-se tocar a testa, o nariz, as palmas das mãos, os joelhos e as pontas dos dedos dos pés no chão. Isso forma as sete partes do corpo: cabeça, duas mãos, dois joelhos, dois pés.
Resh - assunção de forma-deus ou raja ioga.
Próximo passo.
Salah - sentado sobre os joelhos - numa posição similar ao do Dragão do Liber E - diz Rabbi ighfirli warhamni. Depois realiza o sujud novamente, e senta-se novamente.
Resh - momento para o asana, meditações do grau, liber o etc.
Próximo passo:
Salah - levante-se e recite o takbir, depois recite uma sura do Corão para iniciar a segunda raka ou etapa da Salah (dependendo do horário a salah pode ter até quatro rakas ou unidades de oração: salatul fajr - matinal - são duas rakas; salatul dhuhr - meio dia - são quatro; salatul asr - tarde - são quatro; salatul maghrib - poente - são três; salatul isha - noite - são quatro.
Observe que são todas as preces recitadas em árabe. Crowley considerava o grego algo mais relevante para o liber AL, mas é evidente que o hebraico e o árabe estão presentes no AL, além claro do inglês. Fica a critério do praticante decidir qual idioma melhor lhe representará para a prática. Acredito que o árabe ressoará muito bem com as saudações dos Deuses do Egito, claro que o egípcio também seria apropriado.
Resh - levante-se e imaginando-se na forma-deus adorada faça o louvor a Deus. Pode ser a adoração ao Criador da Golden Dawn:
Santo és Tu o Senhor do Universo. (dê o entrante)
Santo és Tu que a Natureza não Criou (entrante)
Santo és tu o Vasto e Todo Poderoso (entrante)
Santo és tu o Senhor da Luz e das Trevas (sinal do silêncio).
Também pode ser escolhida uma das adorações egípcias a Rá, outro dia posto algumas aqui.
Por fim um poema de Crowley sob o pseudônimo de Achiha Khan:
I PRAISE Thee, God, whose rays upstart beneath the Bright and Morning Star:
Nowit asali fardh salat assobhi allahu akbar.
I praise Thee, God, the fierce and swart; at noon Thou ridest forth to war!
Nowit asali fardh salat assohri allahu akbar.
I praise Thee, God, whose arrows dart their royal radiance o’er the scar:
Nowit asali fardh salat asasri allahu akbar.
I praise Thee, God, whose fires depart, who drivest down the sky thy car:
Nowit asali fardh salat al maghrab allahu akbar.
I praise Thee, God, whose purple heart is hidden in the abyss afar:
Nowit asali fardh salat al asha allahu akbar.
Este poema, é claro, pode ser usado na prática descrita acima.