Sou um admirador da filosofia Thelemita. Penso que as máximas thelemicas tais como "faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei", "O Amor é a Lei, Amor sob Vontade", "Os escravos servirão", "Todo homem e toda a mulher é uma estrela" "pecado é restrição" são de grande profundidade filosófica e de grande alcance na vida prática, enfim no processo evolutivo do ser humano.
Mas apesar de tanto conhecimento filosófico e iniciático contido nas ordens e escolas thelemicas, não consegui entender ainda a parte operativa, a parte dos rituais thelemicos de magia, invocação, evocação, etc...
A questão é: Não seria esta parte operativa algo também pertencente ao velho e ultrapassado EON?
Pergunto isto porque percebo certos problemas na consecução destas operações e também questiono a eficácia, o resultado prático da utiização delas, sobretudo em se tratando do estilo de vida e da evolução que temos hoje.
Em relação às dificuldades e problemas da realização de rituais de magia, o Mundo mudou muito e temos nos dias de hoje grandes entraves tais como:
Possuir uma vasta cultura geral, conhecimento amplo de diversas áreas científicas, domínio de certas linguas mortas como o latim, o domínio do hebraico, do grego, etc... isso é algo superável, mas reservado a meia dúzia de pessoas que dispõem de tempo e talento para o domínio destas linguas. A maioria não tem nem tempo, nem disposição para estudar com esta profundidade.
Tempo e condições para praticar. A preparação e a prática da chamada alta magia cerimonial demandam muito tempo e muito dinheiro. Mais uma vez: algo reservado a meia dúzia de pesoas nascidas em condições financeiras privilegiadas.
Considerando o enorme dispendio de tempo, de toda a dedicação, de toda a ferrenha disciplina, dos gastos e prejuízos financeiros,não posso deixar de perguntar: e os resultados de tudo isso? Qual é a relação de custo e benefício?
Qual a eficácia da parte operativa de Thelema na vida prática do operador? Claro que é difícil avaliar algo tão subjetivo, pois dizem até que mais vale um gosto que dinheiro no bolso. Excentricidades à parte, existe aqui também o problema da auto-sugestão, onde o praticante se auto-hipnotiza e se auto-engana, mas vamos nos ater aos quesitos mais concretos, aos que podem ser avaliados externa e objetivamente, tais como:
Qualidade de vida: os praticantes de magia operativa (digo operativa porque penso que magia não operativa todos praticamos, sejamos conscientes disso ou não), mesmo os mestres, na realidade passam pelos mesmos problemas que qualquer ser humano passa. Passam por doenças, crises, conflitos, dores, reveses, limitações, enfim as alegrias e tristezas, derrotas e vitórias que todo ser humano enfrenta. Os magistas em geral não ficam ricos da noite para o dia, não deixam de ter inimigos pessoais e profissionais, não conquistam qualquer mulher que desejarem, sofrem acidentes, envelhecem como todos nós envelhecemos e não tem mais longevidade que os não magistas (alguns desencarnam até bem mais cedo que o normal). É também o caso dos feiticeiros, macumbeiros, magos negros e afins. Não vejo nenhum destes em posição melhor na vida que qualquer outra pessoa normal não praticante destas atividades. Claro que tudo é muito subjetivo e é subjetivo para todo mundo, tanto para os thelemitas como para os não thelemitas, para os magos e para os não magos.
Diante do exposto, pergunto:
Porque uma filosofia tão moderna, avançada, humanista, científica, pragmática como é a filosofia de Thelema, se alia a algo tão antigo, tão difícil de ser posto em prática e talvez, por isso mesmo tão ineficaz, como aquilo que se chama de magia ou no dizer dos thelemitas "magick"?
Um thelemita necessariamente deve ser um mago operativo ou pode-se ser um thelemita apenas aplicando a filosofia e a Lei de Thelema no dia a dia, na vida prática?