Thelema x Religião Thelêmica

Prezados,

Eu percebo dois lados de Thelema:

  1. Thelema como nome da busca de descobrir e realizar nosso verdadeiro propósito;
  2. Thelema como uma religião, com uma série de práticas e um profeta.

No primeiro caso, temos um comando direto de que deveríamos descobrir e fazer nossa verdadeira vontade, que não seria algum de nossos desejos inferiores, mas sim o nosso propósito, que envolve descobrir a nossa verdadeira natureza e agir de acordo com ela, etc.

No segundo caso, o escopo expande, e temos:

  • Um profeta escolhido ou preparado para receber o Livro da Lei;
  • Uma entidade incorpórea que transmite a mensagem;
  • Um panteão, às vezes considerado como entidades reais, às vezes como metáforas;
  • Uma forma de cumprimento onde todas as conversas e correspondências deveriam se iniciar e encerrar divulgando a Lei;
  • Algumas práticas que deveriam ser realizadas voltando-se para uma casa onde o profeta viveu por alguns anos;
  • Determinados períodos de tempo regidos por uma fórmula universal, que mudariam com o advindo de um novo profeta;
  • Uma série de comunicações com entidades de outro plano;
  • Dias de festas relacionados à revelação e ao profeta;
  • etc.

Do meu ponto de vista, Crowley em (1) descobriu a importância da auto-realização e imaginou um mundo ideal onde todos fariam aquilo que realmente fosse de sua natureza, criando uma sociedade mais livre, feliz e funcional; e em (2) buscou se tornar um líder religioso, reformando a religião antiga de forma que criasse um ambiente propício para (1).

O que vocês pensam sobre isso? Percebem uma distinção? Em qual dos “dois caminhos” vocês se encaixariam?

Para vocês Liber Legis é um texto que foi canalizado, escrito de forma inspirada ou foi simplesmente fabricado?

93

Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei.

Cristianismo, filosofia cristã, tábuas da lei... Tanto agregam quanto separam, podem ser vistas juntas ou separadas, de acordo com o fim.

Thelema é filosofia, é lei, é religião. Faz-se mister convencionar conceitos, até mesmo superficialmente, para tentar permanecermos dentro de uma visão mais linear. Assim, abusando da dita superficialidade, consideremos Religião como uma maneira de promover o religar do homem com (seu) deus.

Agora carecemos da definição de deus. Quem é seu deus, quem é o deus do thelemita? Eu que não eu mesmo... essa definição bate naquele profundo problema de tentar definir o indefinível, traduzir em palavras (Ruach) aquilo que é, por definição, maior que ele. Assim, vamos "roubando"... C&C do homem com o SAG não é uma exclusividade thelêmica, assim como nossos objetivos não são exclusivos. Alcançar o centro crístico é se religar.

Thelema é religião. Com seus trigos e seus joios plantados.
O trigo pode ser o deus cristão enquanto o joio é o pastor ladrão. Nem nisso Crowley e thelema são exclusivos.

O que questiono, acerca dessa discussão e se o Liber Legis foi ou não canalizado, é: do que importa? A mim, nada.

Amor é a lei, amor sob vontade.

O que questiono, acerca dessa discussão e se o Liber Legis foi ou não canalizado, é: do que importa? A mim, nada.

Para mim também não, mas assumindo que existe uma separação de dois lados de Thelema, se supostamente fosse encontrada uma carta onde Crowley assumisse que o Livro da Lei foi fabricado, o aspecto religioso de Thelema possivelmente cairia por terra, mas a filosofia não, por isso acho que é possível distinguir entre dois lados. Acho que existe Thelema sem ocultismo e religião.

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(Comentário removido pelo administrador)

Caro,

religião vem do latim religare, mas religar a quem ou ao quê? Leia e descubra por si próprio.

Isso é a Religião, outra coisa é a especulação intelectual feita pelas «religiões», como a especulação feita pelo teólogos da Igreja Católica ou pelos líderes religiosos do Islão.

Agora, convém que o caro perceba que todas as «religiões» ou quase todas têm duas componentes, a exotérica, para as massas, e a esotérica. A componente esotérica fica reservada para os escolhidos e para os que procuram ou merecem esse Conhecimento.

Thelema não pode ser visto como uma Religião convencional pois não incute dogmas nem tem a típica especulação intelectual feita com argumentos que servem para quem tem «fé» e não para quem procura Conhecimento.

Eu, que me sinto até constrangido por essa minha primeira opinião "pública", sendo ex-ministro cristão de linha Reformada (calvinista), mas agora um "egocêntrico", por assim dizer de forma rasa, já que conheço pouco, apesar de tantas e tantas leituras nos últimos meses, quero ousar tecer um ponto de vista.
Enxergo Jesus como um "egocêntrico", alguém que encontrou no amor a si próprio e ao próximo a chave que abria portas espirituais par si. Ele foi, de fato, Luz, e quis que fizessem tal como ele fazia: ele chamava para que o seguissem, que seu método funcionava e que ele atingira elevada iluminação.
Com sua morte, as pessoas passaram a se focar mais na divinização de Jesus (que fora Deus se si mesmo, tão somente) do que em sua mensagem de culto ao Amor, eu Eu, à verdadeira libertação, sem leis, sem amarras, tendo a vida centrada somente no faça o que você quiser. Sim, isso foi o que Jesus fez, basta ler os Evangelhos. No entanto, repito, as pessoas deixaram de se focar na mensagem de Jesus e se focaram em sua pessoa. Assim, perderam a chance de usar seus métodos livres para se tornarem Deuses, tal como Jesus, e preferiram viver sob a suposta proteção mística de seu Deus.
O mesmo acontece com Crowley. Ele atingiu níveis incomuns à maioria e apresentou seu método. O método tem descrições diferentes, mas suas essências e alicerces são idênticos, se não bem mais detalhados e abrangentes, pelo menos o que temos acesso. Se as pessoas se focarem somente em Crowley e se esquecerem de seu propósito, que é amor, amor sob vontade, amor que nos torna livres para fazermos o que for de nosso desejo, elas tornarão Crowley mais um Deus da religião.
Se Criticamos os religiosos por não serem livres, mas presos a um sistema, temos de ter sabedoria e perspicácia para nos mantermos livres, no melhor sentido possível de liberdade, seguindo aquilo que é nosso desejo.
Religião? Sim. Mas, me religar a quê? De quê/quem/o quê estou desligado e que preciso me religar? Será que está distante, ali em algum lugar do passado, ou super próximo, tão perto que nem a mãos pode alcançar?

Paz.

É... Começa na masturbação mental. Um dia vc acaba comendo alguém de verdade...

Percebi que o meu post a cima não está em consonância com as regras do Forum. Então, aos moderadores, vão desculpando!

Alan,

Acredito que Thelema integra completamente essas duas visões que foram colocadas no Inicio da discussão. Então acho que deve ser uma questão de (gosto) temperamento optar por uma delas.

Tartesso,

Espero que Thelema não tenha essa coisa dos 'esotéricos escolhidos', acho isso de um mal gosto terrível. Graças a tudo nós temos a internet e uma boa rede de distribuição de informações pra evitar tal discriminação entre aqueles que são 'escolhidos' (seja lá por quem for) e aqueles que não são.

Religiosamente seu,
Z.

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O que vocês pensam sobre isso?
Estive lendo um pouco o AL hoje e acho que o AL diz algo sobre o que você propôs:

AL I 10-11

“Que meus servidores sejam poucos e secretos: eles regerão os muitos e os conhecidos.
Estes (ou seja, os muitos e os conhecidos) são tolos que os homens adoram; seus Deuses e seus homens são tolos”.

AL I 48

“Meu profeta (o Crowley) é um tolo com seu um, um, um; não são eles o Boi, e nenhum pelo Livro?”

Sabemos o significado que o profeta deu ao adjetivo “tolo” no AL, lemos por exemplo:

AL III:63

“O tolo lê este Livro da Lei, e seu comento; e ele não o compreende”.

Crowley interpretou que o tolo mencionado em AL III:63 não significa alguém ignorante da cabala do Liber mas sim alguém que revelou parte de seu significado, sendo esse tolo o Fr. Achad que compreendeu o significado do 93. Tolo portanto tem um significado relacionado ao Tarô, “O Tolo” ou “O Louco” como alguém inspirado por insanidade divina, embriagado de Deus ou da experiência da ausência de Deus. Na minha opinião isto significa que Aiwass coloca Crowley entre os tolos que os homens adoram, o que significa que ele é o equivalente thelêmico de Muhammad, Cristo e Moisés.

Com respeito ao panteão também fica bem claro no capítulo III que o AL instrui num culto particular a Rá Hoor Khuith, que pode ser interpretado como um culto ao Sol como vemos em Liber Resh vel Helios.

Percebem uma distinção?

Penso que não existe uma distinção. Existem diversas filosofias que tentam determinar o propósito de existirmos e que não se encaixariam no tópico religioso mas acredito que a conclusão de Crowley se aproxime da conclusão islâmica de que o homem existe para adorar a Deus, no entanto Crowley parece interpretar que o propósito seja unir-se com Deus, e isto parece ser sugerido pela Cabala na Árvore da Vida. Outros propósitos do ego, quero dizer propósitos que adquirimos com a vida como cuidar da família e de si mesmo, deveriam ser submetidos ao propósito maior.

Em qual dos “dois caminhos” vocês se encaixariam?

O segundo é o mais saudável porque estabelece as bases para obter o primeiro, assim eu penso que me encaixo melhor no segundo.

Para vocês Liber Legis é um texto que foi canalizado, escrito de forma inspirada ou foi simplesmente fabricado?

Acredito que tenha sido realmente ditado por um Adepto, um espírito na minha opinião.

Thelema significa incumbência, uma forma de liberdade que restringe o ser se “limitar” ao seu Telos, ao seu lugar na harmoniza existencial e essencial. Dito isso, considero um Thelemita aquele ser que está em harmonia com o macrocosmos, de tal forma que independente que ele conheça a Lei de Thelema, ele pode estar seguindo esse proposito maior, essa conexão com a unidade (Achad), bem como necessitando de Thelema como religião e sistema magico (magick) para executar sua verdadeira vontade.

Além disso, devemos considerar Thelema como uma Lei Aeonica, que está inserida num determinado período de tempo e logo perdera suas forças. Porém, existe um caminho que transcende o Aeon e, ao menos para mim, todo o arcabouço Thelemico e a corrente 93 são ferramentas para encontrar tal transcendência.

Para mim o Liber AL é um portal para entrarmos em contato com ““energias”” supraconscientes; ele foi canalizado…

Religare é um caminho que fornece recursos para conexão com o divino. Thelema oferece esses recursos aos seus modos…

Cuidado com os cães da razão!

Shalom

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93!

A filosofia é bastante ampla, clara, poderosa. Liber Oz é claro. Compartilho que tenho imensa dificuldade com a ideia da religião. Entrar nas incoerências é fácil. Para diversas pessoas, Thelema tornou-se dogma. Posso olhar para a filosofia Thelemita e usá-la para descrever relações de poder nos mais variados contextos. Só para exemplificar uma aplicação. Freud e Foucault também falaram dessas relações de maneira única e alertaram para as consequências. Quantos outros? Tem mais gente! Também penso que Crowley tinha questões patológicas graves que se misturaram na sua história. Muita gente lê sem filtro. Estes altos e baixos são conhecidos de todos, acho. Admiro Crowley em algumas coisas, uma parte porque ele não tinha outra alternativa senão realizar a Vontade. Agora, sendo o mais sincero possível, Thelema cobra um preço bastante alto dos incautos. Existem várias camadas de realidade se refletimos as palavras de Crowley. Leva tempo para refletir, aplicar, aprender e repetir este ciclo. Bobo é quem acha que Thelema não corta. Eu não entendo a religião que Crowley pensou, não mesmo. Isso não significa, obviamente, que desrespeito aqueles que a professam. Desde que não imponham a tal vontade deles contra a minha. Porque este problema é antigo. Dyulax este tema que trouxe é excelente.

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