Um comentário sobre a palavra "Lei" da Frase "Faze o que tu queres há de ser tudo da lei".

Sobre a "Lei" do “Faze o que tu queres há de ser tudo da lei".

Há várias coisas a se dizer sobre a palavra “Lei” presente na frase “Faze o que tu queres há de ser tudo da lei”. Este ensaio de dividirá em quatro partes: Sobre a Lei do Amor e Vontade; sobre a Lei cósmica Universal; sobre a Lei pessoal ou o Caminho; e sobre a Lei Social. E como estas quatro partes da Lei se tornam uma unidade. O autor do presente ensaio buscará ampliar o que foi dito Crowley na tentativa de trazer complemento a Lei de Thelema e dar um contribuição aos Thelemitas.
I
A Lei como Vontade e Amor.

A frase “Faze o que tu queres há de ser tudo da lei”, deve ser lida junta com a complementar frase “O amor é a lei, amor sob vontade”. Existe uma equivalência entre a Lei, a Vontade e o Amor, os três devem ser entendidos conjuntamente. O que seria a Lei? Amor, Amor é a Lei. Como devemos entender este Amor? Amor sob Vontade. E o que isso quer dizer? Temos vários fatores envolvidos. Temos o aspecto prático que remete o Amor à Vontade no ato de mágica sexual. Isso, por si só, já diz que deve haver Amor no Sexo Mágico. O Amor, no sentido da mágica sexual, não deve ser entendido como o simples sinônimo para Sexo tal qual quando dizemos “fazer amor” para se remeter ao sexo. Amor sob Vontade não é simplesmente fazer Sexo sob Vontade mágica substituindo a palavra Amor por sexo, mas, em um sentido mais profundo, quer dizer que deve haver Amor no Sexo Sagrado.

“Pois Eu estou dividida pela causa do amor, pela chance de união.” A quem o Amor sob vontade deve ser dirigido no Ato sexual mágico? Nuit nos diz: “tomai vossa fartura e vontade de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes! Mas sempre a mim.” O Amor deve ser dirigido a Nuit e tudo aquilo que ela representa. Somente àquilo que é Nada, à Nenhuma coisa (ver Liber CL), que é também o Todo, que é Deus, que é Nuit deve ser dirigido o Amor no Sexo Sagrado. No parágrafo 65 (65 é o número de Adonai) do primeiro capítulo de AL é dito somente duas sentenças: “A mim! A mim”. Nuit também exorta em tom severo: “se o ritual não for sempre para mim: então esperai pelos terríveis julgamentos de Ra Hoor Khuit!” Amar a Deus acima de todas as coisas é um credo Thelêmico.

Há outros fatores na Lei entendida como Vontade e Amor. Deve ser entendido que Vontade é Amor e que Amor é Vontade e que ambos compartilham a mesma natureza na igualdade do número 93. A frase Amor Sob Vontade, que é a Lei, refere-se a pelo menos dois fatos. 1º Toda Verdadeira Vontade possui a natureza do Amor. Isso quer dizer que o Amor faz parte da Thelema de cada pessoa. O cumprimento da Verdadeira Vontade é o cumprimento do Amor, ou seja, é amar. A Verdadeira Vontade é Amar. Amar a que ou a quem? Já foi nos dito, Amar a Nuit. E também amar o Caminho e o Próximo, pois Nuit está dividia. Para se amar a Nuit deve-se “amarrar aquele estado de multiplicidade” amando o próximo, ou seja, o Todo. A Verdadeira Vontade é Amor. Em cada aspecto particular, a Verdadeira Vontade “pessoal”, o caminho “pessoal” possui algo Universal com todos os outros caminhos, ou seja, o Amor. O Amor é a Universalidade presente em cada Verdadeira Vontade

O 2º fator do Amor sob Vontade é que o Amor deve ser querido, ou seja, o Amor deve estar sob a Vontade. Isso também quer dizer que nós devemos querer amar, o Amor deve ser uma escolha livre da Vontade. Nós de Thelema escolhemos o Amor. Há o ódio, a indiferença, a tristeza e sofrimento, há a alegria e êxtase. Os de Thelema escolhem o Amor, a alegria e o êxtase. Pela liberdade, nossa decisão é o Amor. Nós escolhemos o Amor e o Amor nos escolhe e nos invade em nossas Verdadeiras Vontades como Estrelas no corpo de Nuit.

II

Sobre a Lei cósmica, ou Universal.

Outro aspecto da palavra “Lei” contida na frase “Faze o que tu queres há de ser tudo da lei” é a Lei cósmica ou Universal.
Nuit, - o Espaço infinito e as infinitas estrelas- está dividida pela chance da união. O Espaço infinito abriga uma multiplicidade de Estrelas. Uma Estrela não é somente um Homem ou uma Mulher. Uma Estrela é qualquer existente, pois Hadit é o centro de toda existência e não somente do Homem. Há uma multiplicidade de existentes no Universo e todos estes existentes estão em relação. A relação destes existentes se dá, em Thelema, devido ao Amor. A maldade, o egoísmo, o ódio, por mais estranho que possa parecer para a mente na primeira vista, é uma manifestação, em certo sentido, do Amor. A Lei, presente no “faze o que tu queres há de ser tudo da lei”, é, também, uma Lei cósmica. Cada existente do Universo, seja ele qual for, cumpre sua Vontade, seu caminho, seu percurso em Amor. O caminho de cada existente no Universo só acontece em relação com outros existentes. Uma estrela isolada, sozinha, não seria mais uma Estrela, não poderia agir, pois ação presume relação. Unidade é Multiplicidade e Multiplicidade é Unidade em uma relação para além desta dualidade onde um inclui e exclui o outro em uma união para além destes contrários. A Lei cósmica do Faze o que tu queres é a relação de tudo com tudo, cada qual em sua particularidade que não é particular pois encerra a relação dentro da Totalidade. E esta relação dentro da Totalidade é Amor e é a Lei. Faze o que tu queres é uma Lei Universal e Cósmica que vai de uma partícula, a um animal, planta e Homem.

III
Sobre a Lei pessoal, ou o Caminho.

Primeiramente deve-se ficar claro que a pessoa não é uma pessoa. Que o indivíduo não é individual. E que o particular não é uma particularidade. A Lei pessoal, desta forma, não é pessoal, pois encerra em si o próximo e o Universo. A Lei pessoal é um conceito muito antigo na história da humanidade. Ele é chamado de Tao, Dharma, Vontade de Deus, Thelema , e em todos estes princípios a Lei “pessoal” ou a Verdadeira Vontade está relacionada ao próximo.

A Lei “pessoal” não é egoísta. Se há egoísmo a pessoa está falhando no cumprimento da Vontade. O ego, o Eu, o Sujeito, o indivíduo, o particular é uma ilusão. É um dos fins da Vontade infinita presente em todos os seres humanos aniquilar o Ego. A Verdadeira Vontade possui uma regra que vale para todos: destruir o Eu.. O Fato é que a Lei “pessoal” do Faze o que tu queres é a Lei de Deus na pessoa e não qualquer delírio egoísta que traz sofrimento para si mesmo e para o próximo. A Lei “pessoal” é a Lei do Amor e Liberdade, nela não é concedida qualquer interferência em outro existente. Uma pessoa cuja “Lei pessoal” está em detrimento com o próximo não está cumprindo sua Verdadeira Vontade. Não existe um Dharma assassino, ou estuprador. Não existe uma Verdadeira Vontade egoísta, destruidora, que quer se impor sobre o próximo tirando-lhe a Liberdade. Isso é sintoma de falha no cumprimento de si próprio. Aquele que segue sua Lei “pessoal” está servindo a Humanidade, ama a Humanidade, Ama o Todo acima de si mesmo, pois está em relação de Harmonia e Beleza com o Universo. Amar a Nuit é amar a multiplicidade pois ela está dividida pela chance mesmo deste amor. É um sinal de realização da Verdadeira Vontade a Harmonia e Beleza.

Faz parte da Lei “pessoal” o “amar ao próximo como a si mesmo”. Si mesmo só é como é devido ao próximo. Amar a si mesmo é, automaticamente, amar o próximo. Aquele que não ama a si mesmo não pode amar o próximo. E aquele que não ama o próximo não ama a si mesmo. Par a pessoa ser o que ela é a história de toda a humanidade transcorreu. Em nosso sangue corre os AEONs de labor. Uma pessoa é todas as pessoas. Nuit está dividida em sua manifestação que é Had em todos os seres humanos.
O Amor faz parte da Verdadeira Vontade. Aqui temos que concordar com aquele que disse “Ame a Deus acima de Todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

IV

A Lei Social.
A Lei do “faze o que tu queres há de ser tudo da Lei”, deve ser também entendida como uma Lei Social. Uma Lei é uma regra de conduta Social. A Lei é uma questão de política. Não podemos nos eximir disso, de relacionar Thelema com Politica. Em uma carta de Crowley perto do final da sua vida escrita em 1945 ele escreve a Jack Parsons: “Eu não tenho absolutamente tempo algum para escrever política. Nosso programa está claramente apresentado no Liber Oz, e deve-se sempre manter em mente que ele segue basicamente os mesmos princípios do individualismo à moda antiga da República Americana. Uso aqui a palavra ‘República’ em seu sentido mais amplo. A existência de um Monarca não interferiria com ela”. Esta carta nos revela muitas coisas, dentre elas que Crowley não escreveu especificamente sobre Política e resumia seu programa todo no Liber Oz.

A pergunta que devemos fazer é a seguinte: existe algum sistema político que garantiria todas as promessas presentes no manifesto político de thelema, o Liber Oz? Crowley era dúbio, nem um pouco claro, em seus pensamentos políticos (tirando a clareza do Liber Oz). Podemos retirar de seus escritos incitações a Aristocracia, ao Nazismo quando ele fala sobre raças superiores, como em Liber 888 e no comentário longo do Liber AL e cita um naturalismo vogando alguma condição como que por Natureza da pessoa; podemos tirar comentários Socialistas como no texto Liber CLXI onde ele realiza um projeto Político para a O.T.O de cunho claramente Socialista, nos parágrafos 38 e 39 do Liber Aleph há claramente ideias Marxistas. Enfim, tem Crowley para vários gostos. Tudo isso porque Crowley era muito confuso em Política, se contradizia e não entendia muitas coisas do que escrevia como, por exemplo, ao igualar o Fascismo ao Comunismo e ao mesmo tempo chamar Karl Marx de gênio inspirado, três vezes sábio e uma vez Louco, comparando-o aos atributos do Louco do “Livro de Totht”. Pelo fato de não ter se detido especificamente em um escrito político ele é confuso e dúbio e isso é um problema grave. Cabe aos Thelemitas depois de Crowley sanarem este erro escrevendo sobre Política oferecendo saídas Sociais para a melhor implantação da Lei de Thelema seguindo os ditames do Liber Oz. Crowley nos deu várias bases para isso.

Para encerrar esta parte sobre a Lei social, gostaria de trazer para a baila dois parágrafos de Liber Aleph o 38 e 39. O parágrafo 38 “Da ordem das coisas”, fala sobre a ordem social. Crowley compara a Sociedade com o Corpo humano onde cada célula teria a sua função sem uma hierarquia, mas com cada célula voltada ao interesse ao bem estar de Todos. Ele escreve: “Pois todo indivíduo no Estado deve ser perfeito em sua Função, com Contentamento, respeitando sua Tarefa particular como santa e necessária, sem cobiçar a de outro. Pois apenas assim tu podes construir um Estado Livre cuja Vontade dirigente estará voltada unicamente ao Bem-Estar de todos”. Se entendermos que em Thelema não há hierarquia de uma profissão melhor do que a outra ou de uma pessoa melhor do que a outra, podemos concluir várias coisas desta ideia. Se não há hierarquia em Thelema que direito uma pessoa teria de ser mais valorizada que uma outra? Mas, se há hierarquia em Thelema, e se Thelema propõem pessoas melhores do que as outras, então, não há problemas nenhum em valorizar certas pessoas e não outras.

O parágrafo 39 do Liber Aleph ele fala especificamente de como ele considera que deveria ser o Estado, o título deste parágrafo é “Dos fundamentos do Estado”, ele nos diz: “Pois cada Homem neste Estado que Eu proponho estará satisfazendo sua própria Verdadeira Vontade por sua pronta Aquiescência na Ordem necessária ao Bem-Estar de todos e, portanto, também dele mesmo”.

O amor é a lei, amor sob vontade.