Dado o fato que eu absolutamente não me sinto suficientemente versado em literatura/mitologia hebraica e, dessa forma, não me vejo em condições mínimas de qualquer tipo de argumentação razoável com os senhores no que tange aos seus pormenores, assim sendo, num primeiro momento, me ocorreu não me intrometer nesse tipo de discussão.
Entretanto, se o faço, é por um motivo pertinente, a saber, pelo simples fato de compreender a importância de um contra-ponto cético. Assim sendo, sobre esse assunto, preciso dizer que entendo isto que chamarei aqui de “mito” como sendo algo totalmente simbólico, assim como quaisquer outras mitologias sob a face da terra no curso da história humana. Dirão que sou um incrédulo. E, bem, de fato, para todos os efeito, realmente eu sou.
Entendo Lúcifer (e todas as Divindades “prometeicas”), como uma representação simbólica de uma emancipação dentro do estágio evolutivo humano, e isso em muitos níveis, e nesse sentido, tanto o desenvolvimento do intelecto a nível coletivo, e tudo o que esse fato acarreta (mente auto-consciente e depois o que viria a se tornar o ego segundo o compreendemos hoje), quanto ao próprio despertar sexual individual em nível íntimo, podem ser representativos dessa “emancipação”. No primeiro caso o homem deixa de ser um animal qualquer para se tornar a “Coroa da Criação”, um Ser consciente de sua existência, que se dá conta de si próprio, que pensa e usa a razão para dominar o mundo à sua maneira e prosperar nele da maneira que for - e sim, isso abre o leque para uma série de implicações morais do tipo: se isso é “bom” ou “mal”, mas enfim; no segundo caso, ele entende a si mesmo como semelhante ao Divino, ao “Princípio Criador”, sentindo que seu corpo se modifica conforme sua maturidade chega e isso e o torna capaz de criar a partir de si mesmo mediante um processo “mágico”, o sexo. Está igualado a Deus, senão pelo fato de seu declínio - sua velhice - e sua morte (ou Queda).
O Inferno é associado ao inconsciente. A casa do demônio, ou a décima segunda casa astrológica da qual Satturnus fala, por exemplo, é uma posição associada ao Karma, ao exílio, a aspectos inconscientes da personalidade, aspectos esses dos quais jamais teremos consciência, àquilo na gente que não enxergamos e que aflora só mui eventualmente e de maneira misteriosa para nós.
Entender o Diabo, Satanás, Jeová, Lúcifer, o Inferno, Zeus, Mercúrio, Babalon, ou quaisquer divindades de maneira literal é, segundo compreendo, um equívoco. A humanidade vem recorrendo às simbologias desde seu florescimento, num primeiro momento para projetar o que não compreende, e num segundo momento para expressar conceitos abstratos, preservá-los da corrupção e torná-los inteligíveis para quem tiver capacidade e conhecimento para decrifrá-los.
O mágico só é transcendente porque é físico, porque parte daquilo que é físico, senão não haveria o que transcender. Com isso quero dizer que, segundo o que acredito, os homens criam os deuses, e se esses passam a existir em algum lugar de alguma forma, alimentados pela crença e devoção humana, isto se dá de nós para eles. Criamos as egrégoras, criamos os arquétipos, criamos os deuses, criamos os demônios, e tudo o mais que formos capazes de acreditar de maneira genuína e perdurável.