Seja muito bem vindo!
Existem também outros rituais que não aparecem nessa lista. Importante pontuar que a maioria desses rituais é feito mediante pagamento em dinheiro. Os cursos oferecidos por eles também são pagos. Eles tem um forte apelo mercadológico e pregam muito sobre prosperidade financeira também.
Mas enfim, gostaria de saber se alguem aqui já teve alguma experiencia com esse movimento direta ou indiretamente e como foi essa experiencia.
Realmente, nunca tinha ouvido falar desse grupo, mas percebo que existe em larga escala e franca ascensão um certo “mercantilismo espiritual” rolando no mundo todo, e isso, ao contrário do que gostamos de alardear dada a rivalidade histórica e as atrocidades flagrantes, não é exclusividade de alguns (NÃO TODOS!) expoentes do movimento neopentecostal , havendo, aos borbotões, no seio do oculto quem exerça esse tipo de prática. E, como em tudo na vida, essa é também faca de dois gumes, existindo toda uma questão ética envolvida.
Da mesma forma que abomino certos excessos, mistificações, e a odiosa - porém habitual - tendência do ser humano a permitir que seu ego se hipertrofie mediante estabelecimento de hierarquias em grupos de natureza “iniciática” fortalecidas pela alavanca do medo sobre seus semelhantes, também entendo que conhecimento é algo valioso e, portanto, para alguns, passível de comercialização.
Posso compreender que exista interesse mútuo na ministração de um curso específico, por exemplo, o qual requer toda uma infraestrutura para ocorrer, e que sim, merece ser remunerado já que não deixa de ser um trabalho. Há também quem viva do sacerdócio, como é o caso de alguns Babalorixás, que cobram pelos seus serviços e iniciações, até por estes se tratarem de expedientes dispendiosos. Entendo também que há pessoas que sobrevivam de escrever livros sobre o assunto, e que isso demande tempo, pesquisa, trabalho e experiência. Enfim, todos temos contas pra pagar e precisamos ganhar a vida de alguma forma e não há nada de errado em ganharmos algum dinheiro com aquilo que elegemos como profissão.
É, inclusive, fato bem conhecido que existem algumas Ordens tradicionais, renomadas e bem afamadas que são extremamente comerciais, tentando vender todo tipo de bugiganga para os seus afiliados. E tranquilo, compra quem tem interesse.
Existe uma regrinha curiosa sobre as relações, não só as humanas, mas também aplicável a estas, que eu gosto de chamar de “quid pro quo” (literal e não pejorativamente), que prevê que se dê algo em troca do que se recebe. Acredito firmemente num certo “toma lá, da cá” em que uma constante troca é estabelecida. Esta não é necessariamente uma relação direta entre duas pessoas, podendo facilmente se tornar uma corrente, do tipo recebo aqui e retribuo logo ali, onde for possível e necessário.
E falando diretamente relacionado ao oculto, entendo que informação é poder, mas também acredito que poder permanentemente represado é doença. A informação deve fluir por você, se recebeu algo de graça, dê algo de graça, não precisa ser a mesma coisa nem à mesma pessoa, mas faça algo de maneira gratuita, mantenha um certo equilíbrio entre o que recebe e o que distribui. Longe dessa ser uma conta exata, acho que essa é uma regra que fala mais a respeito de permitir-se viver sobre determinada tendência.
Acredito que a gente não deva tentar ganhar sempre, levar sempre ventagem, fazer sempre o melhor negócio pra nós; uma relação comercial deve ser boa pra todos. Talvez seja razoável que eu aceite perder de vez em quando. Creio que qualquer comportamento que vá contra esse fluxo de reciprocidade tenda a algo semelhante a uma espécie de vampirismo.
Acho que no final das contas é tudo uma questão de equilíbrio, decência, proporcionalidade e boa fé. Não venda o que você não consome, não minta sobre o que está vendendo, NÃO COAJA JAMAIS ALGUÉM A COMPRAR, e cobre um preço justo de quem achar que vale a pena pagar pelo seu produto.
O que pensam a respeito disso? Pode haver consequências de alguma forma
pelo uso simplificado desses sistemas? Ou tudo é válido?
Simplificações, mudanças, mistura de “tradições” é o que todo mundo faz desde que o mundo é mundo. Particularmente eu não gosto, mas não é isso que invalida necessariamente. A consequência pode ser desmembrar, distorcer e desfigurar todo um sistema ou conhecimento, fazendo-o perder grande parte de seu sentido. Infelizmente essa vulgarização não é apenas uma propensão muito forte, como é um caminho sem volta, e você como estudante de Ciências da Religião deve saber disso muito melhor do que eu, é só fazer um retrocesso rápido no curso da história que qualquer religião antiga que ainda exista e traçar um comparativo.
É preciso uma bagagem muito grande para adaptar sem desfigurar um sistema; uma pretensão muito grande para achar que isso serve para qualquer um além de você mesmo; e uma coragem (ou irresponsabilidade, depende da sua competência) inominável para tornar isso disponível para os outros (cobrando então, nem se fala).
Abraço!