Senhores, amigos, irmãos…
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De uns tempos pra cá tenho procurado ser econômico no que tange à criação de novos tópicos dado o grande número de tópicos que se repetem em assunto e natureza, entretanto, dessa vez me vejo forçado a criar uma postagem. Não é meu hábito e nem gosto de ver postagens que não sejam inquisitivas, mas preciso esclarecer algo que tem me incomodado.
Há anos tenho sido um entusiasta daquilo que modernamente se habitou chamar de “Caos Magick”, e dito isto, quero enfatizar uma coisa que já andei dizendo em outro tópico, o fato de, ou as pessoas estarem muito equivocadas sobre o que venha a ser esse paradigma mágico; ou eu o estar.
Ocorre que me parece que popularização dessa inclinação mágica tem lhe aleijado daquilo que, além de ser a sua melhor característica, também lhe serve de fio condutor, no caso, a propriedade que permite, a cada um que assim deseje, a construção de um sistema íntimo e individual para além da tirania da crença cega e do dogmatismo alienígena. No entanto, uma vez privado dessa prerrogativa, tem descambado para se tornar um conjunto de práticas simplistas e pré-formatadas voltadas parta satisfação de desejos mundanos e dissolução de contratempos cotidianos. O paradigma mágico que trabalha com as premissas de Kaos e Kia está para o que se transformou atualmente o Caoísmo (servidores, sigilos e cultura pop) como o arquétipo está para o deus; que quando “um” vira o “outro”, obrigatoriamente deixa de ser o “um”.
Trabalhar com magia do caos, por didático que se goste de fazer parecer, não é brincadeira pra crianças, e nem tampouco algo fácil ou de menor importância. Mesmo a magia de sigilação, que nasceu com Austin Osman Spare, e hoje parece ser a cara midiática do sistema, não é uma coisa simples. As pessoas falam de entrar em estado de gnose como se fosse algo corriqueiro e usual como abrir uma porta ou fechar uma gaveta, e não é. Além do que, a teoria mágica do Caos não passa necessária e obrigatoriamente pela magia de sigilação, muito embora essa última esteja embasada teoricamente pela primeira.
Esse é um sistema que, por mais que se inflacione em práticas (muitas das quais bizarríssimas, é bem verdade) carece de conteúdo moral, já que essa é uma de suas propostas, a de não ter dogmas. Entretanto, isso é assim, quero crer, não porque estas sejam propostas indesejáveis dentro do viés mágico de cada um, mas sim para dar a liberdade aos praticantes de incorporarem ao seus sistema mágico o seu próprio conjunto de regras - posto que todos temos um -, sua própria Lei, ao invés de ter de viver pela Lei do outro.
Apesar dessa prática ter pretensamente nascido nos anos 70 com Peter J. Carroll inspirado no casamento do Zos Kia Cultus de Spare com qualquer coisa do Crowley, qualquer um que conceba uma estrutura ritualística e a adeque a um sistema qualquer de crenças, estará se usando dessa premissa, a de que não são as coisas em si, mas a energia emocional que depositamos nelas que colocam o mágico em movimento em nós e a partir de nós. É entender a natureza da ilusão e jogar com Yesod no bolso.
Além de tudo, os conceitos de Kaos e Kia de Spare são profundos, interessantíssimos e indispensáveis para o entendimento da ideia por detrás do sistema. Negligenciar a base da teoria é aceitar que magia do Caos se reduz a servidores para encontrar gatos. E eu insisto que a Magia, para aquele que Busca, é uma ferramenta que tem apenas uma única finalidade.
Se alguém tiver algo a acrescentar, está aberta a discussão. O intuito é fazer o caminho inverso do que tem ocorrido, despopularizar, tirar do banal e tentar fazer a galerinha que está procurando por soluções mágicas entender que magia não é solução mágica pra nada, e que Caos não é bagunça.
Grato pela atenção dos senhores e perdão pela introdução longa.
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