Sobre Alteração de Rituais Preexistentes

Queridos (web) amigos e Resp.‘. IIr.’., boa tarde.

Venho com mais uma dúvida!

Ultimamente, venho me interessando e lendo sobre o Liber Resh, sua prática, objetivos, finalidades, fundamentos, benefícios etc. No geral, acho absurdamente interessante e bela essa adoração solar!

Contudo, não possuo qualquer simpatia ou proximidade com as divindades ali expostas (bem comuns no meio thelêmico, certo?). Respeito etc., porém não é a minha “seara”, entendem?
Esse “problema” me leva a uma certa frustração em realizar na prática o ritual, apesar de achar a “adoração solar” da maneira que é estruturada muito interessante (como já disse anteriormente).

Assim, surge minha dúvida: eu poderia reestruturar esse ritual, isto é, modifica-lo de forma a tornar mais “atrativo” ou coerente com a minha espiritualidade? Talvez adicionando alguns elementos como incenso, uma vela etc.? Ou isto estaria fora de cogitação e o efeito perderia totalmente sua essência?

Mais uma vez, agradeço a todos pela paciência e disposição em esclarecer minhas dúvidas!

TFA

Prezado,

93!

Em teoria, todo e qualquer ritual pode ser adaptado. Alguns, inclusive, precisam ser.

Na minha prática, no entanto, nem sempre as adaptações fazem jus, mas isso já é opinião.

Como seu caso é com as divindades egípcias, a adaptação mais simples seria alguma feita pelo Liber 777 ou pelo 776 ½, alterando para divindades cabalisticamente equivalentes.

Ressalto, no entanto, que mesmo tradições que são dissonantes de Thelema, não raro, mantêm as mesmas divindades. Há, no entanto, maiores divergências quanto as posturas.

É interessante verificar a natureza do ritual e que talvez seja o mais simples de todos, rápido, sem grandes adereços e levar isso em consideração em suas experiências.

Experimente, busque anotar e comparar suas impressões, talvez ajude.

Fora de ordens (e mesmo no interior de algumas), não há ortodoxia que possa lhe ser imposta acerca da sua espiritualidade, há, contudo, causas e efeitos.

Outra sugestão seria que, se possível, leia alguns materiais (teoricamente) não thelêmicos, como Chic Cícero (Self Initiation), Donald Kraig (Modern Magick), Regardie (One Year Manual), que possuem explicações sobre as quatro adorações.

93,93/93

Ire
vasv

1 curtida

Obrigado pela resposta!
Consegui um pdf do Liber776 1/2, foi beeeeeem difícil conseguir (aliás, se tiver interesse, entre em contato comigo)!

Fiquei curioso com uma parte de sua mensagem. Ao final, você diz que “não há ortodoxia que possa lhe ser imposta acerca da sua espiritualidade, há, contudo, causas e efeitos.”… em relação a essas “causas e efeitos” propriamente ditas, o que poderiam ser? Uma alteração mais drástica pode ter efeitos catastróficos, seria isso?

TFA

Prezado,

93!

Sim, mas num tom menos dramático.

Existem o necessário e o contingente. Aquelas coisas que são o âmago e as que são adereços.

Rituais ou Práticas tendem a ser um conjunto de objetos, não itens isolados -— além da identidade ou natureza particular, há a questão de adequação sistemática: as partes devem interagir corretamente.

Soa complicado, mas é como uma receita culinária.

Dependendo dos ingredientes que você alterar, deixa de ser aquele prato. Pode não servir mais como acompanhamento, etc. Os ingredientes podem ser os mesmos inclusive, mas postos de maneira errada.

Não é tão dramático, dificilmente chegará à catástrofe — algo prejudicial — uma intoxicação alimentar, por exemplo. Fora de ortodoxias é como estar fora de um Menu ou Método, você é mais livre — inclusive para errar mais.

Avalie se vale a pena mudar a receita, pois será sempre uma questão de causa e efeito.

93,93/93.

Ire
vasv

1 curtida

93,
A resposta mais coerente seria:
Faze o que tu queres.

Todo cerimonial ao longo do tempo acaba passando por uma ou outra adaptação. Inclusive o próprio Liber Resh tem diferenças se você está no hemisfério norte ou no hemisfério sul, uma vez que você precisa estar virado para o sol no momento de cada adoração. Eu já vi pessoas fazendo e “ensinando” essa adoração pela internet sem levar em consideração esse detalhe.

1 curtida

“Os Deuses egípcios são tão completos em sua natureza, tão perfeitamente espirituais e, no entanto, tão perfeitamente materiais, que esta única invocação (Liber Israfel) é suficiente”. Liber Aba Parte III Capítulo II.

Os alicerces do sistema thelêmico encontram-se nos rituais e doutrinas da Golden Dawn, uma ordem cujo simbolismo ritualístico era predominantemente greco-egípcio e judaico-cristão. O próprio Liber Al pode ser entendido como uma interpretação dos rituais e do sistema da G.D. É por esse motivo meu amigo que acredito que devamos, inicialmente, seguir os rituais conforme dados pelos Mestres desta egrégora - no caso do Resh o próprio Mega Therion.
A tentativa de adaptar os rituais só nos leva a um buraco sem fundo, sempre. Isto porque não temos, no começo, o conhecimento adequado do ritual e dos seus efeitos espirituais para produzirmos uma adaptação adequada. Além disso observe que os Nomes dos Deuses contém mistérios aos quais você acessará conforme a sua devoção progride com os anos. Entenda também que esses Deuses são mais vivos do que o de outros panteões pois foram evocados na antiguidade pelos sacerdotes da pátria da magia, o Egito antigo e, no caso, Heliopolis. Em termos cabalísticos: um Deus é evocado de Netzach, como uma força bruta da Natureza, por meio dos rituais, imagens, invocações de Hod. Ele então “desce” até Yesod, no plano da luz astral mais densa e mais próxima de nosso mundo. Através dos sacrifícios e cultos dos homens essa deidade se cristaliza com mais força em Malkuth e torna-se mais potente, mais próxima de nós, portanto mais benéfica para a prática. Com a exceção óbvia de Allah, Yhvh, Cristo e as deidades de outras religiões ainda ativas como Shiva e Buda, somente os Neteru - os deuses egípcios - e os greco-romanos parecem ter ainda certa potência nesse plano. Lembre-se de quando Eliphas Levi comenta em seu Dogma e Ritual sobre a visão do Imperador Juliano, o Apóstata, dos deuses gregos no astral: já naquela época apareciam como velhos, não mais imortais. Além disso, como bem sabemos “onde dois ou mais reunirem-se em meu Nome eu lá estarei”. Quando fazemos o Resh não o fazemos sozinhos, outros thelemitas juntam-se à corrente do ritual o que produz a cadeia mágica adequada para reavivar essas deidades.
Pode ser que você consiga produzir determinados efeitos com outros panteões, certamente pois você é um templo de Deus, mas parece mais adequado fundamentar-se em bases sólidas e falar a mesma “língua” do sistema ao qual você pretende integrar-se.

Com respeito às adaptações devemos cuidar com o seguinte: adaptações devem ser feitas conforme as limitações e necessidades do praticante. Por exemplo se não é possível fazer a adoração à meia-noite que faça às 23 horas. Se não tem um grau para sinalizar, que faça o sinal de LVX etc.
O ritual parece ter derivado das orações muçulmanas - Sallah. O Islã, em seus aspectos esotéricos, era admirado por Crowley, assim como a Gnose cristã. No Islã a sallah deve ser recitada em árabe, seguida corretamente com os sinais adequados, em momentos exatos voltando-se para um lugar específico. A mesma disciplina deve ser indicada no Resh, os Nomes dos Deuses não devem ser modificados, mesmo que não sejam do seu “paladar”. Modificações para o gosto pessoal podem indicar coisas como o idioma da saudação, por exemplo você pode querer recitar em árabe, copta ou grego etc.

A indicação para a prática: Recita-se o Resh e depois disso queima-se o incenso apropriado. Se pela manhã sauda-se Rá e, na teologia de Heliopolis, sendo o Rá do amanhecer o próprio Ra Hoor Khuit, então queima-se um incenso indicado pelo 777 para Geburah. Então senta-se em algum asana que deseje e após um pranayama de 10 min comece a visualizar o falcão (ou uma das outras formas deuses saudadas) diante de ti por uns minutos. Imagine então um fio saindo do teu peito até o peito da figura, agora o seu corpo deve tomar a forma dessa figura. Após uns minutos você agora fará uma adoração ao Criador sob uma das formas indicadas no 777 para Kether. Pode ser a invocação a Ra Hoor Khuit indicada no AL ou alguma outra que preferir mas deve ser uma adoração ao UM.

Mas se ainda houver insistência na adaptação das deidades. Recorramos então aos nomes mais apropriados. Observe que os Nomes do Resh são todos Nomes de Heru ra ha (Hórus) mencionados no AL. Portanto, obviamente, trata-se de uma devoção a Hórus invocando-se 4 atributos diferentes dele. Crowley indica em sua invocação a Hórus a adequada adaptação para outros panteões:

Greco-romano: Apolo.
Cristão: Yeheshua - Cristo.
Nórdico: Odin

A partir de Apolo você poderá encontrar outras adaptações de outros panteões.

Abraços.

1 curtida

Boa Noite João,

93

tudo é adaptável desde que se conheça o propósito e o mecanismo proposto, para que não fiquem pontas soltas.

Mesmo assim, como muitas vezes um ritual está dentro de um escopo específico é interessante vc seguir esse escopo, caso contrário, avaliar se escolher recortes deste escopo vai lhe proporcionar o resultado realmente esperado.

Veja por exemplo o RmP, comumente tratado como um simples ritual de “banimento”. Esse ritual é completíssimo quando se entende o que está banindo, ou invocando e para quê. O significado do pentagrama, os elementos vinculados a cada ponto, a que caminho ele se refere, qual carta do tarô, etc, etc, etc. Se vc começa mudando muito não percebe aplicações em camadas mais profundas, certas sutilezas que vc pega fazendo, repetindo, estudando, assimilando e por aí vai.

Se vc está interessado em Thelema, recomendo praticar e praticar até entender como adaptar e se realmente precisa adaptar.

Vc falou em espiritualidade, em Thelema, creio que a grande maioria realmente não “cultua” nada, pelo contrário, nos deixamos interiorizar por símbolos e vivenciar a experiência. Tente levar por essa perspectiva que fica mais fácil assimilar certas questões.

No final das contas o SOL sempre está lá, e quem é o SOL do seu sistema solar? :stuck_out_tongue_winking_eye:

Espero ter ajudado em algo.texto em negrito

93, 93/93

1 curtida

Queridos, muito profícua toda discussão ocorrida aqui!
Agradeço o empenho e os minutos dedicados por cada um em seus comentários, contribuíram muito na construção do conhecimento!
Achei interessante a perspectiva trazida em relação a mudar ou não o ritual, mas o ponto trazido pelo @Satturnus faz bastante sentido e merece destaque: a pratica conjunta, em cadeia, como em muitas outras práticas ritualísticas, parece ser mais interessante ao fortalecimento da egrégora e das próprias divindades.

Destaco mais uma vez que minha vontade de “reorganizar o ritual” não parte de uma prepotencia em me achar melhor ou 100% competente a essa tarefa. Aliás, espero que minha dúvida não tenha levantado essa suspeita! Não sou Thelemita, apesar de achar coerente a filosofia central e não tenho proximidade a essas divindades centrais. Acredito que daí surgiu essa curiosidade em poder rearranjar etc.

Abraços

1 curtida

Eu acho que na verdade resultaria melhor! Adicionar Elementos que de prefenrencia estejam de acordo com a Força com que se está a Trabalhar, e estejam mais entranhados na nossa psique.

Também depende de Estruturas já acossiadas pelo Colectivo! Por exmplo se de manhã usarmos uma vela Amarela, estamos a associar o Poder da Vela com o Ar, que é o Elemento correspondente a essa fase do dia, segundo a associação que é mais partilhada pelo colectivo!

Desde que esteja de acordo com a nossa Estrutura e a do Colectivo ao mesmo tempo, podemos usar o nome que preferirmos, visto que nos últimos 10000 anos o Homem associou a Manhã, Tarde. Meio Dia e Meia Noite, a várias coisas e a vários Deuses! É só alinhar com essas Associações!

Como se virmos a Invocação de Horus, o Mago Invoca a mesma Força por vários Nomes Diferentes, desde Yeheshua e Apollo a Horus!

Se já temos um crença impressa sobre essas 4 Divindades, não vejo porque altera-la, ajusta-la talvez!

O Nome das Divindades não passa de uma maneira de as Contactar, acho que se descobrimos um Ser, é conveniente dar lhe um nome, para efeitos de comunicação! Podíamos por os Archanjos no lugar dos Deuses.

Na Verdade quando eu faço a Evocação dos Quatro Arcanjos no R. Menor do P.; a sensação da Força é semelhante nas suas caracteristicas, mas diferente em Intensidade e na maneira como há contacto entre mim e as 4 Forças seja do Resh ou dos 4 Arcanjos! É como fazer passar s Luz por Tuneis, os Tuneis, estão classificados, consoante a categoria (nete caso Ar, Manhã; Fogo, Meio-Dia, etc. ou Raphael, Michael), também a maneira como essa Luz se manifesta em nós ou para nós!

É a Quadruplicidade na mesma, não importa se é manifestada de uma ou outra Forma! Basicamente estamos a Dividir um Circulo, neste caso o Dia, em 4 Partes e a Sincronizar com cada uma dessas 4 Partes, como fazemos em outros rituais! Mas neste caso, o objectivo, é Invocar a Força Solar das 4 Partes do dia e alinharmos nos com ela, ao fazer isso estamos a criar um vínculo, mental ou não, e para os dois lados!

Resumindo, são Forças que vêm da Divisão da Unidade (Solar neste caso) em Quatro, que podem se contactar ou manifestar em algo, desde um Elemental Grosseiro a uma Força mais Divina!

Por exemplo Ra é o deus solar da Manhã no Egypto, mas se alguém tem Deuses com nomes diferente, como os Gregos chamavam a Rúbea Aurora à manhã, ou pura e simplesmente Eméra; só tem que associar o Deus da manhã ao seu Homónimo!

Assim como as outras partes do Dia! Na Verarde é a mesma Força que se manifesta por Formas, Nomes e Imagens diferentes, a menira como a abordamos faz a Diferença!

Dependendo do Panteão, faz se a Assoçião! E pode até recriar-se os Nomes, mas isso eu penso ser um processo que requer Formulas mais complicadas!

Podemos ver que outros autores, adotaram outras Invocações para fazer o Resh, em que até a ordem desses mesmo Deus está trocada, tendo Khephra na Manhã, visto que ele trouxe o disco do sol, penso que nesse caso estamos a contactar com o Deus depois dele ter feito o seu trabalho!

O 777 ou qualquer pesquisa sobre as quatro fases do Dia e as Divindades, Perfumes, Velas, etc, ajuda a re-criar o Ritual de uma forma Coerente e Práctica para cada um!

1 curtida

Boa noite.

Pode-se (pode-se o que vc quiser, não quero que pareça que sou um pastor thelêmico) tentar adaptar os Nomes, somente praticando para saber se a mudança será eficaz.
Os métodos de adaptação são diversos mas a técnica que é mais adequada é a seguinte:

Toma-se o ritual e desmembra-o. Após isso estuda-se um pouco suas características basilares, seu esqueleto estando pronto pode-se interpretar os símbolos para um novo panteão.
Agora, depende do panteão.
Suponha que o estudante seja um neo-pagão voltado ao politeísmo europeu. Dividindo esse politeísmo em helênico, celta e germânico deve-se definir qual panteão será mais adequado.
O estudante toma o símbolo do Sol da manhã e fica óbvio no ritual que as ideias basilares são de força e potência, ele volta-se ao panteão helênico e pode verificar que Rá pode ser adaptado para Hércules - Heracles ou para Thor nos nórdicos, Dagda entre os celtas.
Este é um bom começo.
A seguir o estudante deve buscar os nomes magickos desses deuses na religião que os adorava, e isso será bem mais difícil, até lá talvez seja indicado continuar usando Heracles ou somar ao nome de Heracles algum título - epíteto.
O maior problema na adaptação será a “desconexão” com a corrente 93 - na minha opinião.
Thelema é uma religião revelada. Ela contém uma doutrina que provém de uma revelação, um livro chamado Liber Al, dado por um Anjo chamado Aiwass para um profeta chamado Aleister Crowley. Isto quer dizer que os Nomes que aparecem no AL são fórmulas genuinamente magickas - como o YHVH dos hebreus , o YHShVH dos gnósticos e o ALLAHU dos sufis. É por isso que vibrar RA - um Nome que aparece no AL - o conectará com as forças espirituais dessa religião. Já nomes como Dagda, Hércules e Thor perderam-se nas brumas da história, ninguém sabe mais quais são as fórmulas mais adequadas para mover as forças espirituais relacionadas a esses nomes. Então não sabemos se uma adaptação será efetiva, não como a do ritual tradicional, mas não custa nada tentar. Vá e tome seu prazer entre os homens sobre a terra.

Abraços.

1 curtida