Magia e Religiões Brasileiras

Abri esta discussão porque vi considerável material que versa sobre o tema disperso por outros tópicos. A intenção é que se possa discutir um tema abrangente fazendo com que as postagens formem um grupo coeso, facilitando seu acesso e evitando o desvirtuamento de outros tópicos. Desse modo, perguntas e respostas pertinentes ao tema proposto podem se aglutinar aqui.

Pessoal, tenho de escrever um artigo sobre transe de possessão (o devoto tomado por um deus ou uma entidade). Peço contribuições como textos, opiniões e análises pessoais, pois gostaria contar com abordagens não puramente antropológicas sobre o tema. Como não passei pela experiência, pessoalmente, tenho muitas reservas quanto à veracidade do fenômeno, e mais quando interpretado pelas religiões. Enfim, como o ocultista de um modo geral lida com a possível existência desse fenômeno? Em que bases sustenta sua visão desses eventos? Qual a explicação sob o ponto de vista thelêmico?

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Grata pela contribuição, Ethar. Reconheço que fui bem vaga em vez de ser abrangente como pretendia. Bem, já que mencionou o termo "crowleyano", há alguma referência na obra de Crowley sobre fenômenos dessa ordem?

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Não seja como boa parte dos membros desse fórum, magicistas de teclado, iluminados de araque, viajantes do plano astral da pornografia e da cultura inútil da internet. Vá a luta e investigue o que esta lá fora. O que não falta por ai são centros de umbanda ,candomblé, Santo daime...Ou exercícios que geram transes nas diversas obras que encontramos por ai com o minimo de pesquisa.

(Comentário removido pelo administrador)

Mais uma vez agradeço, Ethar.

@guerreiro “Vá a luta e investigue o que esta lá fora. O que não falta por ai são centros de umbanda ,candomblé, Santo daime...”

Boa observação, Guerreiro. Considero a pesquisa de campo fundamental, bem como a prática, a experimentação com cautelas. Morei durante três anos dentro de um terreiro e passei outros três visitando os principais centros de Candomblé do país. Fui iniciada há nove anos (como equede - ekeji), sem o que não poderia ter acesso a muitas informações e não teria presenciado muitas cerimônias e rituais, embora eu não “siga” a religião. E essas experiências foram muito enriquecedoras em muitos sentidos.

Agradeço por responder ao post e pela sugestão, Guerreiro. Claro que não tinha como adivinhar, pelo que escrevi, que já fiz essa parte.

@ethar “Para não sair do assunto do tópico: concordo que ela deveria ir atrás em primeira mão, mas isso depende do grau de interesse dela e se ela tem um prazo para produzir o tal artigo. Logo, não há motivo para hostilidade.”

Bastante pertinente sua observação. Pretendo entregar o artigo no fim do mês. Enquanto obtenho a colaboração dos membros deste fórum, escrevo as demais partes e colho depoimentos de alguns sacerdotes e sacerdotisas, bem como de outros membros do culto.

Achei um tópico antigo que pode ser interessante...

http://hadnu.org/discussoes/240-incorporacoes-na-umbanda

Grata, Aluvaia! Lendo.

Pois é, o meu grilo com a chamada “possessão” começa no termo. Não vejo como mecanicamente poderia ser viável. Posso até admitir sintonia em diferentes graus, da inspiração, passando pelo transe e culminando no entusiasmo (do grego em + theos, literalmente "em Deus" ), mas possessão, jamais. Pelo menos, não literalmente.

Creio que um corpo físico seja de tal forma produto da força que o anima que jamais poderia ser “tomado” pelo que quer que seja. Caso contrário, uma pessoa depois de morta, ou em coma, ou dormindo, poderia ser “possuída” por um “espírito” ou por alguma pretensa “entidade”; o que não ocorre.

O que acontece no Candomblé é, na melhor da hipóteses, transe passivo. Existe uma alteração da consciência, ocorre uma manifestação do sub-consciente na qual a pessoa se mostra “em estado bruto”, ou seja, uma expressão da personalidade no estado mais puro, “primitivo” e receptivo. Ela é ensinada a andar, a dançar, a se comportar em conformidade com a Natureza de seu deus pessoal e com a etiqueta vigente no corpo do culto religioso que a está formando.

Pode haver (e é desejável que haja) uma sintonia dela com a egrégora ou arquétipo do deus. E essa sintonia é habitual e facilitada muito principalmente pelo seus estado de transe passivo/receptivo.

E, na pior das hipóteses, o que ocorre é fingimento e auto-engano.

Bem, uma coisa é o artigo; outra são as postagens no fórum. O que disse me remeteu a uma das cenas mais desconcertantes que presenciei. Estive em uma festa para Ogum, em uma renomada casa de Salvador, creio que em 2008.

Antes do início dos cânticos e danças, chegaram ao local duas “vans” repletas de turistas estrangeiros. Mais tarde soube que esse serviço faz parte de um novo costume (não admitido em algumas casas) de pacotes para turistas: parte do lucro é revertida à casa que que aceita tal procedimento.

Mas o que me desconcertou foi o encerramento das cerimônias no barracão (assim chamado o espaço público do terreiro). Havia sete devotos vestidos e paramentados, orixás em terra como dizem, em transe e cujas vestimentas traziam saiotes até a altura dos joelhos. Em um dado momento, eles levantaram seus saiotes com ambas as mãos e começaram, ainda dançando, a percorrer a assistência, que depositava pequenas quantias sobre o tecido assim estendido.

Fiquei atônita, afinal, um deus a pedir dinheiro? Compreendo as necessidades de manutenção de um templo e também a necessidade dos fiéis daquela casa, grande parte pessoas de baixa renda, pois é uma religião muito onerosa.

Os filhos de santo e os visitantes encararam o fato com muita naturalidade: era Ogum trazendo dinheiro e sorte para a casa e, portanto, um gesto simbólico e com outro significado.

Porém, a imagem e suas implicações me levaram a muitas mais reflexões do que já tinha sobre o que há de humano e o que há de “divino” em momentos ditos de transe.

Mas o que espero aqui são os pontos de vista dos demais membros do fórum. Digamos que eu apenas tenha “colado uma figurinha” no meio do tópico. : )

Saudações, !!

Canal do YouTube "Diálogo com os Espiritos", entrevistas com os gênios da Umbanda:

https://www.youtube.com/user/jeffersonviscardi

Cheers,

mercvrivs

https://www.youtube.com/user/jeffersonviscardi

Tenho verdadeira ojeriza por essas entidades da Umbanda. Respeito a religião e aqueles que a praticam, mas confesso que detesto todo esse sincretismo e influência tanto do Catolicismo quanto do Espiritismo.

Não gosto principalmente do que convencionei chamar de “materialismo espiritual”. Não acho que a Natureza seja assim, toda certinha e redondinha. Não acho que existam seres no astral que velem pela gente, não acredito em toda essa hierarquia organizada e toda essa aura benfazeja. Acredito na selva, cada um por si, preservando a si mesmo custe o que custar.

Não me agrada esse intercurso entre planos, essa coisa de Guias, anjo da guarda, “espírito” remido que foi para o lado da luz pra ajudar quem tá vivo. A Natureza e seus mecanismos auto regulatórios são tão impessoais que me custa a entrar na cabeça qualquer circunstância em que Ela se comporte parcialmente em termos de bem e mal, certo e errado...

Ainda falando de Umbanda, gostaria muito de saber de onde saiu toda essa fauna astral que se venera. De onde terá saído dona Fulana da “Catatumba”, Seu Sicrano de Não-Sei-Quantas-Facadas, já que isso não existe nem nunca existiu no culto africano.

É claro que hoje existe (aqui no Brasil, lá não). Tudo que tem nome existe, né? Mas são deturpações.

Direito a criar “deuses” todos temos, mas podíamos ter dado uma refinadinha no prazer.

Mercvrivs, pelo que vi e ouvi, trata-se de uma psicografia feita por um monge taoísta e quem supostamente dita a mensagem é uma entidade chamada Exu Tiriri. Confesso que de Umbanda não conheço muito e nem sabia que os monges taoístas psicografavam entidades de Umbanda. Vou me ater ao conteúdo enviado porque se for saber do taoísmo, aí não termino até o fim do mês.

Mas arrisco (com grande margem de segurança) dizer que esse nome deriva de um cântico do Candomblé com o mesmo nome. A grafia, em iorubá é Èsù ti rírì que, em tradução livre seria algo como Exu tem valor, Exu tem dignidade. Já encontrei muitos trechos de cânticos que acabaram dando nome a “qualidades” de orixás e alguns até sem o menor sentido, especialmente no Batuque do Rio Grande do Sul.

Grata pela contribuição. : )

Aluvaia, novamente agradeço por sua participação. Muito interessante o seu ponto de vista.

Todas as manifestações são bem-vindas, inclusive aquelas que discordem da "política da empresa" ou seja, que não coadunem com as de quaisquer ordens e congêneres. : )

Ah, Faze o que tu queres há de ser tudo da lei. Mas cuidado com os deuses escravos, e as religiões dos deuses escravos. Sem comparação com a escravidão africana (não estou defendendo e nem acusando a escravatura), mas isso deve ser levado em conta sim. (minha opinião, é claro). O alimento deve ser para ti, e não para outro em ti, a não ser se essa for a sua vontade. Lembrei do fato de ao alimentar se dizer a vontade (para quem se come e para o que); e que os seres incorporados fazem exigências ao "cavalo".

Mas o alimento é para ti, não é possível que exista “outro em ti”. Possessão não existe, nem tampouco incorporação. Não tem “cavalo” nenhum.

O que ocorre é um transe a partir do qual se possibilita que aflore um aspecto do subconsciente, e eis que este passa por um filtro sócio cultural pelo qual é moldado.

Mas seja como for, esse aspecto subconsciente é uma parte de nós, é parte virgem da Natureza da gente, livre de preconceitos, livre (até então) da influência dos outros, livre das perniciosidades da razão.

O problema é quando essa pureza toda é maculada pela influência da “autoridade espiritual” dos outros, pelo culto dos outros, pela verdade dos outros. Mas aí não é um problema do fenômeno em si, mas do rumo que se dá à coisa.

Acho que esse tipo de evento, esse íntimo contato com o subconsciente, é uma descoberta valiosa demais para deixar-se cair no esquecimento pela simples falta de conhecimento a respeito, ou pelo má condução da coisa. Acho que isso tudo pode e deve ser aproveitado em prol do auto conhecimento e da emancipação humana.