Islamismo como método de consecução

Olá irmãos... Estou aqui para perguntá-los a respeito do que pensam à respeito do Islamismo como meio de atingir a consecução da grande obra. Começei a leitura do alcorão por curiosidade, mas logo de cara, me deparei com o "sistema" das Suras, ou degraus, que elevam à purificação do espírito e posterior união com Deus. São no total 114 Suras, e o interessante é que cada uma delas trata de uma forma diferente de aperfeiçoamento. A primeira Sura diz respeito à conduta moral, aos meses sagrados, etc, e os demais vão tratando de assuntos mais elevados.

Ao ler sua primeira Sura, logo percebi traços de um sistema místico, ao afirmar que Deus na criação, olhou para o céu, e a partir deste, criou sete céus. Vi também uma referência a "Djins", que seriam os anjos e os demônios do Islamismo.

Estive lendo à respeito do sufismo, que ao meu ver seria como uma forma de Cabala Islâmica. Lembro também de ter lido em "A visão e a Voz", um trecho em que Crowley menciona ter repetido um trecho do alcorão centenas de vezes enquanto esteve no deserto a fim de se purificar.

Queria saber agora suas opiniões e se conhecem algum material em português que trate destes assuntos.

Não conheço profundamente o Islamismo, mas sendo que todos os caminhos deveriam conduzir ao mesmo fim, penso que não há motivos pelos quais o aspirante sincero não possa realizar a Grande Obra seguindo seus preceitos.

Embora seja uma das quatro grandes religiões institucionais do aeon passado, acredito que ela tenha algumas características interessantes em relação às outras. Uma delas é o fato de não permitir que se represente a Divindade com imagens, sendo que não se pode conceber o inconcebível, penso que esta seja uma atitude inteligente que antigamente servia para proteger as massas da idolatria.

Outra característica que me parece razoável é o fato de valorizarem e estimularem os atos de bravura ao invés do "coitadismo" tão pregado pelo cristita. A valorização do forte em detrimento ao fraco é uma das afinidades ideológicas que já apontavam a chegada de uma nova era. Pelo menos assim me parece, como eu disse não sou profundo conhecedor.

A valorização do forte em detrimento ao fraco é uma das afinidades ideológicas que já apontavam a chegada de uma nova era.

Concordo com você. Mas além disso, ainda posso citar a questão de uma "liberdade" maior, principalmente em relação ao casamento e ao divórcio. O alcorão prega que a religião islâmica veio para confirmar a Bíblia Sagrada e a Torá, unindo-as em uma nova lei: O Alcorão.

Mas o que me deixou mais curioso foi mesmo a questão do misticismo islâmico.

Misticismo praticado por aqueles que se costuma chamar de Sufis ou Dervixes?

Exatamente. Conhece algum material em português à respeito?

Cara, vi em algum lugar esses tempos um livro chamado, se bem me lembro, "História dos Dervixes" ou "Histórias dos Dervixes". Na verdade não cheguei a cogitar a possibilidade de comprá-lo porque me pareceu à primeira vista mais um livro meio alegórico com historietas curtas do que um livro que tratasse mais profundamente da mística islâmica.

Mas como eu disse foi só uma primeira impressão, talvez eu esteja enganado.

Andei pesquisando um pouco sobre os Dérviches. Ao que parece eles alcançam o êxtase girando freneticamente e sem parar. Agora me veio à mente uma icógnita: Existiria no islamismo um método místico semelhante à cabala ou ou algum sistema de magia? Afinal já li algo à respeito de evocação de djins e até mesmo exorcismos islâmicos, o que ao menos pra mim demonstre a existência de um sistema mágico ou místico oculto na religião.

Andei pesquisando um pouco sobre os Dérviches. Ao que parece eles alcançam o êxtase girando freneticamente e sem parar. Agora me veio à mente uma icógnita: Existiria no islamismo um método místico semelhante à cabala ou ou algum sistema de magia? Afinal já li algo à respeito de evocação de djins e até mesmo exorcismos islâmicos, o que ao menos pra mim demonstre a existência de um sistema mágico ou místico oculto na religião.

Sufismo

Andei pesquisando um pouco sobre os Dérviches. Ao que parece eles alcançam o êxtase girando freneticamente e sem parar. Agora me veio à mente uma icógnita: Existiria no islamismo um método místico semelhante à cabala ou ou algum sistema de magia? Afinal já li algo à respeito de evocação de djins e até mesmo exorcismos islâmicos, o que ao menos pra mim demonstre a existência de um sistema mágico ou místico oculto na religião.

Sufismo

A anta aqui não leu o tópico todo :-)

É interessante como o método da A..A.. funciona muito parecido com o Sufismo: uma corrente de instrutor-pupilo que remete a um dos fundadores.

Existe algum liber do Crowley que trate de sufismo, se por acaso sim, poderiam me dizer qual é o nome? E também indicar o nome de mais alguma obra que eu possa iniciar tanto o estudo, como o aprofundamento, ou inicio seria a leitura do alcorão?

Existem algumas ordens no Brasil. Nas redes, é fácil achá-las com alguma busca que envolva palavras chave como sufismo/sufi + Brasil.

Olá,

Tópico antigo mas é um bom tema para explorarmos as relações entre o Islã e Thelema.

Primeiro sobre a sua pergunta: o Islã pode ser usado como método de consecução porque a Grande Obra significa simplesmente a União com Deus.

Agora, qual a validade do Islã para um thelemita. Podemos começar analisando as semelhanças entre o Islã e Thelema e já podemos dizer que qualquer sistema religioso que derive dos Magi mencionados por Crowley em Liber Aleph (Dioniso, Toth, Krishna, Lao Tsu e Muhammad) possa ser aplicado com proveito pois Thelema parece unificar esses sistemas todos em um só.

Sobre as semelhanças, a primeira e mais óbvia se encontra na doutrina de que o Liber Al foi revelado para um profeta. Observe que o Islã é sustentado por 5 colunas: fé, oração, jejum, peregrinação e caridade.

Podemos começar pela analogia da primeira coluna, a fé:

A fé ou shahada é a crença de que Allah existe e é o único Deus e de que ele revelou ao seu profeta, Muhammad, o Corão, por intermédio do Anjo Jibril (Gabriel). O Anjo Gabriel pode ser entendido como o SAG de Muhammad.
Os egípcios tinham visões monoteístas e parece que a doutrina mais antiga de monoteísmo no Egito chamava Deus de Heru, Hórus. Este Hórus não é o mesmo filho de Osíris mas sim um Hórus Primordial, Deus do Céu, seus olhos sendo o Sol e a Lua etc. O culto a Deus como Hórus precede o culto de Deus como Rá, acredita-se ser o culto mais antigo do Egito, e é este Hórus que é a fonte do AL sob o aspecto de Harpócrates. Então, Hórus revela o AL para seu profeta, Ankh f n khonsu, por intermédio de Aiwass, o SAG de Crowley.
O próprio AL não tem estrutura narrativa como os livros da bíblia por exemplo, mas é como o Corão, uma revelação aforística, que conversa de maneira mais direta com o leitor. No caso do AL os aforismos contém instruções de magia prática, no caso do Corão sua maior parte é composta de jurisprudência. Além disso ambos são escritos de maneira poética com belas metáforas, mas por uma particularidade da língua árabe o Corão pode ser todo cantado enquanto o AL não…eu acho. A caligrafia do manuscrito original é considerada como de alta importância, como escrito em AL III:47, considera-se que na caligrafia do escriba existam selos e signos ocultos. O mesmo pode ser dito do árabe pois a caligrafia do árabe permite que as letras sejam arranjadas como se fossem desenhadas.

No capítulo III:52 RHK faz uma declaração contra a “face de Muhammad” a qual ele cobre com suas asas e o cega. A face de Muhammad é o Islã pois, abaixo do Abismo, a doutrina do Magus foi corrompida e por isso, num contexto thelêmico, a Grande Obra não pode ser concluída com sucesso por um muçulmano ortodoxo, pois o efeito da Grande Obra será o de “cegar” a religiosidade. Na verdade a religião do Islã é composta por tantas superstições e dogmas inúteis derivados dos hadiths que não é surpresa que RHK amaldiçoe ela.

Por fim, no AL I:49 é mencionado que “e que Asar seja com Isa, que também são um. Mas eles não são de me. Que Asar seja o adorante, Isa o sofredor.”

Asar é a pronúncia egípcia para Osíris , Isa é o nome árabe para Jesus. Eles são “um” pois representam variações do mesmo tipo de iniciação, mas Isa não é o mesmo Jesus dos cristãos. Isa é o Jesus do Corão, que deriva de uma das crenças gnósticas. Ao contrário de Jesus, Isa não morreu e nem foi ressuscitado, o Corão declara que ele nem sequer foi torturado e crucificado, mas foi enviado de volta ao Céu sem ser ferido, um outro homem teria sofrido em seu lugar, provavelmente Judas.

Nas maldições contra os deuses dos homens Jesus é mencionado como “Jesus” e não como “Isa” o que pode significar que Isa seja considerado por Aiwass como uma fórmula iniciática genuína do Velho Aeon enquanto Jesus não passe de um demônio. A experiência iniciática do cristão parece ser bem mais dolorosa que a do muçulmano: Hórus descreve que com sua cabeça de falcão bicará os olhos enquanto ele se dependura na cruz.
Jesus e Muhammad são amaldiçoados com cegueira, mas Muhammad tem a vista coberta pelas Asas enquanto Jesus é simplesmente dilacerado sem ter como revidar pois está numa cruz.
Isso torna, na minha opinião, práticas do Islã mais próximas da Grande Obra e da fé thelemica do que as cristãs.

Em outro dia continuarei com a próxima coluna, Salah (oração ou prática).

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Antes de continuar para a próxima coluna do Islã eu gostaria de fazer um comentário sobre o que considero como a interpretação thelêmica do Islã.

Ainda na coluna da fé, a declaração de fé do muçulmano é a de que Não existe Deus além de Allah e Muhammad é o seu profeta. Essa declaração é conhecida com shahada, em árabe: La ilaha ilah-lah an Muhammadur rasulu ilahi.

Como comentei anteriormente, Crowley reconhecia alguns nomes como sendo de Magus, quer dizer, como sendo de homens que atingiram a A.'.A ou a Ordem das Supernas no equivalente ao simbolismo de Chokmah, ele mesmo sendo um deles também. Um Magus nesse contexto é uma pessoa que emite uma “palavra”, uma lei ou oráculo basilar para a humanidade. A Palavra de Muhammad foi “la ilaha ila-lah”, “não há Deus senão Allah”.
Ora, é evidente a influência dessa fórmula em Thelema quando lemos no Liber Oz que “there is no god but man”, ou seja não há deus senão o homem (ser-humano).
A fórmula de Muhammad professa um tipo de ateísmo inicial “não existe deus” do qual deriva uma conclusão espiritual “exceto Allah” e este Allah Crowley interpreta como sendo o próprio ser-humano, mais especificamente o ser dotado de Vontade sendo que a Vontade é o principal atributo de Deus na Cabala (foi pela Sua Vontade que Ele tudo criou).
O religioso comum é claro é incapaz de compreender isso, daí deriva o que podemos considerar como uma corrupção da fórmula inicial com “e Muhammad é seu profeta”.

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Continuação.

Conforme mencionado, o Islam se ergue sobre cinco pilares. Primeiro comentei algumas relações que podemos observar em Thelema com o primeiro pilar, a sahada ou fé. Agora, o segundo dos pilares descritos no Hadith de Gabriel: salat ou oração. A oração do salat é uma prece ritualística, não é a oração a que estamos familiarizados, como a evangélica, que é um espontâneo pedido de ajuda ou uma adoração. A Salat é feita cinco vezes ao dia. O praticante deve voltar-se para a direção de Meca, ou se estiver em Meca para a Kaaba. É provável que a origem dessa prática derive dos cultos ao Sol ou então da Amidah judaica, voltada para Jerusalém.
A Salat dos thelemitas é muito fácil de identificar: trata-se do Liber Resh vel Helios.
Nesta prática somos instruídos a fazer quatro adorações ao Sol, sendo que três dos atributos do Sol são tradicionalmente nomes egípcios dados a Rá pelo sacerdócio de On: Rá no leste, Tum no oeste e Kheperi no norte. Ao meio dia, no sul, sauda-se Ahator. Após as adorações o praticante é aconselhado a recolher-se em santa meditação.
Essa prática considera como Quiblah - direção de oração ao ponto foco da egrégora - o quadrante elemental do Sol segundo a escala elemental da G.D. Ao invés dos sinais da Salah são feitos os sinais de grau. Para não degenerar em um culto meramente solar Crowley orienta que o magista assuma a forma-deus adorada e através dessa forma-deus adore a DEUS ou seja ao Criador do Sol.
O Liber Resh também é considerado por Crowley um “lembrete da Grande Obra”, que é o mesmo princípio por trás da Salah, o de lembrar-se de Allah.
O thelemita pode se dedicar a uma prática devocional similar ao da Salat com o Resh por um período pré-fixado, ou por toda a vida.
O Resh pode espelhar a salah, é bem simples:

Obedecer às regras: pronunciar em árabe, a língua magicka do oriente médio. o devoto deve estar voltado para à quiblah. os horários devem ser obedecidos.

Salah - primeiro limpar-se com água e então inicia-se recitando o niyya ou intenção, segue-se recitando o takbir.
Resh - a purificação pode ser realizada através do RMP ou também com a água. Se usarmos a água, voltando-nos para o quadrante do Sol, por exemplo o leste se for na aurora, ou para Boleskine, iniciamos recitando uma breve intenção de prática que ficará a critério do praticante. Sugestões são os axiomas: faz o que tu queres há de ser tudo da lei. Interessante seria pronunciar em inglês:

“Do what thou wilt shall be the whole of the Law”

Note que existe uma certa semelhança sonora entre a frase thelemica e a shahada islâmica, observe:

La ilaha ilah allah
Do wilt be whole law

Após a intenção o Resh pode ser recitado, pois equivale ao takbir Allahu Akbar.

O próximo passo:

Salah - recita-se o Al Fatiha, a primeira Sura do Corão.
Resh - pode-se recitar um dos poemas de Crowley ou um dos capítulos do AL, por exemplo: “És o Senhor de Tebas e eu o vate inspirado de Montu” etc.

Salah - apoiar as mãos sobre os joelhos, dizer Subhana Rabil al Adhim.
Resh - dar os sinais do grau, se não tiver grau faça os sinais de LVX ou os do neófito. Ao concluir diga “Love is the law, Love under will”.

Próximo passo:

Salah - realiza-se o sujud, a prostração. Na prostração deve-se tocar a testa, o nariz, as palmas das mãos, os joelhos e as pontas dos dedos dos pés no chão. Isso forma as sete partes do corpo: cabeça, duas mãos, dois joelhos, dois pés.
Resh - assunção de forma-deus ou raja ioga.

Próximo passo.

Salah - sentado sobre os joelhos - numa posição similar ao do Dragão do Liber E - diz Rabbi ighfirli warhamni. Depois realiza o sujud novamente, e senta-se novamente.

Resh - momento para o asana, meditações do grau, liber o etc.

Próximo passo:

Salah - levante-se e recite o takbir, depois recite uma sura do Corão para iniciar a segunda raka ou etapa da Salah (dependendo do horário a salah pode ter até quatro rakas ou unidades de oração: salatul fajr - matinal - são duas rakas; salatul dhuhr - meio dia - são quatro; salatul asr - tarde - são quatro; salatul maghrib - poente - são três; salatul isha - noite - são quatro.
Observe que são todas as preces recitadas em árabe. Crowley considerava o grego algo mais relevante para o liber AL, mas é evidente que o hebraico e o árabe estão presentes no AL, além claro do inglês. Fica a critério do praticante decidir qual idioma melhor lhe representará para a prática. Acredito que o árabe ressoará muito bem com as saudações dos Deuses do Egito, claro que o egípcio também seria apropriado.

Resh - levante-se e imaginando-se na forma-deus adorada faça o louvor a Deus. Pode ser a adoração ao Criador da Golden Dawn:
Santo és Tu o Senhor do Universo. (dê o entrante)
Santo és Tu que a Natureza não Criou (entrante)
Santo és tu o Vasto e Todo Poderoso (entrante)
Santo és tu o Senhor da Luz e das Trevas (sinal do silêncio).

Também pode ser escolhida uma das adorações egípcias a Rá, outro dia posto algumas aqui.
Por fim um poema de Crowley sob o pseudônimo de Achiha Khan:

I PRAISE Thee, God, whose rays upstart beneath the Bright and Morning Star:
Nowit asali fardh salat assobhi allahu akbar.

I praise Thee, God, the fierce and swart; at noon Thou ridest forth to war!
Nowit asali fardh salat assohri allahu akbar.

I praise Thee, God, whose arrows dart their royal radiance o’er the scar:
Nowit asali fardh salat asasri allahu akbar.

I praise Thee, God, whose fires depart, who drivest down the sky thy car:
Nowit asali fardh salat al maghrab allahu akbar.

I praise Thee, God, whose purple heart is hidden in the abyss afar:
Nowit asali fardh salat al asha allahu akbar.

Este poema, é claro, pode ser usado na prática descrita acima.

Boa tarde irmão Pedro.

Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei.

Acho que vale a pena dar uma olhada nessa postagem sucinta mas cheia de conteúdo, fazendo analogias ao islã dentro de Thelema, feita pelo Frater Keron-e: Herman Faulstich on Instagram: "Thelema e o Islã. #magick #thelema #magia #aleistercrowley #isla #islam"

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Interessante.

Alguns pontos mencionados no post são interessantes:

A iniciação da OTO: o papel de hierofante, por assim dizer, é ocupado por Saladino. A narrativa é a de que o candidato é um peregrino preso no Egito. Saladino lhe concede a Iniciação em seu exército. É bem similar a história de um cavaleiro templário, história real, que se converteu ao Islã no exército de Saladino e o ajudou na guerra contra os cruzados.
A irmandade sufi: a irmandade na qual Crowley foi instruído possui nome curiosamente similar ao do autor do AL: AISSAWA e AIWASS; Kenneth Grant mencionou em O Renascer da Magia que Crowley considerava possível Aiwass ser uma palavra árabe que significava “falo”.
Nomes dos Chefes Secretos: Albudiz é um nome que claramente deriva do árabe e é muito similar ao nome de Ahmad Al Buni, um magista escritor do “grimório proibido” Shams al Marif al Kubra (O Sol do Conhecimento). Além desse livro os árabes também produziram o Gaiat al Hakim chamado em latim de Picatrix, este sendo um dos livros basilares da tradição oculta ocidental (a tradução em latim data do século XIII enquanto o incrível Três Livros de Filosofia de Cornelius Agrippa data do século XVI). A prática da goétia também parece dever à tradição árabe, fica evidente a relação entre os goéticos e os jinn, a relação aqui parece mais concreta que a da magia judaica (os magos judeus chamariam um goético de um anjo muito próximo do mundo material e por isso compostos de bem e mal e , devido à impossibilidade da purificação no Templo de Jerusalém, sendo os únicos propícios à conjuração, anjos superiores simplesmente destruiriam o mago). Claro que a magia sufi deve muito também aos gregos, em especial Plotino e os neoplatonicos.

Shaitan - esse é um tema interessante, Shaitan em Thelema é o Melek Tawus dos Yezidi e parece ter papel central em Thelema - Aiwass segundo Keneth Grant é Shaitan.

Enfim, me parece haver mais relações com o Islã do que com outras religiões exploradas ultimamente como o Vodu, Umbanda etc.

No entanto é bom lembrar que o “maometismo” dos muçulmanos é criticado no AL e também por Crowley. O fundamentalismo muçulmano é um dos piores que se pode encontrar e talvez por isso não haja muitos estudos dedicados a verificar as relações de Thelema com o Islã. Talvez seja mais apropriado dizermos que a relação seja mais profunda com o Sufismo do que com o Islã como religião, talvez possamos até dizer que Thelema poderia ser uma heresia sufi (existem escolas sufis anti-nomianas tradicionais por exemplo).

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Continuando, como exemplo da parte prática, pode-se também fazer a prática do mantra yoga - dikir no sufismo - como Crowley fez em João São João.
Exemplo: durante o pranayama recitar Hua Allahu Allazi Lailaha Ilah Hua (Ele é Allah e não há Deus como Ele).
Entenda-se por Allah o mesmo que Brahman e Eheihe.

Vou deixar um link aonde os interessados podem ouvir a recitação dos versos do Corão. Não sei quais eram as suratas que Crowley recitava mas muito provavelmente a Al Fatiha estava entre elas. A Al Fatiha é o equivalente islâmico do mantra Gayatri dos brahmanes ou o Pai Nosso dos cristãos. É o primeiro capítulo caso tenham interesse, é muito bonito.
The Noble Quran - Quran.com

Em outro dia pretendo postar sobre as palavras de maldição do AL contra Muhammad e como podemos interpretá-las. Nesse momento de guerra na palestina desejo Salam (paz) a todos.

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Ainda não tive muito tempo para continuar as postagens, mas rapidamente gostaria de esclarecer uma coisa (não me recordo se já escrevi isso durante as postagens) : o aspecto do Islã que Crowley se interessava era o Sufismo. Quando encontramos nas maldições contra os deuses dos homens uma maldição contra Muhammad e contra o “mongol e o din” nós podemos ter a certeza de que a religião fundamentalista islâmica é um obstáculo para a nossa Lei.
Normalmente as pessoas pensam que o Islã se baseia no Corão como uma espécie de Bíblia mas durante os califados foi desenvolvida uma jurisprudência ao redor dos hadits. Os hadits são textos que “testemunham” o que Muhammad disse ou fez. Daí que inúmeras regras que não existem no Corão derivam dos hadits. Nesse aspecto o Islã pode ser chamado de maometismo, o culto da personalidade de Muhammad - Maomé - por meio de uma mímica. É por isso que ele está nas maldições do AL, porque o Muhammad desenvolvido pelo califado diverge da mensagem original.
O “din” é o religioso islâmico, pois din significa, em árabe, religião.
O sufismo é um dos caminhos amaldiçoados pelos fundamentalistas islâmicos, junto com o iezidismo.
Podemos dizer que o sufismo é para o Islã o que a gnose é para o Cristianismo, no entanto os movimentos fundamentalistas no Islã parecem ser algo moderno, não havia a preocupação excessiva de controle religioso durante a Idade Média e Renascença como ocorreu com o cristianismo.
O movimento ultra-ortodoxo wahabista por exemplo, foi o responsável pela destruição de muitos lugares sagrados dos sufi; sabemos também que os iezidis são constantemente mortos e perseguidos. Então ao defender uma análise do Islã com Thelema não estou aqui defendendo o conservadorismo ou que Thelema é anti-ocidental (liberal) etc.