Goéticos Nutella

Talvez tudo tenha começado quando a internet descobriu a publicação “A Interpretação Iniciada da Magia Cerimonial”. Nesse documento Crowley afirma, com a prepotência e certeza de sua juventude, que um espírito que se manifesta aos sentidos do magista em um triângulo, é, nada mais nada menos que “parte do cérebro humano”. No ano seguinte ele escreveria o Liber Al vel Legis, que ele depois julgou ter sido ditado por uma entidade que, ele acreditava, não tinha nenhuma relação de dependência com o seu cérebro. Poderíamos entrar na discussão aqui de que se Aiwass é um ser exterior ao homem por que não Paimon também? Mas não é esse o objetivo deste tópico.

O documento mencionado iniciou uma espécie de escola interpretativa no ocultismo, fortemente vinculada ao chamado “iluminismo científico” na magia. Por mais que um ser medonho aparecendo, falando, proferindo oráculos, respondendo perguntas, exalando cheiros, num triângulo, seja, certamente, um milagre, o efeito pareceu ser diminuído na mente dos interpretes, quer dizer, os estudantes começaram a interpretar que se o goético é uma parte do cérebro do magista então o goético é um ente subjetivo e não uma coisa com existência própria (ressaltamos que no ABA Crowley menciona a possibilidade de o goético ser preso por outro magista o que já parece invalidar o documento mencionado antes).

A internet veio, com seus milhares de masturbadores e suas legiões de especialistas em porra nenhuma e, é claro, teceu suas próprias teorias a respeito da goétia. Talvez aproveitando a onda e de olho nas vendas o autor Lon Millo Duquete publicou mais um de seus livros de goétia.
No livro “goétia e magia sexual de Aleister Crowley” (ui) ele, como sempre, coloca as descrições dos goéticos e seus sigilos para que o livro tenha pelo menos umas 70 páginas. Na descrição de Astaroth ele menciona que o autor do Lemegeton descreveu o cheiro de enxofre pra enganar o leitor, afinal Astaroth é uma deusa da beleza então o goético, certamente, deverá vir com cheiro de rosas, nada demoníaco.

Agora, partamos para o ponto deste tópico.

Muitos estudantes tratam os goéticos como espíritos “normais”, até mesmo benévolos. Partem do pressuposto de que a Igreja deturpou o sentido do termo grego “daemon” e que, mas é claro, qualquer coisa chamada “demônio” só pode ser um daemon, um espírito neutro. O entendimento, evidente para qualquer *praticante é equivocado. Até mesmo porque o demônio da goétia é um kako daemon, um espírito do mau. Ora, a idiotice chegou a tal ponto que existem sites e grupos dispostos a cultuarem goéticos porque confundem o goético com uma deidade pagã de nome similar! Mas Astaroth não é Astarte, nem Amon da goétia é o AMON egípcio, que é DEUS.

Não se engane! Goéticos não são pets, e mesmo que eles sejam partes do seu cérebro são as partes da sua “sombra”, quer dizer, de complexos reprimidos teus. Esqueça o papinho de que “demônios são seres pragmáticos e anjos dogmáticos” quando for lidar com a Goétia.

Se você discorda da minha posição e acha goéticos caras legais então eu te convido ao debate. Aponte seus argumentos e vamos juntos viajar pro inferno, ou pro cérebro.

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Se o seu propósito era discutir, não está facilitando nada, já que a coisa colocada nesses termos fica bem difícil discordar. Acho que o prelúdio do tópico, sim, é discutível (o que é, o que não é, até onde existe realidade objetiva, ou se não passa de ilusão); a conclusão, não. Se será frutífera a discussão acerca dessa veracidade? Bom… aí já não sei. Se tivesse que arriscar um palpite, diria que não.

Mas, voltando à coisa em si, francamente, credito que ninguém ache goéticos caras legais. Aliás, confesso que nem sabia que esse povo existia (pelo menos, não desse jeito assim descrito). Mas, também cabe dizer, que a coisa hoje está de uma forma, que já nem me impressiono mais com a fauna.

E sabe do que mais? Me importo pouco, e cada dia menos. Ficando velho.

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Admito que comecei a escrever pensando antes em criticar essa postura, a de “amaciar” os goéticos, que me parece um tipo de tendência em certas doutrinas contemporâneas, como a magia do caos, mas imaginei que alguém pudesse ficar revoltado e sair algo de interessante do papo. A questão da realidade objetiva eu concordo, seria um bom debate, mas realmente não seria algo frutífero porque não há como ter uma conclusão final disso mesmo.

Há quem ache goéticos caras legais, normalmente quem nunca evocou um. O tópico me veio na mente esses dias quando me recordei de um blog sobre “goécia satânica”. Outras coisas me vieram à memória, muitas de estudantes que consideravam goéticos como amigos etc; se não me engano no livro Cabala, Qliphoth e Magia Goetia do Thomas Karlsson tem um exemplo similar disso, de um dos alunos dele acho.

kkkkk ficar velho deixa a gente cansado com essas coisas eu sei, mas queria tentar dar uma animada no fórum.

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Acho que está questão dos daemons da goetia serem partes da nossa sombra, ou seres de consciência individual vivendo num plano mais denso “inferno” vai do que cada um acreditar, ou da experiência pessoal de cada um…como provar?
É a minha mesma dúvida se um espírito incorporado como um Exu por exemplo, é espírito exterior uma forma de energia ou parte da minha psique…
Você falou dos caoistas novos né, da internet e tal, eu larguei faz tempo de um grupo do face da magia do caos, o negócio virou palhaçada, até os 40 servidores tava de boa e tinha o abralas que eu trabalhava,mas depois a gurizada começou a criar servidor um mais viajado que o outro, até botar daemons pra lutar igual pokémon… Cara! Virou palhaçada kkkkkkkkkk

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Pois é, daí pegando o gancho, me obrigo a comentar que hoje se vê que o pessoal tem colocado tudo em um mesmo saco de gato. E sim, aquilo que ora se resolveu chamar de “magia do caos” tem culpa nisso.

Esses dias vi um anúncio de um menino de, quem sabe, uns 25 anos – talvez menos – e que se dava a titulatura de “Tata não-sei-o-quê do Astaroth”, (e torço para que não seja nenhum dos senhores presentes nesse fórum!) oferecendo pacto e amarração por milhares de reais – literalmente, uma promoção de R$ 3.000,00 por algo tipo R$ 2.400,00). Daí, eu que também não valho nada, por curiosidade mórbida, entrei no perfil da criatura, e lá vi coisas escabrosas, por exemplo, vídeos dele falando tanto de Lúcifer quanto de um tal “exu das sete facadas”. Ou seja, essa galera faz uma salada com elementos completamente estranhos uns aos outros.

Francamente não entendo a necessidade dessa mistura de religiões de matriz afro com magia medieval. Vestir “exu” de conde drácula e “pomba gira” de prostituta do século retrasado é, no mínimo, incoerente.

A dessexualização das antigas divindades africanas a fim de aproximá-las do Cristianismo criou demônios – como calha de ocorrer sempre que reprimimos impulsos dessa forma assim pujantes. Nascia essa fauna. Diabos e diabretes nos quais depositarmos aquilo que extraímos dos velhos deuses. Iemanjá passou a ser apenas mãe e deixou de ser fêmea. Ogum se travestiu num cavaleiro de armadura e deixou pra trás o velho facínora que mesmo “tendo água em casa, lava-se com sangue”.

E já que tocou no assunto, aproveito pra dizer que sou cético com essa coisa da “incorporação”. Eu sou filho de Exu. Não viro no santo, mas tenho uma relação muito próxima com o Orixá por considerá-lo uma ponte entre o humano e o Divino em mim. Mas mesmo durante o transe, o fenômeno, segundo creio, se dá internamente. E nesse contexto, par mim a incorporação inexiste.

Com relação a outras pretensas entidades digamos, menos excelsas, acho que ocorre fenômeno semelhante, no entanto, o que se manifesta é algo também menos excelso e mais próximo da personalidade e dos desejos reprimidos. O inconsciente tem formas inusitadas de se manifestar. Isso, é claro, quando falamos de transe genuíno, porque o que mais existe é leitura fria e fingimento por aí, gente querendo ganhar dinheiro em cima da credulidade do povo.

Relações de poder dentro do mágico e do religioso, intermediações externas entre o humano e o Divino, hierarquia “espiritual”; sou contra. Abomino, condeno, combato.

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Acho que se o cara cai de paraquedas na magia do caos, e naqueles grupos começa a ter essa visão de salada de fruta, formula o conceito de caos como `` vou inventar o que eu quiser aqui porque sou mago´´ não estou generalizando mas talvez um adolescente( até veterano também) possa compreender que o caminho seja o auto-conhecimento, e claro, estudar e ler muito…
Tem pessoal que acha que magia e espiritualidade é tipo harry poter ou doutor estanho, faz um desenho no papel e bate uma bronha e ta feito o server/tulpa, depois começam a agradecer e a venerar como se fosse um Deus…isso é o technomago da nova Era.
A respeito de hierarquia espiritual, acredito que se teu caminho for trilhar sozinho, ok, realmente existem pessoas que conseguem entender e busacar por si mesmas lendo,estudando e praticando, mas tem pessoas que precisam serem doutrinadas e de um lider, acho que existe hierarquia em tudo, a sociedade é feita de hierarquia mesmo que isto implica ter mais dinheiro e ser mais bem sucedido que o outro, pra mim também é um tipo de hierarquia, a cabala é uma hierarquia os anjos são dispostos em forma de hierarquia assim como os demonios, toda religião e tribo tem suas graduações porque sempre vai existir alguém mais experiente e sábio do que nós, que já trilhou aquele caminho…
A umbanda é sincretismo da religião católica com a afro, orixás viravam santos para que os negros escravizados pudessem continuar cultuando seus deuses, a umbanda tradicional só usa branco tanto Exu como pomba gira, essas vestimentas foi se modificando por conta do Ego das pessoas de querer modificar, hoje em dia realmente é mais egocentrismo do que busca verdadeira, na casa onde frequento tem as duas vertentes: umbanda e nação(irmã do candomblé tradicional) onde os orixas são o que são, forças da natureza( e arquétipo pra mim).
No final das contas tudo é um copia e cola, um sincretismo de religiões e dogmas que são modificados pelos seus próprios membros, por vaidade e ilusão de poder…

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É sua opinião, eu a respeito, como não poderia deixar de ser. Ainda assim, discordo em alguns pontos bem fundamentais.

A hierarquia é uma condição social, e os homens são animais sociais, portanto ela existe como um construto que se estabelece nas sociedades humanas. Entretanto, não acho que processos naturais sejam assim premeditados e submetidos a esse tipo de expediente. Acho que o universo é bastante menos humano e mental do que se prega por aí nos círculos de entendidos.

Talvez você possa pensar que eu sou um cético, e se assim for, você estará certo. Acho que o inconsciente é capaz de operar fenômenos fantásticos e que nossos sentidos são altamente enganadores, e tanto mais quando mais sugestionados estivermos. Não acredito em anjos ou demônios, em espíritos ou esferas, ao menos, não em nada que o homem não tenha ele mesmo feito nascer de alguma forma e que não manifeste a partir de si – sim, outra vez essa discussão e sua parca capacidade de frutificar no que quer que seja; perdoem-me.

Acho que o caminho iniciático de todos nós é trilhado sozinho, a questão que se impõe é “a partir de quando”, e talvez até mais importante “o que ocorre nesse meio tempo”. O de alguns, como você disse, se dá de maneira solitária desde sempre, o de outros, corre guiado pela mão de alguém até certo ponto. Mas, em dado momento, é sabido, que se afunila a senda e as passagens viram fendas.

Quando falo em hierarquia espiritual não estou falando em hierarquia religiosa, nem tampouco na relação “mestre/discípulo” – muito embora tenha sim eu lá minhas críticas a isso, ainda que saiba que tem muita gente boa querendo o bem do próximo. Estou, enfim, opinando que ninguém tem autoridade para lhe dizer como, e qual, deva ser sua relação com o Divino em você. “Faz o que tu queres” é também isso, não interferência em questões de foro mais íntimo. Daí vem a interdição quanto a um conduzir qualquer outro à Comunhão com o próprio SAG.

Teu instrutor, “mestre”, sacerdote, pode te ensinar uma oração, meditação, respiração, conceito, postura… mas ele não pode te dizer como adorar, como transcender. A explicação acerca da dor do íntimo amanhecer não fará você a sentir ou compreender. Só existe um único jeito de sabê-la. Não é a voz do outro que você precisa ouvir, o silêncio é o que fará você ser capaz de se escutar (eu sei, é clichê, mas é real). O Divino no seu coração habita; também no meu. E se a verdade do meu coração não é maior do que a Verdade do seu, como posso eu querer que haja entre nós hierarquia ou, em última instância, diferenciação?

A religião deveria ser um caminho de condução do Buscador até o ponto em que ele fosse capaz de empreender sua Caminhada sem condução alguma. Ou, na verdade, sem condução externa. Mas o que se vê, no mais das vezes, é paternalismo, exploração, egolatria, escravidão e, muitas vezes, até coação e ameaça pela via do mágico. Triste a cena!

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Magnifico amigo, eu também respeito sua opinião e longe de mim tentar converter o conceito e ideias das pessoas a cerca da espiritualidade, e do que fazem de suas vidas, como a Lei de Thelema é clara `` somos todos estrelas´´ um ponto com nossa circunferência.
Eu vejo a fé como uma esperança para pessoas que necessitam de um alento,uma resposta se existe vida após a morte, muitas precisam disso até para não entrarem em depressão, talvez uma muleta…
Como eu digo para minha mulher e conhecidos, eu acredito 50% e o restante não, porque só tirarei minhas conclusões após morrer, se houver algo ok, se não…eu não vou saber mesmo…talvez sou uma energia que usa essa massa cinzenta que me dá possibilidade de pensar e agir, e após seu vencimento me dissolvo como um vapor no Ar ou Ether.

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erem partes da nossa sombra, ou seres de consciência individual vivendo num plano mais denso “inferno” vai do que cada um acreditar, ou da experiência pessoal de cada um…como provar?

Acredito que o axioma de Hermes seja aplicável nessa situação: aquilo que está acima é como aquilo que está abaixo. Isto está implícito no símbolo da Árvore da Vida: a tríade superna é chamada de Grande Rosto, Deus, enquanto as Sephiroth inferiores são o Pequeno Rosto, Adão, o Homem. O Homem é o reflexo de Deus na natureza, por assim dizer. Um goético como Paimon por exemplo, existe no sentido objetivo da coisa: ele não depende do magista para existir, ele já existia antes do magista nascer, continuará existindo depois que ele morrer, mas o magista contém elementos em sua Alma que correspondem a esse goético, que permitem que ele conjure o goético neste mundo. Penso que esta doutrina justifique a crença no sobrenatural e na existência de seres espirituais para a prática oculta.

A questão dos exus, é algo similar. Estou convencido de que é um espírito que realmente possui o feiticeiro, no caso da quimbanda. É comum ver um Tata possuído tomar garrafas de Absinto e, no final do culto, voltar para sua consciência sem sinal algum de estar bêbado, os sinais do alcoolismo também não ocorrem durante o culto. Há diversos testes também para comprovar a incorporação verdadeira, um exu não sentirá dor por exemplo e o médium simplesmente “dorme”, fica apagado durante todo o tempo. Ele também perde a consciência de propriedade, os exus podem arrebentar fios de conta, entregar anéis e outras jóias e o médium só perceberá isso quando voltar ao normal. Mas é necessária uma conexão, um componente no microcosmo do médium, para conseguir realizar a incorporação, isso demanda iniciações desses cultos.
Claro que há de se ter cuidado, principalmente nos cultos mais abertos como a Umbanda e o Candomblé. Soube de um caso que colocaram um orixá para lavar a louça e limpar o chão, você realmente acha que um deus dos elementos, um ancestral que já foi rei ou guerreiro, iria se curvar e fazer uma merda dessas?

O conceito dos 40 servidores até que é legal, mas por que magistas escolheriam CULTUAR elementais artificiais criados por outro magista? Na internet levou-se em conta somente a parte dos sigilos, poucos realmente empreenderam o caráter criativo da coisa. Nunca vi um debate sobre o Liber Kaos por exemplo, somente essas viagens de pokemon e de invocar personagens de quadrinhos da Marvel.

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kkkkkkk essa história da amarração me fez lembrar dos tempos de ouro no Orkut onde os caras vendiam o kit pacto. Sempre tem um idiota pra comprar essas merdas.

Com respeito às hiearquias

Acredito que as hierarquias espirituais se dividam em dois tipos gerais: as organizadas pelos espíritos e as organizadas pelos magistas.
Uma hierarquia como a da Árvore da Vida pode ser considerada como desenvolvida por magistas, assim como as hierarquias de deuses como a dos olímpicos. Já as diversas hierarquias distintas nos cultos espiritistas como a umbanda podem ser consideradas como organizações sociais dos mortos. Cada “casa” , cada “tribo” terá a sua, como se fossem blocos distintos, porque essas hierarquias operam como “famílias”, por isso algumas casas de umbanda terão uma hierarquia x que não é reconhecida pela y etc.
Quanto a natureza, se observarmos os planetas deduziremos uma hierarquia celestial por meio deles, que provavelmente é o que foi feito na cabala. Quer dizer, a interpretação das características dos planetas: sua velocidade, sua distância, seu brilho, sua cor etc; correspondem a um grupo de deidades específicas. Não é uma hierarquia do tipo “quem manda mais” mas sim uma hierarquia de função, como o porteiro, a faxineira, o cozinheiro por exemplo.

No aspecto de magia prática a hierarquia é bem útil. Crowley sugere que o Deus representa o cérebro, o Arcanjo uma área do cérebro, o Anjo uma área mais específica do cérebro, a Inteligência planetária um ponto ainda mais específico e, por fim, o demônio representa a coisa que se quer evocar. É até curioso como isso se assemelha com a sintaxe na gramática, livros formados por parágrafos, que são formados por frases, que são formadas por palavras, que são formadas por sílabas, que são formadas por letras etc. Crowley também argumentou que os Deuses egípcios não seguem essa regra mas não sei se isso seria verdadeiro, a própria noção de hierarquia espiritual parece ter sido altamente desenvolvida no Egito. Mas suponha que você queira invocar Toth ou Elohim Gibor, você terá de hierarquizar essa Divindade, invocando seus atributos físicos, depois suas esferas de poder etc. Daria um novo tópico esse tema, seria bem legal.

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É o neoliberalismo, o mercado do oculto se auto regulando, oferta e procura “de braços e abraços num romance astral”. Seria trágico, por sorte é cômico. Ou será ao contrário?

Sim, eu entendo. Mas não era exatamente a isso que eu me referia.

De toda forma, com relação ao primeiro tipo destacado, me cabe dizer que não acredito no intercurso do vivos com o espírito dos mortos. Também não creio que tenham existência independente quaisquer outras divindades ou seres ora divididos em classes e subclasses, hostes, falanges, ou o que quer que seja. Então, como você bem disse que afirma Crowley, acho que isso são diagramas com especificidades úteis, mas ainda assim, diagramas, onde se usa uma linguagem alegórica capaz de nos produzir efeitos sensíveis, mas não necessariamente literais ao que propõe a alegoria. Mas, de toda forma, úteis e válidos, desde que usados com sabedoria.

Quanto ao segundo tipo, acho que isso se dá mais em um campo hierárquico religioso, de tradição, dentro de uma ordem, uma casa, uma organização qualquer. É onde se dão as fatídicas relações de poder, na maioria das vezes. Sendo também onde estas relações podem ser atravessadas pelas supramencionadas, já que “o caboclo falou”, ou “o santo pediu” costumam ser argumentos bem dificilmente questionáveis. Não que as coisas não possam ser feitas de maneira legítima e idônea, mas o ego está presente em todo lugar, e ele é um inimigo insidioso.

Mas, enfim tentando ser claro sobre o que eu quis dizer a princípio, quando usei o termo hierarquia espiritual, estava falando da autoridade de outra pessoa sobre o caminho de uma terceira. Me referia a algo muito mais no campo da ideologia. Por exemplo: em Thelema, muitos são os que se casam com Crowley de maneira a não conseguir jamais discordar dele, ou mesmo, ter qualquer ideia para além das dele.

Na vida iniciática deve existir um momento de emancipação, e o guia (instrutor, sacerdote, ou o que seja) de boa-fé deve lhe encaminha para essa emancipação. Se eu for para sempre um Budista, jamais farei de mim qualquer outra coisa que extrapole essa limitação.

Existe aquele axioma tantas vezes repetido que diz que “quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece”. Pois tem gente que espera uma vida inteira, e Ele não aparece. Quem não está pronto para ver o óbvio, simplesmente não está pronto; está provado o axioma.

Sim, seria. Talvez eu não tenha muito a acrescentar, sobre certos assuntos sou um tanto limitado, mas sei me comportar muito bem como um atento expectador. : )

É complicado, tem muito maluco hoje na internet falando e propondo as coisas mais bizarras e absurdas, e contanto histórias de como se perdem em meio a suas maluquices, misturando mágia até com politica, vendendo curso e livro e claramente se vê que a pessoa não bate muito bem da cabeça. Eu mesmo frequentei algumas religiões e ordens vi muito simbolismo, muita mistureba, maluquice, gente entrando em transe cantando ópera, falando aquelas “linguas” que ninguém entende , baixando o santo em oração de cura católica kkkk , desmaiando, gente dizendo que ta incorporando Cristo, Exú me prometendo emprego e uma semana depois o templo de ubanda dele foi a falência e eu fiquei 2 anos desempregado, vi pouco resultado prático nessas “fórmulas super elaboradas”, que hoje tenho a tendência de achar que os meios “mágicos” mais satisfatórios são os de limpeza da mente e do corpo e acesso a faculdades profundas da mente que florescem naturalmente do esvasiamento e aumento da percepção, da busca por auto aperfeiçoamento , aumento da saúde! E por não ter tanto trambolho desviando a atenção dos movimentos naturais de poder que fazem parte da natureza, você acaba tendo um “entendimento” e entrando em um transe mais puro e saudável e entrando em processos de aquisição de poder naturalmente( não que sempre vai dar certo), mas pelo menos você concegue enxegar um caminho sem essa loucurada, de aprender um monte de simbolo. Talvez tenha a ver com aquela parada da lei da atração, levar uma vida virtuosa para melhorar suas faculdades orgânicas e assim você se torna mais assertivo na vida. Não acho saudável mergulhar nessa loucurada simbólica e ficar entrando em labirintos , ficar maluco aos poucos, megalomâniaco e achar que é um messias , um anticristo, ou a ressurreição do Crowley

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É sempre adequado separar o joio do trigo, por isso que a espada do magista deve ser bem afiada, quer dizer, seu raciocínio tem que separar bem as coisas. Infelizmente isso parece ser algo para poucos, a grande maioria é formada por gente que não racionaliza essas coisas. Crowley mencionou uma vez que haviam pessoas super competentes em coisas mundanas mas que quando se tratava de magia e do sobrenatural pareciam idiotas.

Hnnn Já dizia o ditado que quem não se senta para aprender nunca se levantará para ensinar. No caso de uma hierarquia do nosso mundo, como a de graus da A.’.A.’. , a justificativa para sua existência é a de que quanto mais alto o grau mais próximo dos Mestres da egrégora o cara está e que ele detém o conhecimento necessário para instruir o irmão. Infelizmente isso é raríssimo. Mas , em teoria, eu acredito que um mestre possa lhe dizer como “chegar” ao Divino, quer dizer, ele pode te ensinar os métodos para isso, como Crowley fez com o Liber O por exemplo. Isso não significa que ele possa te impor, quer dizer ele até pode mas isso não indica que você será bem sucedido.

Se eu ainda não entendi o que você pretendia peço desculpas, eu passo meio que voando no fórum.

Goeticos Nutela é a moda do momento o pessoal gosta de comer filosofias que pregam rapidez de resultados sem muito compromisso.
Crowley pode ter razão mas eu acho o seguinte mexer com sombra ,com o desconhecido ,dizem que usamos 10% da mente e 90% é subconsciente .
Existe um sensor psíquico que impede que lembremos dos sonhos mas isso para evitar que a pessoa entre em parafuso .Já pensou se lembrarmos dos sonhos a ponto de confundir com a realidade ?Nesse caso a pessoa ficaria maluca .
Por isso o psiquiatra puxa do cliente seus sonhos para.resolver seus problemas psicólogicos.
O inconsciente fala por símbolos e fazer magia ,mexer com arquétipos sem orientação pode levar a loucura .
Por isso é interessante pertencer a uma ordem séria ,ter alguém que possa orientar ,para através de determinados rituais e exercícios ter um desenvolvimento equilibrado.
A magia ao alcance de todos é perigosa,pois,a pessoa não pode trilhar um caminho sozinha e evocar forças desconhecidas.
E aí vão tambem pela motivação ,se evoca para ficar rico,para amor,para saúde .
Em vez de seguir o caminho normal as pessoas querem obter resultados rápidos sem esforço .
E assim você vê pessoas procurando mágia até pra achar gatinho sumido!!!
Por qualquer motivo se quer usar magia ,por qualquer motivo fútil.
Mas é a fase do momento ,mudanca de era,muita informação ,pouca responsabilidade ,muita informação falsa e inútil .
A pessoa em vez de estudar ,fazer um concurso e ganhar dinheiro quer pular etapas ,evocar e ficar rico.
Vejo pessoas novas querendo fazer Magia para ter sexo,ou amor ,sendo que tem tudo na mão ,juventude ,saúde ,tempo.
Acredito que o momento é de transicao e isso vai passar.

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Posso tentar ensinar o basilar, isso é aceitável (e poderíamos adentrar numa conversa sobre o que é o “basilar”, mas acho que não estamos com essa disposição toda). Seja como for, no momento em que tento convencer as pessoas de que “sou o caminho a verdade e a vida”, que “ninguém vai ao pai senão por mim”, falhei miseravelmente.

É uma armadinha doce de cair. Travisto de caridoso e benfazejo meu desejo egoico de ser “o mestre iluminado”, de ser importante, de me tornar o instrutor do mundo e dizer o que é certo e o que é errado para meu irmão. Quem de nós nunca se deixou seduzir pela ideia?

Ego – sempre ele querendo parecer um carinha legal.

Às vezes meu pensamento parece meio pernóstico até mesmo pra mim. Eu que me desculpo por isso.

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Mas sabe qual eu acho uma das mais interessantes belezas do Caminho do Mágico?

É que apesar de paradoxalmente ter sido sempre protegido pelo mistério, poderia tranquilamente ter as suas bases descritas sem problemas, já que costuma ser preciso mais do que apenas um manual de instruções até mesmo para se andar de bicicleta.

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@aluvaia Tô rindo aqui com essa sua:

“Seja como for, no momento em que tento convencer as pessoas de que “sou o caminho a verdade e a vida”, que “ninguém vai ao pai senão por mim”, falhei miseravelmente”.

Concordo sim. A situação lembra bastante a letra da música do Raul e Camisa de Vênus 'Muita estrela, pouca constelação".

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Seja como for, no momento em que tento convencer as pessoas de que “sou o caminho a verdade e a vida”, que “ninguém vai ao pai senão por mim”, falhei miseravelmente.

Hnnn acho que a conhecida frase “pelos frutos os conhecereis” é uma boa para refletirmos sobre. Quero dizer, você citou frases que são atribuídas a Jesus, o Logos do Novo Testamento, um personagem do mito que saía curando cegos por aí, fazendo boas obras e interpretando a Torá de uma maneira sensata e humanística. Um homem comum nunca poderá atribuir a si mesmo essas palavras é claro. Quero dizer, um homem - ou mulher - como Jesus - e outros adeptos da Bíblia, dos Vedas etc; - não precisaria convencer ninguém com argumentos. Mas se a frase tiver sido atribuída para alguém que tenta convencer, como você mencionou, então sem dúvidas que estamos falando de um aproveitador e charlatão que falhou no ordálio de “lavar os pés dos irmãos”.

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Sem muito desejar me aprofundar em mitologia hebraica, mas já que o estamos citando, cabe dizer que se Jesus tivesse se mantido estritamente judeu, não haveria cristianismo. No entanto, não foi ele quem criou o cristianismo, mas quem veio depois dele.

Por definição, nenhuma religião nasce perversa. Elas se pervertem pela ambição, e deflagram sua perversão por meio das relações de poder que se estabelecem. Não serei eu quem afirmará se isso é regra ou exceção, mas acho que qualquer um de nós pode ligar a televisão e ver isso acontecer ao vivo diariamente nas famigeradas redes neopentecostais. Assim sendo, acho que a questão não são nem os nossos frutos, mas o que os outros fazem desses frutos.

Meus frutos são meus, pertencem a mim e a mais ninguém. Não poderia ser diferente. Porque, afinal de contas, quem penso que sou? O instrutor do mundo? Quem sabe sonho lograr ser seu redentor? Não. Não eu. A Crística Ordália consiste em vencer o orgulho espiritual. Sigam Buda, sigam Jesus, sigam Mohamed, sigam Crowley, sigam a Lady Gaga, se quiserem; mas a mim, não me sigam. Me segue aquele que faz diferente de mim. Segue meus passos aquele que segue a si mesmo, aquele que é capaz de seguir a voz do próprio coração Secretando o Secreto em Segredo.

Não à toa, em praticamente toda instituição iniciática existem, pelo menos, dois círculos: um externo, o outro interno. O primeiro, é você na autoescola, instrutor te fazendo dirigir de maneira ideal, não te deixando passar de 40 km/h e nem subir marcha além da terceira; o segundo, é você, com chuva, pisca-alerta ligado, tentando estacionar uma Fiorino carburada de ré numa lomba no centro da cidade. Nada te prepara pra isso, e só tem um jeito de aprender: fazendo, errando, insistindo. Não estou desmerecendo a importância do instrutor, mas tenha certeza, o seu carro você vai dirigir do seu jeito, até porque, nem ele não dirige o próprio carro daquele jeito que ele ensina. Você pode ensinar alguém a ler, mas essa pessoa é quem decide o que vai ler, e o que vai falar à sua alma não é nem ela quem decide; é a alma – se é que nos damos ao luxo de crer em tais abstrações.

A doutrina (qualquer que seja), nas mãos daquele que anda em direção à sabedoria, será sempre um apoio, uma diretriz, uma plataforma de onde se lançar para o espaço infinito para além dele. Entretanto, nas mãos do aproveitador, será um grilhão – de seu irmão, mas também, e principalmente, dele. E é como diz o poemeto: “Operárias podem partir. Até o zangões podem ir embora. Mas a Rainha é uma escrava.”

Com isso quero dizer, que mesmo quando bem intencionados, ao criarmos algo do que não possamos mudar de ideia, estamos escravos. Aquele que é seguido não tem o direito de errar, porque da matriz do pensamento dele se alimenta o Universo do seguidor. Imagine Moisés, troteando 40 anos no deserto, suando, assado, arrependido e louco pra voltar pro Egito; mas não. Não podia. Tinha uma galera junto com ele, firme, só por chegar na “Terra Prometida”. Triste.

Eu fora.

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