Prezados, e estou estudando, e a media que estudo vão surgindo dúvidas, sobre essa passagem do Liber Al Legis:
"O melhor sangue é o da lua, mensal: depois o fresco
sangue de uma criança, ou o gotejado da
hóstia do céu: em seguida dos inimigos; e depois
do sacerdote ou dos adoradores: por último de alguma
besta, não importa qual."
Como interpretar o verso? Devemos entender sangue no sentido literal? Faz menção a sacrifícios, ou poussui um significado velado?
Pois é, difícil dizer com exatidão a que se refere. Há quem tenha uma resposta na ponta da língua, eu não tenho.
Dizem, e não é improvável, que o sangue da lua alude ao sangue menstrual, fluído muito usual na magia sexual de Crowley. O sangue fresco da criança e o gotejando da hóstia do céu também poderia ser entendido como uma alegoria para os fluídos sexuais. O sacerdote ou os adoradores pode ser alusão aos participantes do rito. Já a besta poderia sim fazer referência a algum sacrifício de sangue, mas não posso afirmar com certeza.
Liber Al vel Legis é um livro cifrado, e sobre a interpretação do mesmo é recomendado que seja feita de maneira individual, sendo sua discussão "desaconselhada", por assim dizer. Acredito que isso tenha se dado dessa forma para que Thelema seja de fato uma verdade íntima e única para cada um, e para evitar que pretensas autoridades se apoderem da interpretação da letra para ditar a Lei.
Dito isto, desnecessário dizer que minha própria interpretação é a mais absoluta conjectura (ainda que senso comum) sobre um texto difícil e fechado em sua simbologia obscura.
A forma como você colocou a questão é, por si só, muito esclarecedora, no sentido de valorizar a interpretação pessoal e a busca de um sentido que seja ressonante com a verdade particular de cada estrela. Além de sua própria interpretação, que já dá algumas pistas interessantes.
Estes dois tipos de "sangue" não devem ser confundidos. O estudante deve ser capaz de descobrir o sentido desta passagem recordando a afirmação cabalística de que "O sangue é a vida", consultando Livro 4 Parte III, e aplicando o conhecimento que jaz no Santuário da Gnose do Nono Grau da O.T.O. A "criança" são "BABALON e A BESTA unidos, o Salvador Secreto", ou seja, o Ser simbolizado pelo hieróglifo do Ovo e da Serpente dos adeptos fenícios. O segundo tipo também é uma forma de BAPHOMET, mas difere da "criança" no sentido de que é o Leão-Serpente em sua forma original.
Assim o processo de amolecer e amaciar neste caso é o de vitalizar a Águia. É desaconselhável explicar isso em detalhes, em termos inteligíveis demais para o profano, já que tentativas de não-iniciados de utilizar o fomidável arcano de Magick apresentado nesta passagem poderia levar apenas ao mais fulminante e irremediável desastre.
Sempre detestei isso no Eliphas, aliás no ocultismo como um todo, me refiro à essa ininteligibilidade proposital no pretenso intuito de me "proteger" de mim mesmo. Até acho que hoje em dia as coisas estão bastante mais acessíveis, mas na antiga, pelamordedeus... um sem fim de códigos, chaves, anagramas. Essa é uma das poucas coisas que aprecio na atualidade da magia, a abertura que temos para falarmos o que quer que seja sem muitos rodeios.
Posso comprender que por um lado esse mistério todo pudesse servir para resguardar um conhecimento perigosos no que tange ao fato de pessoas serem perseguidas e mortas pelo fato de os deterem, entretanto esse mesmo conhecimento era mantido escondido (e muitas vezes ainda o é) por puro jogo de poder e influência, como mero mecanismo de segregação no qual se enaltece de um lado o "iniciado" como sendo o todo-misterioso-e-poderoso detentor do conhecimento, em detrimento do profano, pessoa que só de não fazer nada já parece que está fazendo tudo errado.
Enfim, novos tempos nos trazendo novos paradigmas. Crowley fez a imensa caridade de abrir a primeira fresta nessa porta que ora conhece a marca das nossas havaianas 43/44... : )
Até que Eliphas Levi desvelou muito coisa, apesar dos rodeios e enrolações. E hoje sim, existe certa abertura, vejam por exemplo que existem sites da O.T.O e nela até certos eventos abertos ao público.
Outra vez, numa loja maçônica aqui na minha cidade, na secretaria perguntei como poderia fazer para participar, a moça disse que eu ficasse do lado de fora em dia de reunião e pedisse para alguém me convidar para participar...
Depois de Raul Seixas, recentemente assisti a primeira temporada de Strange Angel, o que me despertou novamente o interesse por Thelema. Vejam o que era secreto, hoje até mostrado na televisão.
Eliphas era primo-irmão da Blavatsky e tio-avô do Crowley (claro que não literlmente!) e por muito que seus textos tenham tido na época um valor incalculável, seus quase 200 anos de existência pesam muito hoje em dia. Logicamente não estou sugerindo que deva ser ignorado, mas sim que deve ser lido com certa reserva dadas suas crenças que, na minha opinião, são extremamente permeadas por superstição e esoterices bizarras. Ele era um religioso e nada mais natural que misturasse o caminho da moral com o caminho do mágico.
Com relação à Maçonaria, por muito que a respeite por sua história, tenho que dizer que cada vez mais noto que ela vem se tornando muito mais um clube para senhores abastados do que um real instituição iniciática. Outra vez vemos a relação de poder entre iniciado e profano, onde você precisa implorar para que alguém faça a caridade de lhe convidar para entrar. E além de tudo, infelizmente não é nada raro você encontrar alguém que deseje se tornar maçom por pura ostentação, ou mesmo porque acha que pode melhorar de vida com a ajuda dos "irmãos".
Raul era um carinha bacana, mas não me parece que tenha vivenciado a magia com grande profundidade; suas letras são legais e até hoje instigam a curiosidade de muitas pessoas a respeito de thelema, mas nele não há nada de muito revelador porque acho que ele não tinha mesmo muito a revelar a respeito.
Strange Angel é meio (bastante) caricato, mas é curioso.